Veja os detalhes do contrato entre CPTM e CENTRAL para recuperação do sistema ferroviário fluminense

Série 4000 na Estaçaõ Maracanã (Rogério Santana)
Série 4000 na Estação Maracanã (Rogério Santana)

O recente contrato firmado entre a CENTRAL e a CPTM para recuperar o degradado sistema metropolitano gerido pela Supervia é visto como uma oportunidade inovadora para a estatal paulista aplicar sua expertise por uma causa de grande importância.

Como de costume, o site foi além e buscou um detalhamento desta contratação. Nesta matéria será possível ver não somente as atribuições da CPTM no processo de recuperação da malha fluminense como também o cenário de “terra arrasada” deixada pela concessionária vinculada à acionistas japoneses.

Rede ferroviária de passageiros da RMRJ (GERJ)
Rede ferroviária de passageiros da RMRJ (GERJ)

O contrato

A CPTM prestará serviços para a CENTRAL com o objetivo de fornecer dois produtos distintos. O primeiro deles visa a elaboração de um denso orçamento que contemple a contratação de serviços de operação e manutenção do sistema ferroviário da RMRJ.

Já o segundo produto visa a elaboração de um orçamento para a estabilização do sistema ferroviário com base em um ampla planilha de pendências deixada pela operadora privada.

Os produtos a serem entregues deverão prever um orçamento para cenários distintos. Serão elaboradas planilhas para um cenário de 12, 24 e 60 meses, bem como o atendimento a amplas faixas de demanda, estabelecidas em 300 mil, 480 mil e 660 mil passageiros diários.

A definição das faixas cronológicas e de demanda poderão trazer um resultado mais efetivo para os serviços, possibilitando uma aferição clara para uma tomada de decisão assertiva.

Termo de referencia (GERJ)
Termo de referencia (GERJ)

Produto 1

O primeiro produto deverá conter não somente o orçamento, mas a planilhas de cálculo incluindo mão de obra, materiais, contratos terceirizados e demais insumos relativos à operação e manutenção de diversas áreas do sistema ferroviário. São elas:

  • Operação de Estação;
  • Operação de Centro de Controle;
  • Operação dos Trens;
  • Manutenção de Material Rodante;
  • Manutenção de Via Permanente;
  • Manutenção de Sistemas Elétricos;
  • Manutenção de Sinalização Ferroviária;
  • Manutenção de Telecomunicações;
  • Manutenção Predial;
  • Manutenção de Equipamentos Auxiliares;
  • Segurança Operacional e Patrimonial;
  • Limpeza de Estações e Trens;
  • Tecnologia de Informação;
  • Energia Elétrica de Tração.

Os serviços contemplam praticamente a totalidade de ações que permitam a zeladoria e a atividade das operações ferroviárias. Será utilizado com base nos modelos e padrões operacionais da CPTM, com ajustes para uma adequação ao cenário encontrado no Rio de Janeiro.

Cabe citar que a CENTRAL poderá ser consultada pela CPTM para prestar esclarecimentos adicionais que permitam refinar o projeto final a ser entregue pela estatal paulista.

Os cargos e as funções, bem como as atribuições de cada pessoal no quadro de funcionários deverá estar devidamente descrita dentro do plano orçamentário.

CPTM entregará dois produtos (CPTM)
CPTM entregará dois produtos (CPTM)

Produto 2

O segundo produto é uma orçamentação para a “estabilização” do sistema ferroviário do Rio de Janeiro. A CPTM deverá executar uma planilha orçamentária com a quantidade de serviços e insumos detalhados em material enviado pela CENTRAL.

A valoração de alguns itens poderá ser mais complexa. O termo de referência estabelece análises especiais para produtos importados, detalhamento de mão de obra incluindo encargos trabalhistas, custos por hora e mês e equipamentos além do BDI (Benefícios e Despesas Indiretas). O BDI envolve administração, seguros, garantias, riscos, benefícios e tributos.

Sistema Ferroviário

De forma resumida, o sistema ferroviário do Rio de Janeiro é composto por cinco ramais e três extensões operacionais com 270 quilômetros de extensão e 430 quilômetros de via permanente implantada.

Quantidade de trens operacionais na Supervia (GERJ)
Quantidade de trens operacionais na Supervia (GERJ)

Atualmente são transportados 300 mil passageiros diariamente em 136 trens operacionais de uma frota de 201 composições, representando um índice de 60% de disponibilidade operacional. O sistema possui 104 estações.

A Supervia hoje disponibiliza 554 viagens equivalentes a uma oferta de 1,1 milhão de lugares nos dias úteis.

Oferta de trens (GERJ)
Oferta de trens (GERJ)

No seu auge, a operadora já chegou a transportar 908 mil passageiros por dia em 1984. O valor atingiu a mínima histórica em 1998 com a estatal Flumitrens transportando 156 mil passageiros.

A operadora privada obteve sucessivos aumentos de passageiros transportados, mas que nunca chegaram aos níveis da CBTU. Em 2017 houve uma estagnação econômica no Rio de Janeiro e a pandemia praticamente jogou o nível de passageiros para o período pré-2002.

Histórico de demanda (GERJ)
Histórico de demanda (GERJ)

Estabilização

A lista de itens que necessitam ser instalados e comissionados no sistema gerenciado pela Supervia é vasta, o que mostra o descompromisso com a qualidade e segurança dos passageiros.

Elencamos os principais itens a serem repostos no sistema ferroviário do Rio de Janeiro

Sistema de Sinalização

  • 162 Bondes de Impedância
  • 48 Circuitos de via
  • 21 Cabines de sinalização (recuperação e construção)
  • 22 sinaleiros
  • 32 relés de proteção de sinalização
  • 64 km de rede de fibra ótica

Via permanente

  • 14,7 km de lastro contaminado (recomposição)
  • 676 toneladas de novos trilhos
  • 40 AMVs (substituição)
  • 22,1 mil dormentes novos

Rede de energia

  • 88 km de cabos de cobre (alimentação sinalização 4,4kV)
  • 21 postes de concreto

Subestação

  • 11 transformadores (revitalização)
  • 5 disjuntores extra-rápidos (remoção e troca)

Material rodante

  • 224 rodeiros forjados (novos)

Cabe citar que a lista acima é apenas um resumo da tabela completa disponibilizada pela CENTRAL. No informativo constam mais itens com diversos níveis de complexidade de importância.

Ressalta-se ainda o fato desta lista ser referente ao plano de estabilização, ou seja, a manutenção das condições mínimas de segurança operacional e confiabilidade do sistema. Isso está longe de ser uma garantia de que o sistema voltará a ter boas condições de uso.

Recuperação do sistema ferroviário

A recuperação do sistema ferroviário da Região Metropolitana do Rio de Janeiro não será tarefa fácil. As condições atuais da ferrovia requerem atenção e um plano de ação integrado que devem ir além das disciplinas ferroviárias.

Um exemplo é a questão da segurança pública, uma das grandes fragilidades do sistema. O aumento da quantidade de vandalismos, roubos e furtos de materiais inviabilizada, em muitas situações, as tentativas de estabilização operacional dos ramais.

A Supervia, atual operadora, está em graves condições financeiras, podendo evoluir para um estado de plena falência. Diante desse cenária uma intervenção do estado, por mãos próprias ou por meio de parcerias com o setor privado, podem sustentar a frágil situação dos trilhos fluminenses.

Fato é, será necessário tempo, investimento e um amplo plano de revitalização e reeducação para que o sistema de trens metropolitano no Rio de Janeiro possa atingir um nível de qualidade adequado aos passageiros e funcionários.

 

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