Na edição desta terça-feira, 04, do Diário Oficial do estado, no suplemento Legislativo, aparece um trecho de um veto da Assembléia para o projeto de lei nº 1235 de 2014 que propunha batizar o pátio de manutenção Oratório, da Linha 15-Prata, com o nome do jornalista Hélio Ribeiro, falecido em 2000. É apenas um de vários vetos a tentativas de rebatizar estações e outros endereços do Metrô e CPTM por deputados estaduais de diversos partidos.
A prática já é conhecida de longa data e também envolve vereadores da Câmara Municipal de São Paulo que tratam estações como meros logradouros, dos quais já é tradição, se desdobram em “homenagear” em mais uma das inúteis iniciativas que esses políticos costumam fazer – uma outra famosa é criar datas comemorativas. Felizmente, a maior parte desses projetos de lei acaba morrendo nas próprias casas legislativas, mas mesmo assim ocupam tempo que poderia ter sido utilizado em temas mais importantes para a população.
Pegue-se o caso da tentativa de mudar o nome do pátio Oratório do monotrilho, de autoria do então deputado estadual Orlando Morando (PSDB), hoje prefeito de São Bernardo do Campo, e que tem apoiado a troca da Linha 18-Bronze pelo corredor de ônibus ‘BRT’ proposto no ano passado pelo governo Doria. Segundo uma pesquisa no site da Assembléia Legislativa, o projeto de lei ficou mais de um ano tramitando e contou inclusive com voto favorável do relator, o tucano Fernando Capez, que presidiu a casa.
Qual a utilidade de acrescentar ou mudar um nome de uma área técnica do Metrô da qual praticamente ninguém se refere? Claro que nenhuma. Mas mais grave é buscar alterar nomes de estações, mesmo que pelas melhores intenções. Como já abordamos neste site, a tarefa de batizá-las cabe apenas às áreas de planejamento do Metrô e da CPTM, que buscam com isso apontar uma denominação que facilite a localização dos passageiros e tenha de fato relação com o entorno.

Na mesma edição do Diário Oficial, encontramos outros projetos de lei que tentaram sem sucesso alterar nomes. Veja:
- Projeto de lei 902/2015 (Carlão Pignatari): propõs trocar o nome da estação Bresser-Mooca (Linha 3) para “Juventus/Bresser” (vetada)
- Projeto de lei 1262/2014 (Carlos Neder): propõs trocar o nome da estação Faria Lima (Linha 4) para “Largo da Batata” (vetada)
- Projeto de lei 1333/2014 (Luiz Cláudio Marcolino): propõs trocar o nome da estação Grajaú (Linha 9) para “Santa Cabrini” (vetada)
- Projeto de lei 1626/2015 (André Soares): propõs trocar o nome da estação Vila Mariana (Linha 1) para “Enéas Tognini-Vila Mariana” (vetada)
- Projeto de lei 43/2016 (Luiz Fernando T. Ferreira): propõs trocar o nome da estação Água Branca (Linha 7) para “Nacional-Água Branca” (vetada)
Vale lembrar que o deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT) tem sido citado com frequência na mídia por defender o projeto da Linha 18-Bronze, o que confirma que o mal costume de rebatizar estações atinge qualquer ideologia. A proposta do político, aliás, pretendia colocar o antigo time de futebol do Nacional, cujo campo fica na região da Água Branca, na mesma condição de outros clubes mais famosos que passaram a ser citados nos nomes das estações.
A mesma intenção, deduz-se, ocorreu no projeto de lei que pretendia acrescentar o tradicional Juventus à estação da Linha 3-Vermelha por conta da proximidade do estádio da Rua Javari. Mas o clube já consta de outra estação, a Juventus-Mooca, da Linha 10-Turquesa.
Outro caso famoso listado acima é do deputado André Soares, que anos atrás, tentou acrescentar o nome do fundador da igreja Batista do Povo, falecido aos 101 anos em 2015, à estação Vila Mariana da Linha 1. No entanto, o religioso não possuía qualquer relação com o bairro da Vila Mariana.

Novas tentativas
Os projetos de lei citados são antigos, mas isso não significa que não existam novas tentativas de interferir no trabalho do Metrô e CPTM. Em março deste ano, o deputado José Américo (PT) sugeriu que o nome da estação Liberdade (que já foi mudada para Japão-Liberdade recentemente) passasse a ser “Japão – Liberdade – África”, certamente por conta do fato de no passado a região onde fica a estação da Linha 1 ter sido um local de tortura e execução de escravos negros.
Aqui não se discute a importância de lembrar desses tristes fatos, mas é justamente o uso da denominação de estações para essas homenagens que é completamente impróprio. Mais oportuno seria, sim, propor áreas fixas na estação para contar a história do bairro, hoje mais conhecida pela colônia oriental. Como se vê, há atitudes mais oportunas e educativas do que se intrometer num assunto que não cabe a políticos.