Em maio, Metrô e CPTM receberam apenas 0,2% da receita arrecadada com tarifas

Concessionárias privadas praticamente esgotaram recursos advindos do convênio de integração operacional e tarifária. Situação deverá se agravar com entrada da LinhaUni em 2025
Trens da CPTM e do Metrô (Jean Carlos)

O modelo de partilha dos valores arrecadados com a cobrança de tarifa no sistema de transporte de São Paulo chegou a um impasse gravíssimo. Criado em 2005, o Convênio de Integração Operacional e Tarifária reuniu a SPTrans, Metrô de São Paulo, a CPTM e posteriormente as concessionárias ViaQuatro, ViaMobilidade Linhas 5 e 17, LinhaUni e ViaMobilidade Linhas 8 e 9,

O objetivo foi centralizar a arrecadação tarifária após a integração operacional e assim operar uma câmara de compensação para dividir os recursos entre os participantes. No entanto, o governo do estado estabeleceu uma regra que concedeu prioridade às concessionárias privadas, pela ordem de adesão ao convênio. Ou seja, o dinheiro recebido nas bilheterias e ônibus, além de repasses dos sistemas de bilhetagem como o BOM e o BU são pagos primeiramente à SPTrans, que realiza o repasse às viações de ônibus.

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O restante é gerenciado pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos, que então repassa o valor devido à ViaQuatro, a primeira concessionária do tipo em atividade, depois à ViaMobilidade (linhas 5 e 7) e desde o começo do ano, para a ViaMobilidade, que assumiu as linhas 8 e 9 da CPTM.

Só então o saldo é distribuído para o Metrô e CPTM, controlados pelo poder público. A questão é que esse esquema está cada vez mais penalizando as operadoras ligadas ao governo já que a arrecadação praticamente não cobre os valores de direito pelo que cada operador transportou. Como os contratos de concessão determinam pagamentos pela quantidade de usuários transportados, as concessionárias têm mecanismos jurídicos para cobrar a diferença

Já Metrô e CPTM, por outro lado, estão perto de ficar sem receber qualquer centavo pelo serviço prestado já que a entrada da ViaMobilidade Linhas 8 e 9 praticamente “secou” a fonte de recursos tarifários, agravada ainda pela queda na demanda de passageiros após a pandemia do Covid-19 e pela tarifa do transporte congelada há quase três anos – o último reajuste ocorreu em janeiro de 2020 e que foi de apenas 2,33%.

A divisão de receitas tarifárias: Metrô e CPTM recebem cada vez menos

ViaQuatro recebe R$ 1,60 por passageiro acima da tarifa do transporte

Dados obtidos por este site revelam que em maio deste ano, restaram para o Metrô e a CPTM um valor de apenas R$ 1,2 milhão na partilha dos valores arrecadados, ou 0,2% do total geral, de R$ 544 milhões. A SPTrans abocanhou R$ 329 milhões, ou 60% do montante, enquanto a ViaQuatro ficou com R$ 64 milhões (12%), a ViaMobilidade (Linhas 5 e 17), R$ 40 milhões (7,5%), e a nova integrante, a ViaMobilidade Linhas 8 e 9, R$ 109 milhões (20%).

A equação usada pela gestão estadual para pagar as concessionárias prevê o pagamento de uma tarifa de remuneração por passageiro transportado. Esse valor não está associado à tarifa do transporte e por isso não sofre com medidas políticas como a que levou ao congelamento dos reajustes ao público. Com isso, a disparidade entre o que o sistema cobra do cidadão e o que as empresas privadas recebem só aumenta.

Estação da Linha 4: ViaQuatro recebe R$ 6,00 por passageiro transportado, mas tarifa cobrada pelo governo é de R$ 4,40 (ViaQuatro)

A situação mais grave envolve a ViaQuatro, que opera a Linha 4-Amarela desde 2010. Somente nos últimos cinco anos, a concessionária viu a tarifa de remuneração aumentar em quase 50%, pulando de R$ 4,04 em 2017 para R$ 6,01 em 2022.

Em outras palavras, cada usuário que embarca num trem da Linha 4 hoje causa um prejuízo ao erário público de R$ 1,60. Somente em maio, essa defasagem significou um custo extra de cerca R$ 23,7 milhões, se calculado pelo número de viagens no ramal.

