CPTM 30 anos: sua importância e perspectivas

Apesar de ter seu futuro ameaçado, a companhia demonstra que ainda tem fôlego para melhorar a viagem de milhões de passageiros
CPTM 30 Anos (Jean Carlos)

A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) completa neste sábado (28) seu aniversário de 30 anos de fundação. A empresa estatal criada para assumir o sistema ferroviário na região metropolitana de São Paulo teve papel fundamental no desenvolvimento urbano da capital e cidades circunvizinhas.

Para o passageiro que todos os dias utiliza o sistema ferroviário como principal forma de deslocamento, talvez seja mais um dia de rotina. A CPTM já está intrinsecamente integrada à sociedade paulistana como um dos modos preferenciais de transporte pelas cidades que compõem a região metropolitana.

Ao longo de mais de 150 anos, os trilhos cortaram os territórios inexplorados e fizeram aflorar pequenos povoados, hoje grandes cidades com independência de dinâmica próprias. 

Histórico

As três ferrovias principais que consolidaram a malha sobre trilhos no estado foram a São Paulo Railway, a Estrada de Ferro Sorocabana e a Estrada de Ferro Central do Brasil. Cada uma delas inserida em porções diferentes do território e com evoluções bastante particulares.

A Ingleza, a primeira ferrovia do estado, foi concebida como um dos mais audaciosos empreendimentos implantados na época do Brasil Império. Seu grande sucesso ao ligar o litoral, passando pela capital e atingindo o interior fez com que sua importância, até os dias de hoje, seja reconhecida, tanto pelos passageiros, quanto pelas operadoras que transportam cargas importantes por este eixo estratégico.

Antigas companhias ferroviárias (Jean Carlos)

A Central por sua vez teve uma forte ligação com o Vale do Paraíba e com o Rio de Janeiro. Propiciou por muitos anos ligações diretas com a antiga capital do Brasil e poderia ser considerada como um dos principais eixos de transporte do país. A central estendeu ramais e desenvolveu a Zona Leste e os municípios do Alto Tietê. A presença dos trilhos na região leste foi fundamental para o crescimento e ocupação daquele território.

A Sorocabana, por fim, surgiu no trecho entre São Paulo e Sorocaba. Após a retificação do Rio Pinheiros abriu-se a possibilidade de criar uma segunda ligação ao litoral. Da mesma forma como nas outras ferrovias, o trecho oeste foi responsável por semear os embriões das grandes cidades e pólos industriais que se formaram por consequência da facilidade logística propiciada pela ferrovia.

Ao decorrer dos anos as empresas crescem e chegam ao inevitável período de crise. Foi neste momento que o governo estadual e federal tomaram as rédeas da situação. Tanto a Rede Ferroviária Federal como a Fepasa tiveram papel fundamental na continuidade dos serviços e no desenvolvimento de novos serviços.

Composição da série 1700 na extensão da Linha 7-Rubi (Jean Carlos)

A concepção do trem para o transporte massivo de passageiros como era feito no Metrô foi se desenvolvendo ao longo dos anos 70 e 80. A Fepasa foi a primeira a implantar de fato um trem com semelhanças ao Metrô e tirar de vez as velhas e carcomidas composições dos trens de subúrbio. O investimento tecnológico fez com que a região oeste de desenvolvesse.

A CPTM

Nos anos 90 grandes mudanças ocorreram. O transporte sobre trilhos, antes secundário, passou a ser tratado como solução principal de mobilidade. O estado de São Paulo também esteve envolvido neste processo e para dar continuidade aos serviços de passageiros, bem como unificar toda aquela malha desconectada, foi criada em 1992 a CPTM.

A CPTM assumiu as linhas da CBTU em 1994 em estado precário. O trem perdera o brilhantismo e se tornara antro de vândalos e drogados. Local de explícita violência e sujeira, tempos de trevas que vez ou outra ressurgem à mente. A Fepasa, já mais bem cuidada, foi assumida em 1996, mesmo assim haviam grandes desafios pela frente, sobretudo na melhoria da futura linha 9.

Trem da série 5400 que operou nos tempos da Fepasa (Jean Carlos)

Durante os anos que se seguiram, a CPTM colocou em prática planos para a recuperação da malha ferroviária. O processo de dinamização da Linha Sul e o Expresso Leste foram dois pontos atacados de início. O resultado: depois de 30 anos elas são consideradas as linhas com maior movimento no sistema ferroviário.

