BRT ABC: análise do projeto funcional (2ª parte)

Mesmo com traçados praticamente idênticos, monotrilho da Linha 18-Bronze demandaria menor intervenção no sistema viário e ainda contribuiria com a construção de ciclovias
Mesmo com o traçado igual, monotrilho ainda tem vantagens (Jean Carlos)

O BRT ABC foi o projeto escolhido para atender o eixo da antiga Linha 18-Bronze pela gestão estadual anterior. O site tem realizado uma análise do projeto funcional para expor a proposta do sistema de ônibus rápido que atenderá a região.

Em nossa primeira matéria, analisamos o conceito do BRT e comparamos com o projeto da Linha 18-Bronze. Continuaremos a análise de ambos os projetos sob a perspectiva de traçados e infraestrutura geral.

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Características físicas

BRT ABC

O BRT, diferentemente dos corredores de ônibus convencionais, conta com infraestrutura segregada do trânsito comum, o que confere ao sistema maior velocidade operacional.

A capacidade dos ônibus, quando associada a velocidades maiores, gera aumento na capacidade de transporte. Sistemas de gerenciamento inteligente também contribuem para atender uma maior demanda.

Linha 18

Apesar do sistema BRT contar com tráfego segregado, ele ainda não atinge o mesmo nível do monotrilho que opera com zero interferência em relação ao sistema rodoviário. No caso do BRT, para garantir o memso nível de segregação seriam necessárias grandes desapropriações. No entanto, a decisão do projeto da Metra apostou em interferências menores.

No que diz respeito a capacidade dos ônibus, é evidente a diferença. O monotrilho teria capacidade para transportar 650 passageiros, enquanto um ônibus articulado de grande capacidade chega até 220 passageiros, quase três vezes menos.

No que pese o dimensionamento de frota, que contaria com muitos veículos no caso do BRT, o monotrilho se sai melhor devido a velocidade, isso implica diretamente no carregamento e a capacidade de transporte, visivelmente superior.

Capacidade do monotrilho da Linha 18 (VemABC)

Característica do sistema

BRT ABC

Dentre as características descritas no projeto funcional que estão diretamente atreladas ao BRT ABC, pode-se destacar a possibilidade de integração, inclusive tarifária, com o sistema metroferroviário e sistemas de ônibus municipais e intermunicipais.

A construção de “estações”, na verdade pontos de ônibus com área fechada, contemplarão o pré embarque com o pagamento antecipado de tarifa e poderão servir de abrigo contra intempéries.

A ultrapassagem de veículos do serviço expresso e semi expresso estão previstas em todas o trajeto, o contribuirá para obter a velocidade proposta do sistema.

Ao eixo do BRT não haverá acessos pelo viário comum, sendo possível adentrar nos coletivos unicamente pelas estações que serão dotadas de acessibilidade.

Os veículos escolhidos deverão ser articulados, com maior capacidade de passageiros, e dotados de itens de conforto como ar condicionado e Wi-Fi.

Linha 18

Dos pontos destacados no projeto funcional do BRT, alguns são nitidamente desvantajosos quando comparados ao monotrilho, iniciando pela integração tarifária. No BRT não há garantias de que haja integração de fato, no qual o usuário pagará apenas um valor de tarifa para acessar ônibus e trens.

Isso é pouco provável por conta da necessidade da concessionária recuperar o valor investido no projeto, que será bancado apenas por ela. É uma situação semelhante ao Corredor ABD, que ela assumiu em 1997 da EMTU.

Já o monotrilho o passageiro teria a integração tarifária garantida. Quem usaria a Linha 18 poderia ter acesso livre para a Linha 10-Turquesa que vai até a região central de São Paulo, ou à Linha 2-Verde, que atende a região da Paulista, dois pontos economicamente ativos e com muita oferta de empregos.

Pré-embarque é uma característica natural do sistema metroviário, mas existem certas vantagens que o BRT não pode manter em suas áreas de embarque. O passageiro poderia ter amplo acesso ao seu direito de viagem com totens de auto atendimento, ou comprando a passagem com dinheiro nas bilheterias.

Apesar do monotrilho não dispor de sistemas expressos em sua operação, é comprovado mediante documentação técnica que o mesmo é mais veloz, mesmo realizando paradas em todas as estações.

Quanto aos veículos utilizados: o monotrilho possui maior espaço e itens de conforto como ar condicionado e sistemas de aviso ao passageiros. O Wi-fi ainda não é uma realidade dentro dos trens, mas poderia ser implantado no futuro. Apenas a trepidação é um fator que pesa negativamente, mas, nada que um projeto bem feito, como em outros países do mundo, não resolva esta questão.