LinhaUni entrará no bolo em 2025

O quadro se tornou tão complicado que o Metrô e a CPTM pleitearam uma ajuda emergencial do governo a fim de equilibrar suas contas. Após uma longa discussão entre vários atores, a Secretaria de Transportes Metropolitanos assinou um convênio com as duas empresas que visa o repasse de recursos financeiros para o que foi chamado de “recomposição da receita tarifária, em decorrência dos impactos das operações das linhas metroferroviárias concedidas à iniciativa privada na arrecadação das companhias”.

Em suma, uma “mesada” mensal que cobrirá os valores que deveriam ser bancados pelo convênio criado em 2005. O abismo financeiro, no entanto, só tende a crescer à medida que novas concessionárias como a LinhaUni (que irá operar a Linha 6-Laranja a partir de 2025) entrem na divisão do bolo.

Tuneladora da Linha 6-Laranja: início de operação da LinhaUni vai ampliar o rombo nos transportes sobre trilhos (iTechdrones)

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25 comments
    1. Não ficará, ele já é insustentável. Essa tarifa da linha 4 só mostra o real interesse nas concessões: transferência de recurso público pra iniciativa privada, que de iniciativa não tem nada.

  1. Qual a novidade?

    nenhuma!

    cansei de escrever sobre isso aqui neste site e em outros.

    o serviço concessionado é muito mais caro que as estatais e a conta ia chegar rápido com o crescimento das concessões.

    isso prova que nossos “gestores” só estão preocupados em fazer negociatas e entregar dinheiro publico nas mãos de empresas “amigas”

    1. Exatamente. Tb cansei de dizer que as concessões acabam sendo mais caras. Mas quando a gente se coloca contra ou ao menos questiona, somos rotulados de comunistas ou “amante” de estatais.

      A conta não demorou a chegar.

  2. Não é por falta de aviso. O governo sabe disso. O modelo atual de concessão é insustentável. Com a concessão da Linha 7 e da Linha 6, não haverá mais recursos para pagar o Metrô e CPTM. E se o plano de concessão total for colocado em prática, será necessário remanejar recursos de outras áreas, já que, hoje, Metrô e CPTM ficam no prejuízo, mas as futuras concessionárias não aceitarão ficar.

    A redução do Estado que os governantes tanto defendem, vai acabar levando ao aumento do Estado em decorrência desse modelo.

    Pra se pensar.

    1. na verdade isso é um grande mito, a diminuição do estado. é o pretexto usado para privatizarem o serviço público e injetar dinheiro público nas mãos dos empresarios parceiros das autoridades.

      todo serviço público é atribuiçao do estado, seja ele gestão direta ou indireta. o estado é o responsavel e quem financia.

      a gestão indireta aumenta muito mais o tamanho, o custo, a burocracia e a ineficiencia do estado. em todas as areas. isso já foi mais do que provado, há artigos e estudos sobre isso.

      essas concessionarias funcionam nos mesmos moldes das estatais para o estado, com diferença que há um contrato que rege o serviço. e esse contrato muitas vezes favborece a empresa privada em detrimento do estado, sem contar o lucro e o retorno sobre investimento muito mais alto que o praticado no mercado.

      quem banca tudo isso é o estado. o estado é muito rico. só o estado de SP teve arrecadaçao recorde em 2021 de 285 bilhoes de reais. e é nesse montante que estão de olho.

      para eles não é interessante que as contas públicas sanadas. não é interessante que o imposto pago pelo contribuinte seja bem gerido e possa retornar em serviços de otima qualidade ao cidadao. o interessante é sempre ter serviços executados por empresas privadas, para favorecer a empresa de alguem. seja a CCR, o grupo ruas, a tejofran, a gocil, MPE, dentre tantas outras q sempre estao trabalhando para o governo , e sempre financiando o caixa 2 dos partidos.

      quem defende o privatsimo do serviço público defende a corda que enforca seu pescoço.

      infelziemente tem gente que defende esse modelo porque acredita nessa história de estado minimo. outros porque tem raiva do servidor público, por causa de meia dúzia de servidores da elite, que ganham um abusrdo e pouco produzem para a sociedade, como juizes, procuradores, servidores de gabinete, etc. quem defende esse modelo nem eles sabem explicar o que defendem.

