A ViaMobilidade iniciou na quinta-feira (27) a operação e manutenção das Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda de trens metropolitanos. Depois de sete meses de transição sob supervisão da CPTM, os dois ramais estão oficialmente sob gestão da iniciativa privada, que promete, além de investimentos na reestruturação das linhas, uma melhoria no atendimento aos passageiros.
O site esteve presente no primeiro dia da operação privada das linhas 8 e 9 entre o horário da tarde até o pico da noite e traz aqui os principais detalhes sobre as mudanças observadas nas estações e trens.
Transferências
As transferências são importantes pontos que permitem a conexão entre as linhas 8 e 9 e os demais ramais do sistema metroferroviário. Atualmente existem seis estações de transferência que permitem ao passageiro acessar a rede sobre trilhos. Nas estações de Osasco e Presidente Altino, o passageiro pode realizar a transferências entre as linhas 8 e 9, sendo inexistente qualquer dispositivo para contagem dos passageiros.
Nas estações Pinheiros e Santo Amaro, existe a conexão com a Linha 4-Amarela e com a Linha 5-Lilás respectivamente. Apesar de serem linhas geridas pelo grupo CCR, ainda existem mecanismos de contagem de passageiros, ou seja, as empresas são remuneradas pela transferência dos passageiros conforme o estabelecido nos contratos de concessão de cada operadora.
Nessas estações os funcionários dividem espaço, mas, pelo o que se pode notar, cada equipe fica responsável pela sua área de atuação. Espera-se que, no futuro, ações integradas entre as concessionárias possam criar uma maior sinergia, sobretudo no que se trata de estratégias operacionais.
Na estação Itapevi existe a conexão com a extensão operacional da linha 8 que oferta trens até a estação Amador Bueno. A transferência entre os serviços se manteve igual, sendo necessário realizar o pagamento de tarifa para acessar o trecho Itapevi-Julio Prestes. O contrato de concessão estabelece o fim desta transferência assim que a estação Ambuitá entrar em operação, iniciando a cobrança de tarifa em todas as estações.
Na estação Palmeiras-Barra Funda temos a transferência com a Linha 7-Rubi da CPTM e com a Linha 3-Vermelha operada pelo Metrô. Neste caso existe a necessidade de realizar a contagem dos passageiros que entram e saem da Linha 8-Diamante.
A solução adotada para realizar a contagem dos passageiros foi a implantação de câmeras nas escadas fixas, escadas rolantes e nos elevadores localizados na parte superior dos acessos.
Especificamente na estação Palmeiras-Barra Funda não foi possível identificar uma SSO (Sala de Supervisão Operacional) para os funcionários da ViaMobilidade, sendo que as duas estruturas desta natureza estão sob a gestão da CPTM e do Metrô, na proximidade da linha de bloqueios.
Estações
Nas estações não foi possível perceber nenhuma mudança mais notável. A comunicação visual em placas permanece a mesma utilizada pela CPTM. Possivelmente estes equipamentos deverão ser trocados ao longo dos meses em todas as estações para criar uma coesão na identidade da nova empresa.
Na estação Palmeiras-Barra Funda já ocorreu a separação das plataformas de forma definitiva. Os trens a partir de agora só utilizarão as plataformas 1 e 2. A plataforma 4, que atendia os trens com destino à Itapevi, deverá ficar sob gestão da CPTM.
O site passou por algumas estações da linha 8 como Júlio Prestes, Lapa, Imperatriz Leopoldina, Presidente Altino, Osasco, Comandante Sampaio, Santa Terezinha, Sagrado Coração, Itapevi e Amador Bueno. Na maioria das estações havia funcionários nas plataformas realizando rondas. As estações estavam em bom estado de limpeza, considerando a estrutura repassada pela CPTM.
Na Linha 9-Esmeralda foi possível visualizar a operação nas estações de Ceasa e Pinheiros durante o período noturno. Na primeira estação não havia agentes nas plataformas, enquanto em Pinheiros foi possível identificar funcionários. Equipamentos de apoio como escadas rolantes e elevadores estavam funcionando normalmente.
Em algumas estações, como Santa Terezinha, foi possível visualizar a instalação de escadas ligando a região de plataforma com as vias. Este equipamento facilita o acesso das equipes de manutenção. As estações também ganharam novos avisos sonoros.
Trens
Os trens utilizados na operação das linhas 8 e 9 são compostos pelas séries 5400, 7000, 7500 e 8500, todos fabricados pela empresa espanhola CAF. Uma parte desses trens está sendo utilizada em caráter de empréstimo até que a ViaMobilidade concretize a compra de suas 36 novas composições adquiridos da empresa francesa Alstom.
A maioria dos trens ainda mantém as características estéticas da CPTM com sua pintura vermelha. No interior dos carros aparentemente ocorreram poucas modificações. Os avisos sonoros, placas de identificação permanecem com o logo da CPTM.
Durante o período de transição foi possível observar alguns problemas como infiltração de água no salão. Espera-se que, com a assunção definitiva da manutenção, estes problemas possam ser prontamente resolvidos.
Em termos de conforto é possível dizer que as condições são as mesmas daquelas percebidas durante o período CPTM. O sistema de ar condicionado estava funcional permitindo a aclimatação dos carros de forma adequada.
Intervalo e lotação
O intervalo dos trens nos horários de vale estava beirando algo próximo aos seis minutos, segundo as medições realizadas pelo site. Este valor é reduzido nos horários de maior movimento. Apesar de não ser realizada a mensuração do intervalo, era visível um aumento do fluxo de trens.
