Como ficará a promessa do candidato João Doria de levar o metrô para o ABC?

Durante a campanha eleitoral, atual governador assumiu o compromisso de tirar a Linha 18-Bronze do papel. Agora, gestão dá indícios de que ramal seria inviável
Linha 18-Bronze: processo de arbitragem (VEM ABC)

Num domingo de setembro de 2018, o então candidato a governador João Doria (PSDB) seguiu para o município de São Bernardo do Campo para participar de um comício com seu padrinho político, Geraldo Alckmin, afastado do cargo para concorrer à presidência da República. Entre várias promessas do alto do palanque, Doria afirmou sem pestanejar: “A Linha 18 do Metrô vem sim para o ABC. É compromisso” (veja abaixo a partir de 0:06).

O vídeo com a declaração ainda pode ser visto em seus perfis em redes sociais, além de ter sido citado no programa de governo e constar de reportagens da época. Embora promessas eleitorais sejam constantemente quebradas pelos políticos no Brasil, chama a atenção nesse caso o fato de Doria ainda buscar se diferenciar da classe política mais tradicional.

Nas palavras do governador, ele é um “gestor”, o que se subentende alguém mais preparado para fazer de São Paulo um estado mais eficiente. Gestores também são conhecidos pela admiração e respeito de sua equipe e clientes (nesse caso, eleitores), reconhecimento que se constrói com várias atitudes, entre elas a de cumprir promessas.

Infelizmente, João Doria parece não estar preocupado com isso. Mal assumiu o governo, o tucano mudou o discurso em relação à Linha 18-Bronze, obra de monotrilho cujo contrato foi assinado em 2014 e que já deveria estar pronta. Confrontado com vários imbróglios deixados pelo seu padrinho, Doria e sua equipe têm buscado desconstruir o projeto original. No seu lugar surgiu a alternativa do BRT, o corredor de ônibus segregado que ganhou espaço justamente pela incapacidade de gerir uma obra complexa como a de uma linha de trem. De quebra, a linha de ônibus custa menos e pode se encaixar em um mandato de quatro anos para ser feita. A decisão, se é que ela realmente ainda não foi tomada, deve ser anunciada em junho.

Desqualificando os próprios projetos

Embora seja unanimidade entre especialistas como solução definitiva para a mobilidade, a linha de metrô é um tabu no Brasil. Nos últimos cinco anos, apenas quatro ramais novos foram abertos, além da extensão de outros. Pelo seu impacto, exige estudos profundos e muitas vezes demorados além de uma negociação longa e desgastante para desapropriar terrenos necessários para sua implantação. Sua construção não é menos custosa já que o setor é conhecido por ser contaminado por diversas empresas dispostas a negociações espúrias para vencer licitações, como nos mostrou a operação Lava Jato.

Ou seja, o corredor de ônibus passou a ser uma aposta eleitoral de baixo risco: é mais barata, rápida e apoiada pelo lobby das viações de ônibus, hoje já bastante envolvidos com a política. Diante desse cenário, não são poucos os sinais que maximizam supostos problemas do monotrilho e se minimizam limitações do BRT. Um deles diz respeito ao valor das desapropriações, de cerca de R$ 600 milhões em números atuais, ignorando o fato de que grande parte da área necessária para a implantação do monotrilho ser do próprio governo.

A mais recente tese contra a linha de metrô surgiu em artigo publicado pelo jornal O Estado de São Paulo na semana passada que ouviu uma fonte dentro da gestão Doria. O funcionário teria dito que a demanda para a Linha 18 é pequena a ponto de não compensar a obra. Segundo ele, o movimento diário seria de 220 mil passageiros, menos que os 340 mil previstos pelos estudos do próprio governo – embora incluindo aí o trecho entre o centro de São Bernardo do Campo e o bairro de Alvarenga e que foi suprimido do atual projeto.

A concessionária VEM ABC, no entanto, afirma justamente o contrário. Na sua visão, a Linha 18 deve atingir uma demanda até maior do que o previsto, acima de 400 mil usuários por dia. A justificativa é que linhas de metrô atraem público e valorizam o entorno, promovendo uma ocupação maior nas proximidades – e com isso ampliando o volume de passageiros.

Ademais, desmerecer os estudos da Linha 18-Bronze é subestimar a capacidade de centenas de profissionais do próprio governo e que se debruçaram sob o projeto por anos.

Alckmin durante anúncio da Linha 18: padrinho político de Doria prometeu e não cumpriu. Será que atual governador também irá pelo mesmo caminho? (GESP)

Entre a cruz e a espada

Destravar a linha de metrô no ABC não é uma tarefa fácil. Por uma conjunção de fatores, o empreendimento perdeu sua janela de execução, seja por falta de dinheiro para desapropriações ou porque o decreto que as garantia ter vencido no final do ano passado. O fracasso da gestão Alckmin em implantar duas linhas de monotrilho também pesa muito contra a Linha 18, mas até aqui o grande culpado tem sido o próprio governo. Tanto a Linha 15 quanto a Linha 17 foram lançadas sem que houvessem os devidos estudos e projetos para sua execução.