      1. o Estado vai cuidar muito bem do dinheiro do povão çim, amiguinho, pode confiar çim!! os politicos estadistas são super competentes e honestos com nosso dinheiro, acreditem!!!!!!!!

  3. Foram os técnicos da Cia. do Metropolitano que propuseram esse modelo lá em 2003 quando foi estudada a PPP da Linha 4. Se o modelo está com problemas, ele pode ser aprimorado, não extinto como propõem os colegas estatistas acima.

    CPTM e Metrô possuem problemas graves de gestão que a arrecadação tarifaria mascarava. Agora que a máscara caiu, terão de corrigir todos os problemas.

    1. Que problemas de gestão? Receber 0,2% da arrecadação? Cadê a tal competência da iniciativa privada? Que distribuam pelos passageiros transportados, vamos ver se a CCR vai gostar. Porque é só a CCR que ganha as tais concessões.

    2. o cinismo é impressionante!

      vc é defensor ferrenho da câmara de compensação. já escreveu diversas vezes aqui defendendo o modelo. agora diz que o modelo deve ser revisto e que a culpa é do metrô?

      a extinção que defendemos não é da câmara de compensação. é das concessões. o transporte público de SP não necessita de concessões.

      os problemas graves de gestão de CPTM e METRO, que eu até concordo, é fruto da politicagem do partido que governa o estado há 30 anos, o qual você defende ferrenhamente (se é que não faz parte) . vc fala como se fosse um problema da empresa em si.

      defendo a gestão direta do estado sim, tenho problema nenhum nisso. não se diminui o tamanho do estado privatizando a gestão, muito pelo contrário, visto que as concessionarias funcionam como “estatais” do ponto de vista organizacional, com a diferença que elas são portas abertas para corrupção e para gastos excessivo e massivo de dinheiro público, com contratos mal feitos, benesses de todos os tipos, aditivos , reequilíbrios financeiros, dentre outras bizarrices que a “iniciativa” privada carrega, sem contar a obrigação de fiscalização e toda burocracia jurídica que um contrato possui.

  4. O governo repassando o dinheiro do custo de operação para a CPTM e Metro da na mesma, a ordem dos fatores não altera o produto.

    1. Dá diferença sim amigo. Você contribuinte vai ficar suando pra pagar a escola do seu filho e os boletos e a carga tributária gigante enquanto os engravatados da CCR mandam os filhos deles estudarem em Harvard e passar o natal em Paris. Para e pensa né.

  5. E vai continuar assim até que as ” Privatizadas” não consigam mais ou operar. Quando acontecer o governo estatiza novamente, reergue as empresas “com dinheiro público” e privatiza novamente.
    E o público, que paga por todo esse prejuízo, aplaude de pé e diz: Privatiza que melhora.

    1. Exato colega. Foi assim com a light que depois virou Eletropaulo com investimento pesado do estado, para depois doar para algum amigo. Lembrando que na época da privatização em 94, prometeram enterrar toda a fiação de SP em 10 anos. Em 2004 receberam mais 10 anos de prazo e como se vê nada fizeram. A iniciativa privada só quer maximizar os lucros sem risco algum. No caso do metrô/CPTM é a mesma coisa. Pagam menos direitos e salários por jornadas maiores de trabalho só quem ganha são os diretores e gerentes com bônus gordos graças a bondade do estado.

  6. Mas o povo não ama o PSDB do entrega tudo?

    Agora, paguem por isso.

    Vai ficar a mesma bola de neve dos onibus…onde o Estado terá que subsidiar e vai ficar cada vez mais alto…

    Se for assim, era melhor revogar tudo e voltar para o Estado….

  7. Pessoal já olhou a lista de gratuidades no sistema metroviario e ônibus, acaba tornando o sistema de transporte insustentável financeiramente. Um exemplo bem claro se vc pegar o subsídio dos ônibus era 900 milhões antes do passe livre 9 anos depois passe livre tá quase 6 bi de subsídio

  8. Bem feito, agora quero ver eles achando culpados pelo prejuízo financeiro, esses do metrô nem falaram das naming rights pois deve ser culpa desse acordo que deixou muita gente revoltada por manchar os nomes das estações originais do metrô. Agora aguenta a culpa e se não está bom demitam esse presidente da companhia pois só está fazendo a empresa de mal pra pior e cancelem essa poluição visual já, nos passageiros cansamos de sermos enganados por promessas e parem de dependerem do governo do estado.