Como seria a conexão gratuita da Linha 18 com as linhas 2-Verde e 10-Turquesa em Tamanduateí (VEM ABC)

Projeto de infraestrutura

BRT ABC

O projeto de infraestrutura do BRT ABC deverá contemplar as seguintes características básicas:

  • Vias de circulação segregadas ou faixas exclusivas com pavimento de rígido de concreto;
  • Circulação na faixa da esquerda;
  • Veículos com portas à esquerda;
  • “Estações” e ônibus acessíveis, com piso baixo;
  • Cobrança de tarifa nas estação, melhorando o fluxo de embarque;
  • Não haverá paradas intermediárias a não ser aquelas previstas originalmente ao BRT.

Linha 18

O projeto do monotrilho da Linha 18-Bronze teria as seguintes características quando comparada ao BRT

  • Vias de circulação totalmente segregadas, sem nenhuma interferência com o transito de veículos;
  • Espaços disponíveis para a criação de ciclovias, incentivando a mobilidade sustentável;
  • Estações com portas de plataforma automatizadas, conferindo segurança ao sistema;
  • Estações acessíveis por meio de elevadores e itens de conforto com escadas rolantes;
  • Utilização das áreas na estação para obtenção de receitas extra-tarifárias e oferta de serviços;
  • Parada nas estações e possibilidade de atendimento com trens vazios em horário de pico.

Descrição física do traçado

A implantação do BRT ABC e seu traçado deverão passar por uma série de avenidas existentes e por trechos novos que deverão ser construídos. O foco será ampliar as infraestruturas existentes e alargá-las no local das estações. O projeto divide as áreas de implantação em cinco trechos.

Trecho 1: Avenida Aldino Pinotti

BRT ABC

O trecho 1 se inicia no terminal São Bernardo do Campo e percorre 1,7 km no eixo da Av. Aldino Pinotti, sem a necessidade de desapropriações neste eixo. No trecho estão previstas duas paradas: Metrópole e Aldino Pinotti.

Planta e corte do trecho 1 (SYSTRA)

Linha 18

O traçado da Linha 18-Bronze segue o mesmo eixo do BRT. Na região do Paço Municipal, em vez de haver bifurcação do sistema viário, o monotrilho seguiria em um trajeto unificado. Haveria necessidade de desapropriações de alguns terrenos na região. O trecho contaria com duas estações: Paço Municipal e Baeta Neves.

Trecho 2: Avenida Lauro Gomes

BRT ABC

O projeto do BRT aproveitará a duplicação da avenida Lauro Gomes idealizada pelo Consórcio ABC na região de Santo André e São Caetano. A extensão do trecho será de 6 km onde o BRT circulará em vias nas laterais do córrego existente com faixas de 3,5 metros de largura.

Serão construídas sete pontos de ônibus unidirecionais, ou seja, com plataformas separadas para cada sentido, sendo eles Abrahão Ribeiro, Senador Vergueiro, Winston Churchill, Vila Vivaldi, Fund. do Abc, Afonsina e Rudge Ramos.

Deverão ocorrer desapropriações para o alargamento do viário existente em área residencial de baixo custo. São 33,1 mil m² de área construída, 8,4 mil m² de terrenos e 686 m² de áreas públicas a serem desapropriadas.

Nas áreas de parada dos ônibus serão evitadas desapropriações, de forma que cada uma avance sobre a área do Ribeirão dos Meninos possibilitando a instalação da infraestrutura de apoio e mantendo as faixas de rolamento destinadas ao trafego comum e do BRT.

Traçado e corte do trecho 2 (SYSTRA)

Linha 18

O traçado do monotrilho é o mesmo que o proposto no BRT ABC, entretanto, o monotrilho utilizaria apenas a margem leste do Ribeirão dos Meninos, causando menos interferência ao tráfego. O trecho teria quatro estações: Winston Churchill, Fundação Santo André, Afonsina, Instituto Mauá.

Trecho 3: Nova via segregada paralela à Avenida Guido Aliberti

BRT ABC

O trecho 3 possui maior variedade de seções devido às alterações do viário existente e da presença do Ribeirão do Meninos. Num primeiro, próximo a divisa de São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul, trecho será implantada uma nova via segregada com 7,0 metros de largura.

Corte do trecho 3 (SYSTRA)

Seguindo em direção a São Paulo, o trecho proposto passa a ter uma via marginal com duas pistas para tráfego comum. O BRT continua à esquerda com duas faixas.

