Atendimento impecável, mas operação precária: como foram as primeiras viagens do ‘Expresso The Town’, da ViaMobilidade

Expresso "The Town" passando pela estação Antônio João (Jean Carlos)
Expresso “The Town” passando pela estação Antônio João (Jean Carlos)

A ViaMobilidade, operadora das Linhas 8 e 9 de trens metropolitanos, iniciou neste final de semana a operação do serviço expresso e semi-expresso que atende o evento The Town, festival de música realizado no Autódromo de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo.

O site teve a oportunidade de utilizar o serviço Expresso no sábado (02) e mostra os principais aspectos do serviço, seus pontos positivos e negativos, bem como a organização e modelo de operação adotados.

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Justificativas do serviço

O principal objetivo dos serviços era atender ao público que teria como destino ao evento The Town, criado pelos mesmos organizadores do conhecido Rock in Rio. Os passageiros contaram com trens exclusivos que seriam mais rápidos e com menos paradas até a estação Autódromo, ponto mais próximo do local.

A justificativa para a implantação é o aumento abrupto da demanda de passageiros que influencia todo o sistema. Ao mesmo tempo, era a oportunidade ideal para se auferir maior receita diferenciada pela compra dos ingressos que variavam de R$ 15,00 até R$ 40,00.

Expresso The Town da ViaMobilidade (Jean Carlos)
Expresso The Town da ViaMobilidade (Jean Carlos)

Experiência de viagem

Aqui iremos relatar a experiência de viagem realizada às 15h do sábado (02). Utilizamos o serviço Expresso a partir da estação Barueri da Linha 8-Diamante.

Pré embarque

A experiência de pré-embarque se refere aos procedimentos realizados antes da entrada do trem na estação. No local a plataforma foi parcialmente segregada, sendo que a área oeste da plataforma 1 e 2 foi destinada para os passageiros do serviços.

Área segregada para embarque no serviço Expresso (Jean Carlos)
Área segregada para embarque no serviço Expresso (Jean Carlos)

Cabe citar que a segregação nesta estação não causou interferência operacional, já que as plataformas das estações da Linha 8-Diamante são mais longas.

Os passageiros formaram filas para a conferência de seus bilhetes. Um grupo de agentes de segurança orientava e conferia se os QR Codes eram válidos para o serviço desejado. Alguns deles utilizavam-se de tablets com um aplicativo para a validação.

Agentes de atendimento portavam tablets para validação das passagens (Jean Carlos)
Agentes de atendimento portavam tablets para validação das passagens (Jean Carlos)

Embarque

O embarque na estação foi realizado na extremidade da plataforma, no local onde ficam os últimos carros. Uma quantidade grande de passageiros estava aguardando o trem no local.

Os agentes de atendimento orientavam os passageiros quando a faixa amarela. O trem chegou na estação pelo sentido oposto, proveniente de Osasco. A estratégia adotada poderia ter sido mais eficiente com trens partindo diretamente da via antes da estação Barueri.

Trens expressos vieram da do sentido Osasco (Jean Carlos)
Trens expressos vieram da do sentido Osasco (Jean Carlos)

Como o embarque era realizado apenas nos dois primeiros carros do trem, para compatibilizar o atendimento nas demais estações, o trem precisou realizar duas manobras. A primeira para levar o trem até o fundo da estação e a segunda para alinhar as portas no local correto.

A partida prevista para ocorrer às 15h atrasou 20 minutos. O tempo de manobra foi um dos principais empecilhos, já que os operadores tinham que percorrer todo o trem até a cabine oposta para posicionar o trem no local correto.

Viagem

A experiência de viagem propriamente dita é o que definiu a qualidade do serviço. Em Barueri o trem partiu com uma boa quantidade de pessoas, mas sem lotar os bancos. O trem utilizado foi da Série 8500, que está emprestado pela CPTM.

Na Linha 8-Diamante o trem teve alguns pontos de lentidão, mas depois da estação Carapicuíba a velocidade se manteve constante. O trem entrou automaticamente na Linha 9-Esmeralda pela via central da estação Osasco.

Lotação dos trens partindo de Barueri (Jean Carlos)
Lotação dos trens partindo de Barueri (Jean Carlos)

O trem fez uma parada na estação Pinheiros para embarque de passageiros. Nesta estação várias pessoas embarcaram, que deixou o trem com lotação acima da disponibilidade de bancos.

Houve mais pontos de lentidão na Linha 9-Esmeralda. Dois pontos de paradas persistentes foram na região das estações Morumbi e Granja Julieta, onde o trem ficou parado por alguns minutos. Avisos eram emitidos ao público de que o trecho à frente seria liberado.

A viagem foi finalizada na estação Autódromo após 1h30 de percurso. Esse tempo é praticamente o dobro do estimado para o serviço expresso, que seria de aproximadamente 48 minutos.

Passageiros chegando na estação Autódromo (Jean Carlos)
Passageiros chegando na estação Autódromo (Jean Carlos)

Falhas operacionais

Um fator que pesou contra a execução do serviço expresso e semi-expresso foi uma falha no sistema de energia ocorrida na Linha 9-Esmeralda. Segundo a ViaMobilidade, a falha durou mais de sete horas e fez com que os trens operassem em via singela entre Jurubatuba e Mendes-Vila Natal.

