Fim da Linha 18-Bronze vai custar ao menos R$ 347 milhões ao bolso do contribuinte

Governo do estado e sócios da extinta concessionária do ramal de metrô celebraram acordo amigável após anos de disputa

Projeção mostra a Linha 18-Bronze (VEM ABC)
Projeção mostra a Linha 18-Bronze (VEM ABC)

A conta do abrupto cancelamento da Linha 18-Bronze, que ligaria ao ABC Paulista à rede metroferroviária, chegou e beira os R$ 350 milhões.

Na terça-feira, 13, a Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI) e os sócios da extinta Concessionária do Monotrilho Linha 18 Bronze (VEM ABC) assinaram um acordo de indenização pelo cancelamento do contrato de concessão.

O valor negociado foi de R$ 273.526,873,00 com data-base de abril de 2023 e que será corrigido pela SELIC até a data do efetivo pagamento, ou seja, em 12 de junho. Atualizado até esta semana, o valor chega a quase R$ 347 milhões, segundo cálculo do Banco Central.

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Estações da Linha 18-Bronze (VemABC)
Estações da Linha 18-Bronze (VemABC)

O acordo amigável ocorre após anos de discussões na Câmara de Comércio Brasil-Canadá, que intermediava um processo de arbitragem iniciado em 2020 pela concessionária.

Em abril do ano passado, no entanto, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) e a VEM ABC decidiram iniciar negociações diretas em vez de esperar pela decisão da arbitragem, que já sinalizava que o governo do estado deveria indenizar a empresa.

Dois meses atrás, os dois entes anunciaram um acordo dentro do processo de arbitragem, mas os detalhes não foram divulgados à época.

A concessionária chegou a exigir o pagamento de mais de R$ 1 bilhão pelo fim da concessão de 25 anos alegando “lucros cessantes”. O estado, por outro lado, tentava convencer a equipe de arbitragem que o contrato nunca havia sido efetivado. Mais tarde apenas contestou laudos e cálculos, já prevendo que perderia a questão.

O governdador João Doria nas instalações da Metra semanas antes de cancelar a Linha 18 (GESP)
O então governador João Doria nas instalações da Metra semanas antes de cancelar a Linha 18 em 2019 (GESP)

Promessa vazia do ex-governador João Doria

O fim imbróglio acontece poucas semanas antes de serem completados seis anos desde que o ex-governador João Doria (à época no PSDB) anunciou o fim da Linha 18-Bronze, na primeira vez que um projeto metroviário foi cancelado já contratado e estudado.

Em julho de 2019, o tucano veio à público para anunciar que o ABC Paulista, uma das regiões com a pior mobilidade urbana do estado, ganharia um corredor de ônibus em vez de uma linha integrada com a malha metroferroviária.

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O “BRT-ABC” surgiu das mãos da Metra, operadora do Corredor ABD e de propriedade de um influente grupo empresarial de São Bernardo do Campo. A proposta era implantar um corredor no mesmo trajeto da Linha 18 como contraponto à extensão por mais 25 anos da concessão.

Doria pintou o BRT como “milagroso”: seria barato, rápido de construir e tão capaz quanto o monotrilho. A realidade, no entanto, é decepcionante.

Trecho do corredor BRT-ABC em obras (iTechdrones)

Em seis anos, a obra segue em ritmo lento, a despeito do projeto simplório, o valor subiu e até hoje ninguém no governo assumiu o compromisso de oferecer a integração gratuita entre os ônibus e os trens, como ocorreria na Linha 18-Bronze.

O pior mesmo ficou com a população, que usará um transporte mais lento (viagem 60% mais demorada na melhor das hipóteses) e ainda terá que bancar os R$ 350 milhões, afinal o dinheiro não sairá do bolso de quem criou o problema.

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Paulo
Paulo
1 mês atrás

Parabéns famoso jornalista, você conseguiu o que queria, sua empresa do coração vai continuar tendo a hegemonia na região. Agora vamos ver como vai abordar em seu portal esse absurdo de multa que poderia ser facilmente evitável.