Outra grave irresponsabilidade de Serra e Alckmin foi tratar o monotrilho como uma linha convencional. Não era o caso. Embora funcionando em algumas cidades pelo mundo, o sistema só agora está ganhando espaço como modal de transporte de média capacidade. Existiam inúmeros aspectos inéditos em sua implantação como a construção das vias, testes do trem, portas de plataforma e do sistema de sinalização. Teria sido coerente lançar uma linha pioneira e que servisse como laboratório para comprovar sua eficácia antes de licitar outros ramais.

Mas a pressa eleitoral atropelou qualquer planejamento e hoje vemos uma situação delicada. A Linha 15-Prata lentamente tem passado a operar de forma rotineira, mas não sem que incidentes, alguns deles graves, aconteçam. Quanto à Linha 17, o resultado é patético. Como faz com regularidade, o governo contrata empresas sem ter garantias de que elas cumprirão com o proposto. São incontáveis os casos de contratos quebrados após anos de lentidão mesmo apelando para – ou talvez por conta da – a Justiça brasileira, outro garantidor de problemas nas obras públicas. Para completar o desastre, o edital de licitação permitiu que toda uma solução nova fosse vencedora, incluindo trens e vigas-trilho diferentes das usadas pela linha Prata.

Nada disso, no entanto, justifica a quebra de uma promessa, como parece insinuar Doria. Promessa essa que não é só do atual governador, mas de seus antecessores que há pelo menos uma década juram de pés juntos que o metrô chegará ao ABC Paulista.

Não dá mais para mentir para a população: se o monotrilho não é viável que se abra uma nova licitação para uma linha de metrô convencional, mesmo que isso signifique mais atrasos. Optar pelo BRT será um erro duplo ao investir em algo que a população já deixou claro não desejar e postergar ainda mais a promessa de levar os trilhos até a região. Afinal, é disso que se trata um “compromisso”.

Atualizado às 7h30 de 20 de maio: A Secretaria dos Transportes Metropolitanos enviou uma resposta vaga sobre nosso questionamento a respeito da promessa sobre a Linha 18-Bronze na noite da sexta-feira (17). “A Secretaria de Transportes Metropolitanos (STM) está empenhada em desenvolver as melhores alternativas para aprimorar o transporte à população do ABC. Os desafios já apresentados envolvem uma série de ações não realizadas por governos anteriores e que exigem desta gestão a elaboração de uma estratégia para que os recursos, não previstos no orçamento de 2019, sejam disponibilizados”, diz a nota que sugere que a atual gestão está em busca de dinheiro, mas sem esclarecer exatamente com que intuito.

BRT: modal se encaixa no calendário eleitoral, mas não é o que a população espera há tantos anos (Breno Pataro/PBH)

 

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5 comments
  1. Excelente texto Ricardo, meus parabéns.

    Na minha opnião, a decisão pelo lixo do BRT já está tomada faz muito tempo, o que estamos presenciando é apenas um jogo patético de cena…
    Em relação a João Doria já sabemos que a palavra desse cidadão não vale nada, vide quando ele deixou o cargo de prefeito de SP para se candidatar ao governo, sendo que o mesmo garantiu que não faria isso
    .
    O mais ridiculo é que muitos, tanto é que esse esse idiota venceu as eleições, acredita nesse marketing barato e idiota de ser “gestor”, gestor só de for dos interesses pessoais de seus “miguxos”,e pior ainda tem pessoas que acham o máximo a frase patética de “acelera SP”, coisa ridícula, imbecil demais.
    Não gosto desse “ser” nem como político e nem como pessoa, pois quando era um mero apresentador de TV, era pura arrogância.

    Enfim, lamento muito pelo pessoal do ABC que vai ter que engolir uma merda de corredor de ônibus com nome bonitinho….

    1. Meu caro, pior… O ABC já conta com um corredor de ônibus muito do eficiente, não há motivos para se ter OUTRO.
      É uma catástrofe esse “gestor”

    2. Felipe quando estiver teclando no teclado do computador pare de vomitar bobagem voce não conheçe o gov. para falar tanta besteira ão contrario de voce eu adoro o gov e vamos levar o metro ate a estrada do alvarenga la em diadema acelera são paulo

      1. E você aprenda usar vírgulas, até agora nunca tinha te ofendido. ai você vem aqui falar que eu “vômito”,aprenda a escrever primeiro meu caro, toda vez que você posta é a mesma coisa, fica algo totalmente incompreensível.
        Não tenho culpa que você tem como o governador “gestor”, idolatrar político é o fim da picada…
        E se você acha que ele não é arrogante, pega alguns vídeos na época que ele apresentava ” O aprendiz” e veja por si mesmo.

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