O sistema PAESE chegou a ser acionado, com 32 ônibus à disposição dos passageiros. Mas, devido ao fluxo intenso de veículos na região evento, a fluidez do serviço não foi adequada.

PAESE operando durante falha na Linha 9-Esmeralda (Jean Carlos)
PAESE operando durante falha na Linha 9-Esmeralda (Jean Carlos)

Na região da estação, uma equipe de manutenção atuava na rede aérea. A principal suspeita de falha foi um rompimento em um dos cabos de energia, o que impossibilitava a passagem dos trens de forma segura. Para a manutenção ocorrer com segurança, parte do trecho foi desenergizada.

Vantagens e desvantagens

Observando sob aspecto macro da operação, apontaremos aspectos positivos e negativos da operação ocorrida no sábado.

Prós

  • Bom atendimento por parte dos agentes
  • Planejamento nas estações adequado
  • Estações sinalizadas
  • Nível de lotação dos trens expressos adequado

Contras

  • Horário de partida atrasado
  • Dobro do tempo de percurso estimado
  • Estratégia operacional sujeita a lentidão
Manutenção de rede aérea durante a falha (Jean Carlos)
Manutenção de rede aérea durante a falha (Jean Carlos)

Conclusão

A premissa do serviço expresso era de ser uma alternativa ao transporte particular motorizado como Uber e táxis que seriam bastante demandados para o evento. Utilizar o trem com uma modalidade diferenciada de operação poderia diminuir o fluxo nas vias rodoviárias.

Em tese, o objetivo primário, que era de atrair pessoas para o trem, foi cumprido. As vendas dos passaportes foram bem sucedidas e as viagens realizadas transportavam uma boa quantidade de passageiros.

Entretanto, há de se notar que alguns aspectos deixaram a desejar, sobretudo no contexto operacional. O serviço basicamente só assume sua forma puramente expressa quando está na Linha 8-Diamante, que possui estrutura para ultrapassagem, que é a terceira via entre Carapicuíba e Osasco.

Área de embarque na estação Pinheiros (Jean Carlos)
Área de embarque na estação Pinheiros (Jean Carlos)

A partir de Osasco o serviço não executa praticamente nenhuma manobra especial que permita romper o carrossel de trens regulares. Poderíamos dizer em outras palavras que o trem expresso é um trem parador convencional que não atende as estações intermediárias.

Estar sujeito ao carrossel da Linha 9-Esmeralda e prever um tempo de viagem de 20 minutos entre Pinheiros e Autódromo é incongruente. Uma estratégia desse tipo só poderia correr bem caso as restrições operacionais na Linha 9-Esmeralda fossem completamente sanadas e um esquema de desvios fosse implantado.

Na prática, o único desvio executado foi na estação Jurubatuba, o que não surpreende por ser a única opção viável para ultrapassar trens, mas que não representa ganhos significativos nas viagens.

Ultrapassagem na estação Jurubatuba é uma possibilidade (CPTM)
Ultrapassagem na estação Jurubatuba (CPTM)

Além disso, o que permitiria viagens de fato mais rápidas seria uma abertura consideravelmente maior no carrossel de trens. Nesse cenário o trem poderia assumir, genuinamente, um caráter expresso de operação. Neste domingo (03) as viagens aconteceram dentro da normalidade, considerando que o intervalo regular geralmente é maior nos finais de semana.

Entretanto no sábado (02) o que se via era um pandemônio de desorganização. Não para os clientes que optaram pelo serviço expresso e semi-expresso, que foram bem atendidos, mas para aquele passageiro que pagou R$ 4,40 pelo serviço normal.

Obviamente a falha de energia traz grandes gargalos na operação. Quando se tem restrições na operação acrescidos de trens exclusivos para o The Town, que foram pagos com tarifa diferenciada e tem horário marcado para partir, é difícil cumprir a oferta de trens para o passageiro regular.

Manutenção do trecho afetado pela falha (Jean Carlos)
Manutenção do trecho afetado pela falha (Jean Carlos)

Não era raro ver manifestações, gritos e a indignação dos passageiros dentro dos trens regulares. A priorização do Expresso ante ao serviço convencional mostra que não houve um planejamento de crise consistente o suficiente para mitigar os danos e a degradação do serviço parador que contou com trens lotados e estações cheias em pleno sábado.

A primeira semana é vital para que a ViaMobilidade possa rever todos os procedimentos, sobretudo relacionados à operação dos trens, para possibilitar um serviço adequado não somente para quem paga mais por um trem especial, mas também ao passageiro que paga R$ 4,40 todos os dias.

Apesar de tudo, um dos pontos que poderiam ser considerados mais louváveis no serviço foi a atuação dos agentes de segurança. Neste sentido a equipe aparentou estar mais preparada, organizando os ambientes e as pessoas para evitar confusões e tumultos. Os trens tinha a presença de agentes para permitir viagens mais seguras.

Equipe de agentes de segurança alinhando estratégias de atendimento (Jean Carlos)
Equipe de agentes de segurança alinhando estratégias de atendimento (Jean Carlos)

Em âmbito geral, o que se pode tomar como conclusão é: não há problema em se explorar a concessão como forma de se auferir receitas adicionais, vender uma boa imagem ou um bom serviço. Mas, não se deve negociar jamais a “razão de ser” da mobilidade. Ao se priorizar o expresso em detrimento do trem regular, abre-se mão da essência do transporte público, o passageiro.

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