Em meio a uma falha elétrica grave na sexta-feira, 23, a Linha 15-Prata se deparou com uma situação atípica, o desprendimento de um pequeno pedaço da borda da viga por onde o monotrilho se apoia.
A lateral afetada se localiza numa emenda entre duas vigas-trilho, que são fabricadas e içadas sobre os capiteis que as suportam, portanto, o pequeno trecho de ligação é concretado in loco. Imagens obtidas por este site mostram que o estado desse “fechamento de pilar”, como é chamado, aparenta ter passado por algum tipo de reparo.
A viga em questão está localizada na altura do número 4.951 da Avenida Professor Luiz Ignácio de Anhaia Mello, no sentido Vila Prudente da Linha 15 e entre as estações Oratório e São Lucas. Esse trecho do monotrilho foi aberto em abril de 2018, mas só passou a operar em horário comercial no final daquele ano.
Uma montagem feita com imagens do Google Street View parece mostrar que a emenda já apresentava algum sinal de infiltração desde 2015, formando uma mancha escura que persistia até junho de 2017. Numa foto registrada pelo serviço Maps em dezembro daquele ano, o local aparece limpo, o que é constatado em outra imagem de melhor qualidade em julho de 2018. No ano seguinte, no entanto, já é possível perceber o que parecem ser pequenas trincas na borda.

Vale lembrar que o Consórcio Expresso Monotrilho Leste (CEML), responsável pela obra das vias, realizou retificações sobre as vigas em diversos pontos após o incidente de fevereiro de 2020, quando um pneu de um trem estourou após ter contato com “run-flat”. As oscilações apresentadas pelo monotrilho podem ter sido uma das causas do rompimento, mas até hoje o Metrô não divulgou um laudo preciso sobre o problema.
Fato é que parte do concreto aplicado cedeu, o que pode causar preocupações aos passageiros do monotrilho, já “vítima” de inúmeras acusações infundadas sobre sua viabilidade. Mas afinal o problema é grave a ponta de colocar a operação em risco?
Na opinião deste site, não. A ocorrência merece enorme atenção do Metrô seja quais foram as causas – um trabalho mal executado anteriormente ou algum dano extraordinário ainda não identificado, entre outras hipóteses.

Projeto executivo restritivo
Basta um olhar atento, no entanto, para notar que a borda rompida está distante da área de contato do pneu do monotrilho, como mostra a ilustração acima.
Como explicado, as emendas das vigas-trilho são feitas após o lançamento dessas estruturas pré-fabricadas. Há todo um processo de preparação para isso já que as vigas têm passagens internas de cabeamento necessário para o trem funcionar. Elas também devem obedecer ao fenômeno de elasticidade das vias, causados por fatores externos como a temperatura.
Por isso é bastante exagerado imaginar que essas estruturas poderiam simplesmente desmoronar sem qualquer motivo. Como mostram materiais técnicos do Metrô, o trabalho de fechamento é feito com a mesma especificação de concreto das vigas, que “com FCK (Resistência Característica do Concreto à Compressão) de 50 Mpa (Mega Pascal) com a utilização de aditivo superplastificante para se chegar ao abatimento de 210±20mm, devido à alta taxa de armação dos fechamentos“, diz um documento da companhia.

Em suma, trata-se de padrão extremamente seguro para evitar qualquer tipo de problema durante a operação já que as vigas têm durabilidade calculada em 100 anos. “É necessário lembrar que se está trabalhando neste momento com a via permanente do monotrilho, ou seu ‘trilho’ e, deste modo, devem ser tomadas todas as medidas que atendam os parâmetros de tolerâncias do projeto executivo, que são muito mais restritivas do que as tolerâncias de uma obra civil comum“, explica uma apresentação feita pelo Metrô detalhando o processo de fechamento das vigas da Linha 15.
As vigas-trilho da Linha 15 possuem 69 cm de largura em média enquanto o gabarito da Linha 17-Ouro, originalmente definido pela fabricante Scomi, da Malásia, é de 80 cm. Resta entender por que o fechamento em questão apresentou um desgaste em suas bordas de forma tão precoce.
Assim como trilhos apresentam fissuras e problemas e concreto ou asfalto de corredores de ônibus se despreendem, a viga-trilho também está sujeita a problemas, mas diante do ineditismo do monotrilho no Brasil, é imprescindível que o Metrô monitore o ramal com mais atenção.
A Linha 15-Prata operava normalmente neste domingo, 25, segundo informações do Metrô.