Vitrine de administrações passadas, os corredores de ônibus do Rio de Janeiro têm sofrido com problemas de manutenção e regularidade do serviço. A situação dos BRTs, como passaram a ser chamados, levou o governador do estado, Wilson Witzel, a afirmar nesta semana que estuda substituí-los por linhas de monotrilho. É o caminho inverso a que o governador de São Paulo, João Doria, tem insinuado fazer em relação à Linha 18-Bronze de metrô.
Embora ainda não tenha descartado o monotrilho, Doria tem dito em entrevistas não ser favorável ao modal e que até junho será apresentada “a solução” para o projeto, que hoje está parado sob o pretexto de falta de verbas para desapropriações. E a alternativa do governo seria justamente um BRT “de alta velocidade e alta capacidade”, ignorando o fato de que para isso será preciso alargar as vias por onde o corredor passaria de tal forma que muitos imóveis poderiam ir ao chão. Sem entrar na questão do impacto urbanístico de um corredor movimentado como esse no entorno da região.
Witzel, ao contrário, defendeu o monotrilho por ser um modal em uso em vários países e citou inclusive a Linha 15-Prata paulista. Para ele, o sistema pode ter uma implantação mais fácil e oferecer um transporte mais veloz e de qualidade para a população, embora tenha sido muito otimista ao crer que seria possível construir 200 km nos próximos dois anos.
Relutância sem respaldo
O projeto do monotrilho do ABC Paulista, embora defendido pela sociedade, tem sofrido com um aparente descaso do governo do estado desde que foi licitado, em 2014. A obra, que deveria contar com repasses do governo federal, acabou não recebendo nenhum centavo. Mais tarde, por conta de uma nota baixa do Tesouro Nacional, São Paulo não teve autorização para pleitear empréstimos para as desapropriações. Quando o assunto foi finalmente resolvido, as gestões de Geraldo Alckmin e Márcio França não conseguiram financiamentos, seja com bancos estrangeiros, estatais ou privados.
Ao mesmo tempo, brotaram ideias de políticos da região defendendo a mudança para o corredor de ônibus, supostamente mais veloz de construir, mas esquecendo propositadamente de que um novo projeto, seja ele qual for, demandará um recomeço do zero. Além é claro do dinheiro público jogado fora após anos de estudos para implantação do monotrilho.
São Paulo está prestes a cometer um erro histórico se o governador Doria realmente bancar um BRT como solução paliativa para os problemas de mobilidade do ABC. Ignora-se por que existem tantos defensores do uso do ônibus na região, mas parece que esse lobby é bastante forte para convencer a atual gestão a trocar um sistema de metrô por algo que, como se vê no Rio de Janeiro, pode trazer mais problemas do vantagens para a sociedade.