A reforma da frota foi uma atividade constante. O PQMR 1 e o PQMR 2 (Plano Quinquenal do Matrial Rodante) promoveram a reforma de diversos trens, trazendo-os a uma condição melhor. A revisão geral dos trens e as modernizações tiravam aos poucos a característica precária dos trens de subúrbio.

A chegada de novos trens, como os da série 2000 e 2100 devam fôlego novo à ferrovia. O projeto Integração Centro, implantado parcialmente, teve resultado além do esperado e hoje as estações de Luz, Brás e Barra Funda desempenham papel essencial na integração Leste-Oeste na metrópole.

A reconstrução de estações, a compra de novos trens com tecnologia e sistemas mais modernos trouxeram a CPTM para o século XXI. Ao longo de todos os anos de experiência, a companhia pode colocar em prática todos os conhecimentos adquiridos ao elaborar a sua primeira linha, a 13-Jade.

Estado da arte da CPTM: Série 2500 frota exclusiva da Linha 13-Jade (Jean Carlos)

A atual gestão tem se esforçado em trazer modernidade para a companhia, digitalizando processos, simplificando a operação e inovando através de várias ações de destaque, como o serviço 710 que trouxe facilidade para a população.

O início do fim?

É impossível falar dos 30 anos da CPTM sem fazer uma ressalva: será o início do fim da companhia? O que pode soar como um balde de água fria na realidade é algo que, desde o início da companhia vem sido cogitado. O repasse das linhas para a iniciativa privada, política de governo nas últimas gestões, tem sido intensificado e finalmente ganhou corpo. A concessão das linhas 8 e 9 antecipa um movimento que ameaça a existência da estatal nos próximos anos.

O que se coloca aqui não é um julgamento de valor em termos de qualidade, mas uma desconstrução da imagem que a companhia lutou para obter, que vem sofrendo um desgaste ao longo dos anos.

Internamente, anestesiada e vendo sua infraestrutura ser reduzida, a CPTM tem motivos de sobra para comemorar seu passado, mas também motivos evidentes para se preocupar com seu futuro.

Composição da série 2100 baixada em Presidente Altino (Jean Carlos)

O iminente fim do serviço 710 pode ser uma prova clara de que a construção de uma malha ferroviária unificada pode estar, aos poucos, saindo de cena. Apesar de veementemente negada, processos como a concessão da Linha 7-Rubi deixam mais do que claro que o serviço será descontinuado. Um fato irônico que prejudicará milhares de passageiros.

Apesar da incerteza de futuro, o que se vê nos funcionários da estatal é uma força de vontade de mostrar que sim, a CPTM é pioneira e continuará na dianteira no desenvolvimento e modernização do sistema sobre trilhos.

Água para o vinho

Apesar da impressão negativa que até hoje carrega, durante os últimos 30 anos a CPTM transformou o sistema sobre trilhos da água para o vinho. Sair da precariedade absoluta para um sistema de qualidade que, apesar de seus defeitos pontuais, está a anos luz do que era, é fruto de uma série de fatores.

Investimento massivo é uma das chaves do negócio. O governo do estado injetou dezenas de bilhões de reais na modernização da estrutura. Sinalização, via permanente, rede aérea, estações, trens e recursos humanos ganharam corpo. O investimento bem alocado e gerido com responsabilidade é capaz de gerar grandes transformações.

Pensamento unificado é outro ponto bastante notável. O sistema sobre trilhos não deve ser visto como um amontoado de linhas com traçados distintos que cumprem itinerários diferentes. É a integração e interação dessas linhas que gera uma verdadeira teia de mobilidade na Grande São Paulo. A CPTM reforçou esse pensamento e hoje é integrada aos mais diversos serviços, inclusive com o pioneirismo ao adotar as bicicletas ao ciclo de mobilidade.

Estação Brás (Jean Carlos)

Também ficaram pelo caminho nessas três décadas vários projetos ambiciosos e que acabaram engolidos pela burocracia estatal. Modernizações como a adoção de sistemas de controle mais eficientes e que reduziriam os intervalos ou a reconstrução de estações hoje precárias foram deixadas de lado, apesar do consumo de recursos financeiros em projetos não implantados ou então mal começados.

Essa dificuldade em colocar em prática certas ações acabou dando munição para que as gestões estaduais iniciassem estudos para repassar a malha para a iniciativa privada. Como a experiência inicial ruim da ViaMobilidade nas linhas 8 e 9 mostra, a tarefa não é simples.