  9. Duas coisas que os críticos das concessões deviam saber antes de se posicionar contra elas. A primeira eh que a falta de correção inflacionária das tarifas e a queda de passageiros não eh culpa da concessão das linhas ferroviárias. A segunda coisa q precisa ser esclarecida aqui eh q a tarifa média paga a Via Quatro Amarela eh bem menor do que esses 6 reais descritos na matéria, mesmo com o subsídio pago pela queda de passageiros e com a correção inflacionaria devida ao longo do tempo.

    Pois bem, o governo não gasta um valor absurdo pela operacao da linha 4, e para sabermos isso eh só fazermos uma conta simples de matemática. Vejam, na tabela apresentada na matéria, a VIA 4 recebeu 64 milhões no mês de Maio pelo serviço de operação. Se pegarmos esse valor e dividirmos pelos 600 mil passageiros/dia q a linha transporta ou deveria transportar chegamos ao valor médio de 3,55 reais por passageiro. Um valor médio bem menor do que os 6 reais descritos na matéria, e próximo ao valor de 3,30 que a companhia CCR divulgara ao mercado este mês em seu balanço trimestral. Portanto, não há custo excessivo de operação, façam a conta vcs mesmos.

    1. Meu caro “PPP”, sua reflexão foi interessante, mas precisamos considerar alguns dados. Em maio a ViaQuatro embarcou 14.873.240 passageiros, o que em tese significaria uma receita de R$ 89,4 milhões. Como você observou, ela recebeu R$ 64 milhões, o que dá uma receita média por usuário de R$ 4,33, praticamente o valor da tarifa para o passageiro. Em abril, essa média foi menor, de R$ 4,13. Por outro lado, o repasse da câmara de compensação aparentemente não é equivalente ao total devido à concessionária, que inclusive também solicitou compensações financeiras ao estado. Por fim, o intuito deste artigo é mostrar que a arrecadação tarifária está sendo engolida pelo modelo de pagamento aos operadores. Se esse modelo é sustentável a longo prazo ou mesmo vantajoso em comparação um serviço 100% estatal, será preciso aprofundar os estudos. Abraços!

  10. Na foto, uma dobradinha de composições da CAF: série 8500 da CPTM e frota H do Metrô-SP.
    Andei nas duas.

  11. Nossa, como era bom as greves abusivas repetidas vezes ao longo do ano, a linha 8 cheia de ambulantes sujos e agressores, as plataformas imundas de toda CPTM.
    Colocar dinheiro no que funciona deve incomodar, só pode.
    Corrigir/melhorar, nem pensar. Os dinossauros serão nossa salvação!

  12. Caros colegas, sem cerimônia o modelo entregue pelo governo para essas PPPs é bem enxuto para o estado e da margens de lucro para elas além de que em caso como a queda na arrecadação o estado acaba “bancando o prejuízo”. Está claro que há erros crácios neste tipo de concessão. Nao vi nenhum tipo de investimento grande o que é o carro chefe em se pensar em concessão. A retirada da mão do estado e do dinheiro público para o privado nos mesmos moldes. Infelizmente o aumento tarifário é o ideal para corrigir essa defasagem. Já estamos a algum tempo pagando o valor atual. Onde moro pago este mesmo valor a vans caindo aos pedaços que embora me deixem em casa estão 70% longe de serem transportes novos, c manutenção, com ar condicionado e outras modernidades nas linhas como vem ocorrendo recentemente (exemplo linha 11 coral que vem diminuindo o seu tempo de percurso ){estudantes/luz}.

    Entendemos que o modelo adotado precisa passar por revisão para que todos ganhem o seu e mantenha o nível de serviço pois sejam eles públicos ou não tem seu cofre e seus investimentos necessários a fazer para que o serviço não tenha problemas. Sem ele, teremos uma segunda linha 8, 9 mas não por erros alheios e sim erros por falta de reposição de peças e por falta de mão de obra nas obras necessárias que vão dinheiro para contratar terceirizados. Precisamos de novos líderes no governo do estado. Que o atual mais do mesmo vá controlar os trens com seus filhos em casa pois há tantos anos no poder junto com os demais governadores mostraram sua ineficiência no segmento ou falta de peito para propor melhorias e fazer que elas sejam acatadas!

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