Traçado do trecho 3 (SYSTRA)

Na região da Avenida Michel Saliba, a seção proposta deverá contemplar uma nova via, incluindo um trecho elevado. No total a extensão do trecho 3 será de 5,2 km e terá 8 pontos bidirecionais, sendo eles as estações Instituto Mauá, Vila Império, Almirante Delamare.

Traçado do trecho 3 (SYSTRA)

Estão previstas uma série de desapropriações, sendo a maior parte delas dentro da faixa de 30 metros pertencentes ao DAEE (área do Ribeirão dos Meninos), compreendendo 46,2 mil m². Além disso, estão previstas as desapropriações de 5,7 mil m² de áreas particulares e de 8,5 mil m² de áreas construídas.

Traçado do trecho 3 (SYSTRA)

Linha 18

O trecho segue o mesmo eixo proposto pelo BRT. Na altura da Estrada das Lágrimas as vias do monotrilho passariam da margem leste para a margem oeste do Ribeirão dos Meninos. O trecho contaria com quatro estações: Rudge Ramos, Estrada das Lágrimas, Espaço Cerâmica e Goiás.

Trecho 4: Avenida Presidente Wilson

BRT ABC

Na região da Avenida Presidente Wilson, que deverá ser requalificada, o BRT circulará por meio de uma via segregada junto ao canteiro central.

Este trecho deverá ter 1,9 km de extensão e duas paradas estão previstas para serem implantadas, Alcatis e Albino de Morais.

Serão necessárias desapropriações ao longo do eixo da avenida na ordem de 9,1 mil m² de áreas construídas, 5,7 mil m² de terrenos e mais 5,7 mil m² de áreas públicas.

Traçado e corte do trecho 4 (SYSTRA)

Linha 18

Neste trecho o monotrilho segue pelo Ribeirão dos Meninos até a altura da Linha 10-Turquesa, onde segue paralelamente a faixa de domínio até chegar na estação Tamanduateí. Nesta caso, não haveria necessidade de adequações ou desapropriações na Avenida Presidente Wilson, como propõe o BRT. O trecho contaria com duas estações: Tamanduateí e Carioca (futura).

Trecho 5: Terminal Tamanduateí-Terminal Sacomã

BRT ABC

No último trecho, entre o terminal do Tamanduatei e o terminal Sacomã, deverão ser utilizadas as ruas Aída e do Grito para a implantação de faixa exclusiva à esquerda. O trecho segue até a rua da Juntas Provisórias destinando-se ao terminal Sacomã.

Está prevista a construção de uma única parada bidirecional, chamada de Rua do Grito. O trecho com 2,3 km de extensão deverá desapropriar aproximadamente 1,6 mil m² de áreas públicas.

Traçado e corte do trecho 5 (SYSTRA)

Linha 18

Não existe traçado proposto para este eixo, tendo em vista que o monotrilho da Linha 18-Bronze faria terminal na estação Tamanduateí.

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  1. Absurdo, Gilmar Mendes travou o processo no STF, não precisa ser nenhum gênio para saber que isso não vai dar certo, Av presidente Wilson e a Av guido aliberti não tem espaço para a implantação de via de ônibus, na “estação” almirante delamare parece que vão acabar com as únicas linhas da SPTRANS 5025 e 5028 (que já não oferecem um bom serviço) e irão forçar nos a usar esse BRT. Obrigado Jean Carlos por mostrar a verdade para a população.

  2. No dia que esse BRT virar um submarino eu só quero ver quem vai pagar a conta, Hoje dia 12/02/2023 ceu meninos e a almirante delamare estavam alagadas por causa da chuva, as mesma regiões que irão receber as “””estações””” do BRT, quero ver o milagre que irão fazer para que os ônibus passem nas água.

  3. COMO O BRT VAI PASSAR PELA PRESIDENTE WILSON? SIMLESMENTE VAO INVIABILIZAR OS GALPOES QUE EXISTEM NESSA VIA!!!! O DIA TODO TEM CAMINHOES ENORMES MANOBRANDO NA VIA O QUE VAOFAZER I DENIZAR AS EMPRESAS????

  4. O monotrilho seria melhor que este BRT. Pelas ilustrações este BRT é pior que o Expresso Tiradentes, que foi mal acabado e é subutilizado, passar este BRT pela Presidente Wilson não tem cabimento, quem trabalha ou mora na região sabe disto, além disto, este BRT vai estragar a praça que há na rua Aida, depois que foi feita a nova estação Tamanduatei do metrô e CPTM. Se é para fazer este BRT que vai degradar a região e para daqui há vinte anos lamentar por não ter feito o monotrilho é melhor não fazer nada. Não entendo como nenhum vereador de São Paulo, ABC ou deputado estadual questionou isto?