J. Alberto
J. Alberto
1 mês atrás
Responder para  Paulo

Entendo seu ponto – que não precisava ser exposto de forma deselegante -, mas se o tal famoso jornalista é, como você mesmo diz, famoso, é porque fez por onde. As pessoas precisam entender duas coisas: se alguém não tem concorrência, isso diz muito mais sobre a concorrência do que sobre o sujeito; e é muito feio se limitar a reclamar por trás de uma tela sem apresentar alternativa concreta, afinal por trás de uma alternativa concreta existe trabalho, esforço e dedicação, que são exemplares, o que não se constrói apenas com pitacos.

Pra finalizar, você está se referindo a uma relação tóxica. Nem credencial de imprensa a empresa concedeu ao dito cujo. A Globo entra quando quer nos espaços restritos a passageiros pagantes. Ele nem isso. Semanas atrás mesmo estava fazendo reportagem do lado de fora como um paparazzi inconveniente.

Marcos
Marcos
1 mês atrás
Responder para  Paulo

A pergunta que não quer calar.. Qual seria o tal jornalista, ou… Qual o portal para o qual o cidadão escreve?

rebU
rebU
1 mês atrás

Somente deveriam pagar essa indenização os responsáveis diretos por matarem a linha 18-Bronze, principalmente, o imbecil do Dória.
É injusto que todos os pagadores de impostos do estado de São Paulo desde os que moram na capital e seriam diretamente beneficiados com aquela linha até os que moram nas cidades dos extemos do estado arcarão com esse prejuízo!

Marcos
Marcos
1 mês atrás

“Workshop de economia” de João Dória, com apoio explícito de Orlando Morando e Alex Manente… Mais de 300 milhões indo pelo ralo, para trocar por uma obra que atenderá muito menos pessoas, sem qualquer comunicado ou informe oficial sobre alguma forma de integração tarifária, e que está demorando mais do que o monotrilho demoraria.

Lucas Rabelo
Lucas Rabelo
1 mês atrás

O valor da multa pela rescisão é quase equivalente ao que seria necessário pela desapropriações.

vital xavier
vital xavier
1 mês atrás

É uma pena que os interesses de um grupo que mantém o monopólio dos transportes públicos na região do ABC, tenha conseguido, com sucesso impedir a construção da linha 18 de metro/monotrilho, que beneficiaria uma população carente de transporte, que agora vai ganhar um transporte “tartaruga” e que terá que pagar outra passagem para chegar ao seu destino. Meus parabéns Dorinha Malvadeza e também a atual governador que participaram desse suposto conluio!!!

Fernando
Fernando
1 mês atrás

O que parece é que, dado o “andar da carruagem metropolitana”, a empresa concessionária vai levar em banho-maria a obra, e ao fim da concessão (os 25 anos), haverá novamente estudo, planejamento e ressurreição da linha 18-bronze, talvez com outro nome, outro número e outra cor ou tipo de mineral, mas será praticamente o mesmo traçado. A Metra seguirá tranquilamente tendo monopólio sobre o transporte do ABC e até lá (25 anos mais o tempo para colocar o ramal funcionando), uma linha de monotrilho seria suplementar sem gerar tanta perda de receita. Basta ver o que acontece nos corredores da Radial Leste, onde ônibus e metrô correm e concorrem sem anular um ao outro.

Até porque deixar uma região densamente povoada que vota (e isso é o que importa para qualquer político) sem mobilidade, como partes do ABC e favelas/bairros como Heliópolis (ao que parece, daqui 25 anos a Brasilândia, CT e Paraisópolis já terão transporte cortando suas regiões) não é uma decisão que renda capital político.

J. Alberto
J. Alberto
1 mês atrás

A última frase do posto ilustra bem onde mora o problema. Na impunidade de quem toma decisões financeiramente lesivas aos contribuintes sem ser responsabilizado. Mas infelizmente nada será feito para mudar isso.

Fabricio
Fabricio
1 mês atrás

Não acredito que seria necessário um monotrilho para suprir a baixa demanda dessa região, o BRT é suficiente mesmo, melhor perder grana agora do que bilhões em um projeto que não iria se sustentar.

Marcus
Marcus
1 mês atrás
Responder para  Fabricio

Se 400 mil era baixa demanda…