Em reportagem, TV Globo distorce fatos sobre falhas no Metrô

Trem da Linha 1-Azul do Metrô (Jean Carlos)

Não é incomum que a chamada grande imprensa “tropece” ao abordar questões técnicas a respeito do transporte sobre trilhos. Por mais recursos e bons profissionais que possuam, esses grupos acabam interpretando informações de forma equivocada e produzindo reportagens distorcidas.

Foi o que ocorreu nesta semana quando o jornal SP1, da TV Globo, afirmou que o Metrô “gastou R$ 61 milhões em falhas em 2022”. Trata-se de um erro grotesco já que empresa alguma gasta dinheiro com falhas e sim em correções ou investimento em prevenção.

Segundo o jornal, o Metrô estaria gastando cada vez mais dinheiro com manutenção para corrigir e prever falhas. O gráfico apresentado na reportagem mostra uma alta nos valores de 52% entre 2018 e 2022 no que o jornalismo da Globo chamou de “gastos com panes no Metrô de SP”, um evidente mal-entendido.

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A razão é que o dado informado pela companhia não se resume ao trabalho reativo, ou seja, de ‘consertar’ o que apresentou problemas, mas também a medidas de prevenção como projetos em curso que pretendem antecipar possíveis causas de falhas, permitindo sua correção antecipada.

Custos com materiais utilizados em manutenção Valor
2018 R$ 40.333.355,91
2019 R$ 47.660.955,55
2020 R$ 46.720.107,08
2021 R$ 52.157.329,56
2022* R$ 61.559.176,81

* Até novembro. Fonte: Metrô de SP

O Metrô classifica as ações de manutenção em corretiva, quando a falha ocorre e precisa ser corrigida, preventiva, no caso, por exemplo, de substituição de componentes que estão perto do fim da sua vida útil, e preditiva, que é quando se identifica antecipadamente um potencial problema.

É justamente nesse sentido que estão ocorrendo ações como a instalação de sensores nas vias e trens que irão monitorar em tempo real as condições de operação e assim reduzir as chances de panes. Ou na criação do Centro de Controle de Manutenção (CCM), recentemente implantado pela empresa junto ao Centro de Controle Operacional (CCO).

Ou seja, esses valores não têm qualquer relação com a ocorrência de falhas ou, como considera o Metrô, aos Incidentes Notáveis (IN), que se caracterizam por interromper a operação por 5 minutos ou mais além do tempo de parada nas estações.

Centro de Controle da Manutenção (Jean Carlos)

Redução enganosa de falhas em 2020 e 2021

A reportagem também aponta o aumento de falhas nas quatro linhas operadas pelo Metrô, citando a elevação do nímero de problemas na Linha 1-Azul, a “campeã de falhas”. Segundo dados do Metrô, foram 86 falhas em 2022, 30 delas no ramal que vai do Jabaquara a Tucuruvi.

Lançar esses números no ar sem uma explicação clara sobre o contexto em que eles estão inseridos também leva a interpretações enganosas. Um exemplo disso seria afirmar que em 2021 a companhia foi mais eficiente ao conseguir reduzir o número de problemas.

Foram 82 falhas em 2018, 98 em 2019, 67 em 2020 e apenas 59 em 2021. Apenas mérito da empresa? Não exatamente. Como é sabido, nesse período a pandemia do Covid-19 reduziu a demanda de passageiros e consequentemente a circulação do trens, influenciando esses dados e distorcendo o quadro.

Falhas em equipamentos 2018 2019 2020 2021 2022
Linha 1-Azul 35 29 15 18 30
Linha 2-Verde 19 16 14 4 13
Linha 3-Vermelha 14 14 14 13 21
Linha 15-Prata 14 39 24 24 22
Total 82 98 67 59 86

Fonte: Metrô de SP via SIC

A questão nesse caso é que medir a eficiência da operação é algo muito mais complicado e que envolve diversos outros fatores. Mesmo o índice “IN” do Metrô não é um dado que reflete com clareza o que ocorre no dia a dia. A própria reportagem flagrou uma falha numa porta de trem que não entra na estatística mas causa dissabores aos passageiros.

Outro ponto é que as linhas do Metrô estão passando há vários anos por processo de modernização. Como não é possível suspender a operação para que esse serviço seja feito, as mudanças acabam afetando a vida dos usuários.

Isso ocorreu durante janeiro, quando a empresa interditou uma das plataformas da estação Palmeiras-Barra Funda para instalar as fachadas de portas e acabou complicando a operação da Linha 3-Vermelha em vários dias. Vai contar na estatística de falhas, porém, por uma boa causa já que as portas irão reduzir acidentes e atrasos no futuro.

Portas de plataforma na estação Barra Funda: melhoria causou transtornos aos passageiros (Jean Carlos)

A própria Linha 1-Azul, apontada como a pior em 2022, está em processo de mudança do sistema de controle de trens, do ATC para o CBTC, mais eficiente e que é usado hoje pela Linha 2-Verde, não por acaso a que menos falhas apresentou no ano passado.

O erro da reportagem da TV Globo, no entanto, não significa que o Metrô é inocente nessa situação. Embora a empresa opere ramais que frequentemente estão no limite da oferta, falta transparência em relação aos reais problemas e, sobretudo, a respeito das soluções que estão sendo adotadas. Afinal, quando será possível minimizar esses problemas?

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