O Metrô de São Paulo completou 50 anos de operação comercial no dia 14 de setembro. Era o pontapé inicial para a construção de uma rede de trilhos de alta capacidade em São Paulo.
Fazendo uma viagem no tempo podemos ver no retrovisor da história o que poderia ter sido o nosso Metrô: uma rede básica com quatro linhas principais, ramais e operações em Y.
HMD – O começo
Hochtief, Montreal e Deconsult (HMD). Essas foram as empresas do consórcio Teuto-Brasileiro que executaram o projeto diretor da rede metroviária paulista. Nossa primitiva rede de Metrô teria 63,9 km de extensão.
Algumas linhas possuem características bastante semelhantes às que existem hoje. A exemplo da Linha Norte-Sul, implantada com 17 km de extensão entre Jabaquara e Santana.
A Linha 2, anteriormente conhecida como Linha/Ramal Paulista é outra que manteve em essência as características do projeto, que sofreu poucas modificações. O trecho originalmente teria 7,4 km de extensão.
Uma das características marcantes da rede era o “duplo U” formado pelas linhas Noroeste-Nordeste e Sudoeste-Sudeste. A primeira, com previsão de ter 12,9 km de extensão, faz uma ligação de leste a oeste da cidade, mas com foco no atendimento nas posições mais ao norte, ultrapassando o Tietê.

A segunda linha por sua vez faz o oposto. O traçado Sudoeste é bastante semelhante ao da Linha 4-Amarela. O grande traçado, porém, atingiria em cheio o centro da cidade, passaria pela Estação Pedro II e seguiria para o sudeste da cidade na região de Sacomã e Via Anchieta. O trecho original teria 17,4 km, o maior ramal projetado na época.
A operação em Y seria uma realidade nas linhas Norte-Sul e Sudoeste-Sudeste, através de ramais, prolongamentos curtos das linhas originais.
O Ramal Moema é o mais famoso destes, o trecho que teria 4,1 km ainda deixa suas marcas na estação Paraíso e em alguns paineis de informação analógicos do Metrô.
O Ramal de Vila Bertioga atenderia a região da Mooca a partir da Estação Pedro II. O trecho final teria 4,8 km.

O Futuro do Passado
O futuro da Fase II do Metrô de São Paulo previa duas novas linhas e a extensão de todos os ramais existentes. Com base no HMD o site traz alguns destes ramais.
A Linha Socorro-Mooca seria uma espécie de precursora da Linha 5-Lilás. O ramal sairia da estação Socorro da Sorocabana/Fepasa. Seguiria no eixo da avenida Vereador José Diniz, mudaria para a região da Avenida Santo Amaro e Brigadeiro Luiz Antonio. Chegaria na região central se integrando com as linhas Paulista, Leste-Oeste, Norte-Sul e Ramal Vila Bertioga. O ramal teria 23,4 km de extensão.
A segunda nova linha seria a Leste-Oeste que faria o traçado entre Lapa e Penha. Essa versão é bastante parecida com a atual Linha 3-Vermelha, mas com traçado alocado mais ao sul. Se integraria com as linhas Sudoeste-Sudeste, Santo Amaro-Mooca, Norte-Sul, Ramal Vila Bertioga e Linha Noroeste-Nordeste. Sua distância total seria de 16,9 km
Diversas linhas já existentes seriam expandidas. A Linha Norte Sul teria seu prolongamento para Tucuruvi (que foi implantado na prática). No trecho sul o ramal poderia chegar perto do Jardim Miriam. A extensão total seria de 5 km.
A Linha Noroeste-Nordeste poderia ser prolongada no sentido norte atingindo a região montanhosa de Cachoeirinha/Brasilândia e Guarulhos na ponta oposta. O mapa disponibilizado no HMD não permite ver o traçado total das extensões, neste caso consideramos como “conhecido” uma extensão de 7,9 km.

A Linha Paulista teria uma extensão semelhante à da Linha 2-Verde, tanto para leste (Oratório/Vila Prudente) como para oeste, após Vila Madalena. A extensão seria de 10,5 km.
O prolongamento da Linha Sudoeste-Sudeste se daria ultrapassando as barreiras do Rio Pinheiro chegando ao Butantã e para Oeste chegando ao ABC. A promessa do Metrô para esta região também é antiga. A extensão total é de 7,6 km
Os ramais de Moema e Vila Bertioga também seriam prolongados. O primeiro com uma uma curta extensão de 1,5 km integrando-se com a Linha Socorro-Mooca e a segunda com 2,3 km se interligando com a Linha Paulista. Fala-se em prolongamento para a Estrada de Sapopemba no projeto HMD, porém não visível nos mapas.
O projeto HMD previa uma rede básica de pelo menos 139,5 km. Este valor corresponde ao que se pode ver nos mapas. Segundo o projeto a rede seria ainda maior, superando os 200 km de extensão.
Com base nas descrições do projeto, o site fez uma projeção não oficial de extensão das linhas existentes. O resultado final foi uma malha na casa do 180 km de extensão, o que pode indicar que os prolongamentos seriam ainda mais significativos.