Nos horários de vale a lotação dos trens era relativamente baixa, com a maioria dos trens circulando com assentos vagos e poucos passageiros em pé. Nos horários de maior movimento, perto das 17h a lotação se intensificou, sobretudo no sentido Itapevi.
Realizamos o embarque na estação de Palmeiras-Barra Funda neste horário e foi possível notar o nível de lotação consistente onde, em muitos casos, as pessoas precisavam se apertar para possibilitar a entrada e a saída dos passageiros.
Este fenômeno geralmente ocorre por dois motivos: O retorno da demanda com o avanço da vacinação e o início do ano que intensifica os deslocamentos por motivos de estudos e trabalho; e a troca dos trens da série 8000 pelos trens da Série 7000 na Linha 8-Diamante e 9-Esmeralda. Apesar de serem trens semelhantes, muitos passageiros têm reclamado da falta de espaço e da impossibilidade de realizar a troca entre os carros.
Atendimento
A principal mudança com o início da operação da ViaMobilidade nas linhas 8 e 9 foi o atendimento aos passageiros e as ocorrências. O site observou atentamente o posicionamento dos funcionários, ações e quantidades de agentes.
O primeiro ponto a se destacar é que não existe mais segurança terceirizada nas linhas 8 e 9. Os seguranças da empresa Albatroz, que prestava serviço para a CPTM, foram dispensados de seus postos. Agora este serviço é feito apenas por funcionários da ViaMobilidade.
Em estações de maior movimento era possível ver entre dois e quatro agentes na região da SSO e linha de bloqueios. Nas plataformas, entre um e dois agentes realizavam a ronda para verificar as condições de embarque.
Nos trens os agentes realizavam rondas periódicas atuando em duplas. Dentro das composições sem gangway (passagem livre entre os carros) era possível abrir as portas entre os carros, geralmente abertas pelos vendedores ambulantes.
Em termos de segurança pública e cumprimento de regras, estabelecidas por leis federais e pelo próprio contrato de concessão, as estações e trens aparentavam um clima de maior segurança. Foi possível presenciar a abordagem de indivíduos na estação Lapa.
A abordagem foi assertiva e sem maior repercussão. Entre os vendedores ambulantes era possível ouvir relatos de que as ações de fiscalização e combate ao comércio nos trens e estações foi intensificado. Apesar disso era possível ver, mesmo que em menor número, vendedores comercializando seus produtos.
Em termos de atendimento direto ao passageiro era também possível presenciar a mesma postura, de forma que um contato mais humano fosse priorizado. Na estação Palmeiras-Barra Funda uma funcionária estava posicionada próximo às escadas orientando os passageiros. Na estação Júlio Prestes o atendimento aos PCDs era feito com prioridade.
Novidades
As principais novidades do início da operação foram a liberação do novo site da ViaMobilidade, a apresentação da composição da Frota C (Série 7000), a reforma em Presidente Altino e os novos avisos sonoros nas estações.
O site da ViaMobilidade unificou o atendimento das linhas 5-Lilás, 8-Diamante e 9-Esmeralda. Com uma estrutura simplificada e adequada para dispositivos móveis, o novo site conta com informações importantes como investimentos, história das linhas e um portal para vagas.
Os trens da Frota C são as versões reformuladas da série 7000 da CPTM que contam com uma nova identidade visual. No exterior o trem é composto basicamente por uma dianteira cinza e duas linhas verdes de tonalidades diferentes. No interior dos trens foram alteradas algumas placas e o mapa das linhas que agora conta com as estações de Varginha na Linha 9 e com a estação de Ambuitá na Linha 8. Os bancos e os avisos sonoros ainda não foram alterados.
Na estação de Presidente Altino a região de plataforma está passando por uma reforma na edificação. O local está sendo pintado com uma tinta cinza e parte da estrutura de concreto está sendo limpa. Além disso, a faixa amarela está sendo pintada dando maior destaque ao item de segurança. Parte das melhorias podem estar relacionadas aos investimentos estabelecidos no contrato de concessão.
Os avisos sonoros nas estações também são uma novidade bastante interessante. Em algumas paradas é possível reparar no som do clarinete utilizado principalmente nas estações da Linha 4-Amarela. A tonalidade da voz feminina é mais séria e calma se comparada com os avisos das linhas 4 e 5.
Conclusão
Depois de anos de espera, análises de manifestações de interesse privado e de revisões de projeto, finalmente as linhas 8 e 9 passam para as mãos da iniciativa privada. A concessão das linhas da CPTM não é um assunto novo, uma vez que em meados dos anos 2000 este tipo de assunto já entrava em pauta.
Apesar da mudança de gestão, o modelo de concessão ainda é algo bastante discutido nas redes, seja pela população ou pelos especialistas em mobilidade. A concessão das linhas de trem metropolitano não serão simples como operar uma linha de metrô totalmente automatizada. Aqui o desafio é elevado para outro patamar.
Apesar de bem estruturadas quando comparadas com os demais ramais da CPTM, as linhas 8 e 9 ainda possuem incontáveis pendências técnicas que deverão ser sanadas dentro dos próximos seis anos com um vultoso cronograma de investimentos que abrange a compra de novos trens, reforma de estações e sistemas.
Após mais de 100 anos a gestão das linhas da antiga Sorocabana serão repassadas novamente para o setor privado. Espera-se que, ao longo dos próximos 30 anos, a qualidade do serviço se aprimore e o passageiro possa contar com um transporte seguro, veloz e confortável.