Os 30 anos da CPTM marcam um período de mudanças e reflexões. O futuro é incerto, mas o será sobre os trilhos. Parabéns aos ferroviários que dedicaram e dedicam seu esforço para a mobilidade de milhões de pessoas todos os dias.

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13 comments
  1. Não acho que a CPTM está desgastada, o Metrô é bem mais antigo e está aí até hoje, a verdade o que está desgastada mesmo é o governo do PSDB que já deu o que tinha que dar tá na hora de nova administração no governo de São Paulo.

  2. Desde sua criação até hoje a CPTM foi tratada como empresa de segunda classe pelo estado Desde a estadualização do metrô (em 1979) o governo do estado sempre privilegiou a Cia. do Metropolitano com mais recursos, projetos e ações e a CPTM ficou com sobras (salvo uns poucos períodos não consecutivos de investimento entre 1998 e 2010).

    Por falta de recursos, a CPTM não consegue manter suas linhas com a qualidade necessária e vive períodos de investimento e degradação por falta de manutenção. Em 2021 a CPTM tinha apenas 9 funcionários de manutenção por quilômetro de linha enquanto a Cia. do Metropolitano tinha 32 funcionários de manutenção por quilômetro de linha.

    O ideal seria a unificação das empresas estatais que realizam a mesma função, para que os recursos sejam distribuídos de forma mais equilibrada. Afinal de contas a sociedade que financia o Metrô é a mesma que financia a CPTM.

    1. Para rolar unificação das Cptm e Metrô teria que primeiro fazer o investimento necessário, no mínimo tirar os trens de cargas dos trilhos e cobrir todas estações com telhado (não apenas só no canto da plataforma), para aí sim poder fazer a unificação

  3. Concordo com o Valmir em genero, número e grau, o que está desgastado não é a CPTM e sim o PSDB que tem que sair da administração do governo de São Paulo, o quanto antes, entrando um outro partido e outro governador, com investimentos a CPTM ela poderá ser muita mais eficiente e muito e muito melhor de que uma certa concessionária privada que entrou agora para administrar duas linhas e que somente promete melhoras na operação das linhas e que não consegue nem andar com as próprias pernas, e que inclusive pediu ajuda estes dias para quem???? nao espalhem, espelhem sim para a CPTMMMMMM, que vergonha para esta concessionária, pedindo ajuda com maquinario, peças sobressalente e se bobiar até mão de obra especializada, pois o dinheiro que ela tem para investir nos proximos anos, nao compra e expertise da CPTM e nem a experiência que seus funcionários adquiriram nos decorrer dos anos…
    Vida longa a CPTM

    1. Entenda o problema da cptm, é usar os mesmos maquinarios em várias linhas, com isso a concessão da L8 e L9 deixou a concessionária sem ter o que fazer ,eles ainda não tem os maquinarios necessários pra fazer Manutenção dos trilhos e da rede aérea, alem de que deram trens velhos e com revisão vencida , É só fazerem a concessão da L7 direitinho que não terá problema nenhum (começando pelos trens Série 9500 que serão da concessionária)

  4. Boa tarde, a todos. Bom, já diziam os cantores Duduca e Dalvan, em um trecho de uma das músicas deles, que aliás, é atualíssimo: quando entrar o fulano, sair o ciclano, será bem melhor…. Por isso minha gente, não se iludam. Isso aqui, é Brasil. Desde os primórdios tempos, é assim: corrupção, inveja, ignorância, hipocrisia. Aqui, é terra sem lei, sem futuro.

    1. Foram milhares de funcionários embora das linhas 8 e 9 e o estado tá nem aii pra isso ,o futuro de todas linhas é ter operação automática, sem maquinistas

  5. O próprio governo e os gestores da empresa cuidaram por manchar a imagem da empresa. Valorização de pessoas e serviço nota 0. Só quem está aqui sabe como é….

  6. Adoro como o blogueiro desse site tranca os comentários quando as opiniões são contra o que ele acredita. O post da CCR, onde todo mundo está falando o óbvio (que a concessão foi um desastre) teve rapidamente os comentários trancados pra não criar polêmica né?

    1. Não, meu caro Carlos, os comentários são fechados após três dias de forma automática. E pelo jeito você não passa muito por aqui porque há vários artigos criticando tanto CPTM quanto ViaMobilidade. Não vão faltar outros posts sobre esse assunto para você colocar sua opinião. Amanhã mesmo teremos um. Abraços.

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