IPHAN anuncia liberação das áreas da estação 14 Bis-Saracura, da Linha 6-Laranja

Estação 14 Bis-Saracura: se tudo der certo, ela pode abrir em 2029
Estação 14 Bis-Saracura: se tudo der certo, ela pode abrir em 2029 (Linha Uni)

No último dia do prazo fornecido pela Linha Uni para viabilizar a construção da estação 14 Bis-Saracura, da Linha 6-Laranja, o IPHAN, órgão federal de preservação histórica e cultural, anunciou a liberação da área 4 para escavações.

Ela era a única de seis áreas onde foram encontrados vestígios arqueológicos associados a um quilombo existente no final do século 19 que ainda estava com sua situação indefinida.

Na área 4 acredita-se que existia um terreiro para realização de rituais religiosos de origem africana.

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Segundo o IPHAN, a concessionária que constroi a estação poderá atuar no local, porém, deverá realizar o “registro, desmontagem, remoção, armazenamento, remontagem e exposição dos achados arqueológicos”.

Áreas onde foram encontrados vestígios arqueológicos em 14 Bis (Reprodução)

As estruturas encontradas no canteiro de obras serão removidas e mantidas em um local provisório e então trazidas de volta para uma área de exposição a ser definida pela Linha Uni.

Todos os custos dessa atividade, chamada de “musealização”, serão bancados pela concessionária que deverá disponibilizar acesso ao local para estudos.

Atraso do IPHAN

A aprovação pelo IPHAN ocorreu apenas após enorme pressão da Linha Uni e do governo do estado, que também se reuniu com integrantes do órgão.

A indecisão do instituto, que de um lado tem acatado a maioria dos pleitos de movimentos culturais da região, pôs em risco o acesso da população local à mobilidade sobre trilhos, algo que poderia ter sido evitado.

Embora não houvesse negação quanto à importância dos achados, a questão que se prolongou além do tempo razoável foi o que fazer com o material encontrado.

Alternativa de resgate 02 - Acesso (LinhaUni)
Estruturas encontradas na área da estação serão removidas durante as obras e depois expostas no local (LinhaUni)

Os grupos de preservação histórica buscavam evitar que as estruturas fossem retiradas do local, mas a concessionária argumentava que a obra, pelo seu vulto, seria inviável com os materiais mantidos intactos.

A retirada e posterior exposição dentro da estação era, sem dúvida alguma, a saída sensata, mas ela só poderia ser proferida pelo IPHAN, que tinha a última palavra no assunto.

OPINIÃO: Omissão de nome da concessionária e da Linha 6

Embora negado, o aspecto político parece ter exercido alguma influência na dificuldade do órgão lidar de forma isenta em busca de uma solução.

Um indício disso está no comunicado divulgado pelo próprio IPHAN, que em nenhum trecho cita textualmente o nome da Linha 6-Laranja ou da Linha Uni e o governo do estado de São Paulo, sócios no projeto.

Por razões não esclarecidas, o texto ignora o envolvimento do governo estadual enquanto chama o ramal de metrô de “empreendimento”, 14 Bis-Saracura de “estação de metrô” e a Linha Uni de “empreendedor”.

Reunião do presidente do IPHAN com políticos de esquerda e membros do movimento negro (IPHAN)

No texto, o órgão parece preocupado em justificar a demora em tomar uma decisão e reforçar em vários trechos seu “esforço” em ouvir os “movimentos da sociedade civil”.

Ilustra o comunicado uma imagem de uma reunião do presidente do IPHAN, Leandro Grass, com integrantes do movimento Estação Saracura/Vai-Vai, da Ialorixá Solange Machado dOyá, e dos deputados federais Guilherme Boulos e Erika Hilton, aliados do governo Lula, adversário político do governador Tarcísio de Freitas.

O movimento, por outro lado, em várias ocasiões pleiteou a paralisação das atividades e até mesmo o tombamento da área, o que impediria a construção da estação. Houve inclusive manifestações sobre perigo de “movimentos neonazistas” invadirem o canteiro de obras para destruir ou retirar os achados, o que foi considerado absurdo pela concessionária, segundo mensagens que constam do processo.

Estação 14 Bis prevista para 2029

Com a liberação, a Linha Uni terá que colocar em ação um plano para avançar na obra da estação 14 Bis a fim de que ela não impeça a abertura da Linha 6-Laranja até a estação São Joaquim, prevista para outubro de 2027.

Trem da Linha 6-Laranja: corrida para liberar operação até São Joaquim em outubro de 2027 (Linha Uni)

Em meio à remoção do material arqueológico, a Acciona, responsável pelas obras, fará uma escavação por níveis até chegar às estruturas de túneis montadas pelo tatuzão de forma provisória.

Elas serão retiradas para a construção das plataformas, mas a estação não ficará pronta a tempo. O objetivo é encerrar as obras civis pesadas e então iniciar acabamento e implantação de sistemas com a meta de abrir 14 Bis em janeiro de 2029.

Espera-se que com isso todos saiam vitoriosos: a preservação da história negra na região e a melhoria da qualidade de vida da população, que terá acesso a um transporte limpo e rápido.

E que as rusgas ideológicas fiquem enterradas onde não possam mais ser achadas.

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