Foi num sábado igual ao de hoje que o transporte público no Brasil iniciou uma era de transformação. Há exatos 50 anos, no dia 14 de setembro de 1974, o Metrô de São Paulo realizava sua primeira viagem oficial, entre as estações Jabaquara e Vila Mariana.
Era a primeira vez que o Brasil tomava contato com um modal de transporte que se diferenciava pela rapidez, tecnologia e segurança, mas foi o fato de o trecho inaugural ser subterrâneo que mais chamou a atenção da população.
A primeira impressão ficou e até hoje muita gente associa “metrô” a um trem que circula embaixo da terra. Mas a rede logo mostrou que existiriam trechos elevados e na superfície, trens maiores e menores, estações distantes e quase uma ao lado da outra.
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O mais importante, no entanto, é que o Metrô significou uma mudança de patamar em um atividade rotineira para milhões de pessoas. De ônibus e bondes arcaicos, os passageiros passaram a contar com um sistema que primava pela pontualidade, limpeza e segurança.

O aprendizado foi complicado no início, com usuários sendo orientados a usar os bilhetes magnéticos Edmonson, a identificar a estação de destino baseado em cores e placas sem ter a referência do entorno, como na rede de trens suburbanos.
Até nesse aspecto o Metrô paulista teve um papel fundamental, a de reescrever a experiência sobre trilhos. De fato, usar trens para ir ao trabalho, escola ou viajar para outras cidades era algo corriqueiro nos anos 70, porém, o serviço já dáva sinais de esgotamento.
Sem investimentos e com vários problemas graves de operação e manutenção, circular em trens era algo arriscado e eram comuns cenas tristes como pessoas viajando penduradas nas portas e acidentes gravíssimos.
Com seu ambiente controlado, o Metrô de São Paulo transformou-se em um “óasis” a ponto de gozar de um prestígio de “Primeiro Mundo”, como se dizia de forma pejorativa na época.

104 km em 50 anos
Hoje o Metrô é um colosso, transportando milhões de pessoas todos os dias e com números superlativos ecoados por vários artigos da grande mídia nesta semana de comemoração.
Dos mais de “33 bilhões” de passageiros às quase “8 viagens” entre a Terra e Marte acumulados nos 50 anos, fato é que o metrô paulista deveria ser bem maior.
O aniversário de operação do Metrô de São Paulo é mais do que comemoração, um momento de reflexão, afinal em meio século a cidade ganhou pouco mais de 104 km, ou seja, 2,1 km por ano em média.
É muito pouco e também uma dimensão incorreta.

O efeito “metrô” teve uma importância sem igual em outra revolução, a recuperação da caquética malha de trens da Fepasa e CBTU com a criação da CPTM em 1992.
Embora muitas críticas sejam justas quanto às dificuldades da companhia estadual em evoluir sua rede, fato é que a CPTM devolveu à região metropolitana (e até Jundiaí) uma enorme extensão de trilhos que hoje transportam outros milhões.
E não se pode negar que essa rede se espelha no Metrô.
Portanto, erramos quando se fala em uma extensão de 104 km. Se não toda a malha de trens metropolitanos, a absoluta maioria seria considerada “metrô” em diversas cidades do mundo.
Foco no centro
Mas mesmo colocando na conta toda a rede sobre trilhos paulista, o sistema ainda carece de capilaridade. E talvez seja nesse ponto que as sucessivas gestões mais falharam.
Houve de tudo nas últimas décadas, de projetos megalomaníacos que não saíram do papel a opções por implantar ramais pendulares que só criaram situações temerárias na operação.
Faltou deixar o lado populista de lado e condicionar a expansão ao avanço da malha dentro da capital, criando novos “nós” (ligações entre as linhas) que pudessem tornar o sistema mais eficaz e equilibrado.

Esse apelo este site faz há quase 10 anos, o de investir numa rede mais densa na região central e então expandi-la aos poucos para outras fronteiras.
Parece à primeira vista um contrassenso, mas São Paulo é uma cidade de ocupação desigual, em que milhões moram a muitos quilômetros de distância do emprego enquanto existem imensas áreas com baixa densidade populacional em regiões mais centrais.
Ramais como a Linha 20-Rosa em seu trecho tecnicamente prioritário ou as já operacionais linhas 4-Amarela e 5-Lilás são exemplos dos benefícios de criar mais conexões em pontos-chave.
Seria oportuno que o atual governo revisse a ultrapassada visão de que é preciso “levar o metrô para áreas distantes”, e sim investisse em trazer essas pessoas para perto do centro.

Desafios para os próximos 50 anos
A despeito de erros de planejamento, o “metrô” está cada vez mais inserido nas políticas públicas, sobretudo em São Paulo. A expansão dos trilhos está em curso, a despeito de soluços no caminho, e a população hoje valoriza qualquer km a mais na rede.
Espera-se que esse movimento não perca ímpeto mesmo com a queda na demanda após a pandemia e o crescimento do trabalho remoto.
Há de se buscar soluções para bancar o custo desse sistema assim como um dia espera-se que algum governante tenha coragem para desestimular o uso de automóveis e todo o caos que eles trazem para as cidades.
Daqui a 50 anos, quando comemorarmos o centenário da estreia do metrô no Brasil, não saberemos se a companhia que iniciou a revolução existirá. Também é impossível imaginar qual será a importância do transporte sobre trilhos em 2074 com os avanços tecnológicos que estão por vir.
Mas é certo pensar que a mobilidade ideal tem muito das suas lições básicas personificadas no Metrô de São Paulo.