‘BRT’ da Prefeitura de SP vai concorrer com Metrô na Radial Leste

Parada do BRT Radial Leste
Parada do BRT Radial Leste

A Prefeitura de São Paulo anunciou o início das obras do BRT Radial Leste, um corredor de ônibus com 10 km em sua primeira fase e que ligará a estação Penha do Metrô ao Parque Dom Pedro II.

O projeto, no entanto, já havia sido lançado por administrações anteriores, mas interrompido sem que nenhum trecho fosse concluído.

O corredor custará R$ 389 milhões e pretende “beneficiar” 400 mil pessoas por dia, disse a administração do prefeito Ricardo Nunes (PMDB), sem explicar se esse dado se trata da demanda do serviço.

Se for isso, trata-se de um número “excepcional” já que a Linha 3-Vermelha do Metrô transporta diariamente em média 1 milhão de passageiros, mas tem o dobro do tamanho.

Trajeto paralelo ao da Linha 3-Vermelha
Trajeto paralelo ao da Linha 3-Vermelha

Por falar em Metrô, o “BRT” fará um percurso quase idêntico à Linha 3, aproveitando justamente o eixo da via expressa Radial Leste. Haverá conexões para os passageiros com as estações Belém, Tatuapé e Carrão.

O prefeito chamou ainda o projeto de “primeiro BRT da cidade de São Paulo”, ignorando a existência do subutilizado Expresso Tiradentes, que tem até mais a ver com esse tipo de proposta.

Opinião: mais um retrocesso em mobilidade

“Baratos” e relativamente rápidos de implantar, os corredores de ônibus “gourmet”, chamados de BRT em uma ilusão criada pelo lobby que reúne as empresas do setor, perderam o apelo que tinham na década passada, quando vários sistemas foram construídos.

Passado o frenesi inicial, a maioria deles sucumbiu à problemas como lotação, falta de regularidade, sucateamento, insegurança além de tarifas caras, entre outros fatores.

O resultado não surpreende já que o BRT não passa de uma solução paliativa que não ataca a questão da mobilidade, que é justamente oferecer um serviço rápido, previsível, confortável e seguro.

Parque Dom Pedro II
Parque Dom Pedro II

Para atender esses requisitos é preciso investir pesado em tecnologia, o que corredores de ônibus não têm por uma razão simples: isso faria deles projetos caros.

Imagine segregar completamente vias, criar sistemas de automação dos veículos e implantar um sistema de sinalização integrado, além de tração elétrica, que não polui. Tudo isso colocaria por terra os argumentos defendidos pela indústria ligada a esse setor.

Mas o discurso tem sido o mesmo, ou seja, enumerar “perfumarias” como “portas de plataforma”, informação em tempo real sobre horários de ônibus, pagamento nos pontos e paradas alimentas por energia solar.

Na prática, o BRT vai enxugar gelo, concorrendo com o Metrô já que persiste o custo extra para mudar de modal.

BRT de Curitiba
BRT de Curitiba

Se houvesse um planejamento e estratégia para beneficiar passageiros, a prefeitura seria “sócia” do estado em expandir a malha sobre trilhos.

Em vez de percursos longos de ônibus, a gestão municipal poderia implantar serviços circulares em bairros para levar os passageiros até as novas estações da Linha 2-Verde, por exemplo. E adotar a integração tarifária.

Portanto, ver a prefeitura de São Paulo investir dinheiro em corredores enquanto o sistema de ônibus é um desastre em termos de custo, eficiência e falta de transparência, causa espanto.

Corredores de ônibus são adequados, sim, para pequenas e médias cidades, onde não há demanda suficiente para trens. Não para a maior cidade do hemisfério sul.

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