Rede Atual
A rede metroviária atual é composta por seis linhas: 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha, 4-Amarela, 5-Lilás e 15-Prata. A rede atual possui 104,5 km de extensão.
Das linhas implantadas a 1-Azul foi praticamente a única que preservou em sua integridade o traçado original proposto pelo HMD. As demais tiveram poucas variações ou foram completamente replanejadas. Atualmente tem 20,2 km de extensão.
Uma das que sofreram poucas mudanças foi a Linha 2-Verde que teve seu trecho prioritário na avenida paulista e foi paulatinamente prolongada ao leste. O ramal tem 14,7 km.
A Linha 3-Vermelha sofreu grandes mudanças. A proposta visou, no princípio, a utilização da faixa de domínio da RFFSA. O traçado foi feito ao lado do terreno federal, atendendo sobretudo a periferia. O ramal hoje tem 22 km de extensão.
A Linha 4-Amarela perdeu seu prolongamento sudeste e foi construída apenas na diretriz sudoeste, com pequenas modificações no traçado para atender as regiões mais dinâmicas da cidade. Hoje ela ultrapassa e muito o Rio Pinheiros, constituindo-se como ligação importante para a região oeste da metrópole. Hoje tem 12,8 km
A Linha 5-Lilás foi a junção de projetos elaborados pela Fepasa e Metrô. O ramal de Campo Limpo (Linha G da CPTM) foi construído pela estatal ferroviária e repassado ao Metrô. Este por sua vez estudou uma nova diretriz de traçado, semelhante ao proposto no HMD, mas interligando-se às linhas 1-Azul e 2-Verde. Atualmente possui 19,8 km de extensão.
A Linha 15-Prata não estava prevista diretamente no HMD, mas, se considerar a extensão do Ramal Vila Bertioga no sentido Estrada de Sapopemba pode-se deduzir que esta demanda mapeada corresponde em parte ao traçado do atual monotrilho que possui 14,7 km de extensão.

Rede Futura
A rede futura que está sendo construída é composta por seis novas linhas e quatro expansões planejadas, totalizando 168,8 km de novos trilhos.
As expansões preveem o prolongamento da Linha 2-Verde para Guarulhos (15,4 km), Linha 4-Amarela para Taboão da Serra (3,3 km), Linha 5-Lilás para Jardim Ângela e Ipiranga (7,4 km) e 15-Prata para Hospital Cidade Tiradentes e Ipiranga (11,3 km).
As novas linhas, em implantação e projeto são a 6-Laranja entre Velha Campinas e São Carlos (20,7 km), 16-Violeta entre Oscar Freire e Abel Ferreira (15,8 km), 17-Ouro entre Jabaquara e São Paulo-Morumbi (17,4 km), 19-Celeste entre Guarulhos e Anhangabaú (17,5 km), 20-Rosa entre Santa Marina e Santo André (30,9 km) e 22-Marrom entre Sumaré e Cotia (28,6 km);
A malha futura e a atual somadas geram 273,3 km de trilhos metroviários.

O Metrô acertou?
Se compararmos a rede do HMD com a rede atualmente implantada podemos perceber que o Metrô de São Paulo amadureceu bastante, sobretudo no que se refere ao atendimento aos extremos da cidade.
A rede inicial de Metrô se limitava muito às regiões mais centrais da cidade. Claramente, esta rede reflete a realidade dos anos 60 onde as regiões periféricas estavam se desenvolvendo.
O Metrô de São Paulo conseguiu implantar uma malha com ainda mais potencial do que aquela proposta anteriormente.

O futuro não é fixo
Isso não significa que o HMD é um projeto de menor peso por conta de seu atendimento não contemplar as periferias. Os estudos de malhas futuras envolvem diversas variáveis.
Por isso existem constantes revisões de traçados. Cada linha vai evoluir de determinada forma conforme as mudanças socioeconômicas e populacionais de cada região da cidade.
O HMD conseguiu, em sua época, prever tendências de deslocamentos que se mantém até os dias de hoje, mostrando seu altíssimo grau de pesquisa e síntese de informações.
As novas linhas que surgiram na cidade são frutos da transformação urbana e da própria implantação do Metrô que por si só modifica a lógica de transportes existentes, possibilitando ocupações mais longínquas com menor custo.

Conclusão
Cinquenta anos depois podemos dizer que São Paulo não tem uma malha pequena, tão pouco desprezível. Nossa malha atual consegue atender perfeitamente o que podemos chamar de “Rede Básica”.
Porém, como o próprio nome diz, a Rede Básica é apenas o primeiro passo para estruturar uma rede complexa com múltiplas conexões, destinos e distâncias. O Metrô de São Paulo caminha para a sua “Fase II”.
Nesta “Fase II” as linhas deverão finalmente passar as fronteiras da cidade de São Paulo. Essa malha já está sendo delineada e algumas dessas linhas estão com projetos avançados.

Podemos dizer que o pontapé inicial dessa malha de segunda geração são as linhas 16-Violeta, que deverá reforçar o atendimento às altas demandas da Zona Leste, 19-Celest,e que reforçará o atendimento na região norte e Guarulhos, e a 20-Rosa, que atenderá eixos econômicos importantes da cidade com uma ligação perimetral até Santo André.
O futuro desta malha depende, principalmente, da vontade política. Mais do que isso, de planejamento ordenado e coordenado por uma entidade centralizada. O Metrô se prestou a esse papel ao longo de 50 anos e tem, por parte da população, o voto de confiança de que um exitoso plano metroferroviário surja ao longo dos próximos 50 anos.