  5. Sem contar a extensão prevista da Linha 18 até Alvarengas, com mais 5 estações, atendendo Ferrazópolis e a FEI, coisas que não estão previstas no BRT

  6. Acompanho esse projeto, desde o início, posso dizer que é frustrante! Embora quase todos os dias a gente vê a linha Prata dando problemas, acredito que não deveria ocorrer o mesmo com a linha 18, caso fosse contemplado.
    O que assusta, é o contrato com quem irá administrar o sistema!
    Esse é o nosso problema, não reagir ao que é nosso por direito.

    Se desde o início quando cogitaram o BRT, talvez a realidade seria outra.

  7. Brt também teria várias viajem não realizadas e ar condicionado não funcionado como e hoje com a metra

  8. Na região do paço de SBC, como vai ser feito o traçado do BRT?

    Porque não haver vias segregadas naquela região é um tiro no pé

  9. Nós do ABC precisamos protestar por um transporte que atenda nossas necessidades, estou farto de gastar mais de duas horas até São Paulo todo dia, merecemos o metrô ou no mínimo o monotrilho. Esse BRT está fadado a ser uma porcaria de péssima qualidade a exemplo do que tem no Rio de Janeiro.
    Vamos reagir e exigir das autoridades que o contrato do monotrilho seja reativado e que de uma vez por todas se enterre o BRT.

    1. Seria o ideal mesmo José, mas duvido muito que voltem atrás, ainda mais com o Tarcísio eleito com o apoio do pateta Rodrigo Garcia, tem muito rabo preso por trás disso.

  10. Que projeto horroroso! Quem pensou nisso não conhece nada da região, incrível isso…
    Como esse Trecho 4 será feito na Avenida Presidente Wilson com duas faixas para carro, uma para ônibus (em cada sentido) e mais um canteiro central? Qual o impacto para o trânsito de caminhões da região? E para os próprios veículos do BRT?
    Finalmente entendi essa ligação entre Tamanduateí e Sacomã no trecho 5: uma mera faixa à esquerda na rua Aida, que pode acabar sendo compartilhada com as atuais linhas 5028 e 5032, além de veículos fazendo conversão; sabe-se lá onde ficará a parada Rua do Grito que, como imaginei, não será interligada com o Expresso Tiradentes; e, bem provavelmente, vão usar a faixa da esquerda da Juntas Provisórias até o acesso que existe para as pistas do Expresso Tiradentes. Como ficará o cruzamento da Juntas Provisórias com a Rua do Grito, que já é caótico? Quais as mudanças para o Terminal Sacomã?
    Enfim, uma tragédia o cancelamento da linha 18-Bronze…

  11. Como é que tem comentário aqui reportado mesmo com todos contrário a este lisho de BRT? Só pode ser alguém da Metra.

  12. Parabéns pela reportagem Jean Carlos, e relembrar para os incautos e esquecidos a análise das informações que apareceram no 13º termo aditivo do contrato de concessão do Corredor Metropolitano ABD, que incluiu a operação dos ônibus da chamada Área 5 e a construção do BRT que tem sido alvo de julgamento no STF , porém o Gilmar Mendes que é ligado ao PSDB tá atrasando o julgamento desde 2022 por comprovadas suspeitas de irregularidades, entre outros processos na Justiça comum e no Tribunal de Contas do Estado.

    E mais uma vez SBC ficará largada para máfia das empresas de ônibus com a renovação de seus contratos bilionários sem licitação, não é à toa que a NEXT Mobilidade já foi parar no STF.
    A região em que irá trafegar o monotrilho ou quaisquer outros como BRT, VLT na Linha 18-Bronze é paralela quase que totalmente ao Córrego dos Meninos, portanto sujeita a inundações constantes como em março de 2019, além das Av presidente Wilson e Guido Aliberti não possuirem espaços para a implantação de vias de ônibus, portanto é fundamental que o sistema seja elevado, ou se corre o risco de se construir um sistema obsoleto já na sua criação.
    Isto é “O critério será absolutamente técnico. Se não houver nenhum viés político. Situação de obras públicas, com recurso público, com recurso privado ou de ambos, tem que ser o critério técnico”.
    Um exemplo prático disto é o que ocorre no atual corredor ABD dos trólebus do BRT que é interrompido frequentemente nas enchentes, recentemente o prefeito de São Bernardo Orlando Morando (PSDB) indicou que a construção de piscinão do Paço finalizado em agosto de 2019 resolveria o assunto, porém foi insuficiente e agora lançou o piscinão Jaboticabal sem garantias que se irá resolver a questão!!!

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