As tentativas de políticos interferirem na nomeação de estações de trens e metrô em São Paulo nunca se esgotam. Não importa o partido, há sempre algum parlamentar que confunde estação com rua ou avenida e acha que é uma boa ideia mudar sua denominação.
A mais recente infelicidade nesse sentido envolve a estação Guarulhos-CECAP, da Linha 13-Jade da CPTM. Desde 2019, o deputado Jorge Wilson ‘Xerife do Consumidor’ (Republicanos) propõe rebatizá-la como “CECAP – Mamonas Assassinas“, em virtude da banda de rock cujos integrantes faleceram num trágico acidente aéreo em março de 1996.
Segundo a Assembléia Legislativa, o projeto 460/2019 avançou na Comissão de Transportes e Comunicação em sessão realizada na terça-feira, 6. Ainda será preciso a aprovação de outras comissões antes de ser votada em plenário e passar pelas mãos do governador Tarcísio de Freitas.
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Tarcísio pode vetar o projeto, mas não será surpresa se ele aprovar a homenagem proposta por um integrante do seu próprio partido. O atual governador, inclusive, aderiu a esse tipo de iniciativa ao acrescentar o nome da professora Elisabeth Tenreiro à estação Vila Sônia, da Linha 4-Amarela, alguns meses após assumir o cargo.

Referência de localização aos passageiros
Este site é totalmente contra o uso de nomes de estações para homenagens, sejam elas quais forem e mesmo feitas com o gesto mais nobre. Não é uma crítica às personalidades escolhidas, muitas das quais merecem batizar equipamentos públicos, mas não estações.
Políticos infelizmente não conseguem (ou não querem) entender que a denominação de estações é um trabalho técnico e não palco para imortalizar personagens.
Para escolher os nomes são feitos estudos de toponímia, que analisam aspectos históricos, econômicos e sociais do entorno desses lugares. O objetivo é utilizar a denominação que mais faça sentido para ajudar os usuários a localizarem seu destino.

Pegue-se um exemplo prático, a estação Clínicas, da Linha 2-Verde do Metrô, que fica ao lado do hospital de mesmo nome, um complexo de saúde gigantesco e para onde se dirigem milhares de pessoas todos os dias.
Não faltam médicos importantes que dirigiram o hospital em todos esses anos, porém, nem por isso o Metrô resolveu “homenagear” um deles na estação. Em vez disso apenas o termo “Clínicas”, de fácil memorização e referência.
Apesar disso, várias gestões cometeram erros em rebatizar estações com nomes de personalidades, times de futebol e políticos, num desserviço enorme a esses lugares.

E o próprio Metrô passou a fornecer um pretexto ao vender o direito de acrescentar marcas a algumas estações, os chamados “naming rights”, numa clara confusão com o aspecto de utilidade do transporte público.
Com tantos maus exemplos, não será surpresa se os Mamonas Assassinas passarem a fazer parte do dia a dia da Linha 13-Jade. Não importa que a região foi onde eles cresceram, não se trata de uma informação útil à população.
Se estivessem vivos, talvez os próprios músicos fizessem humor com o fato, como era comum em sua curta, divertida e inesquecível carreira.