Governo Alckmin “abandona” o ambicioso plano de expansão do Metrô

Obra da Linha 5: apesar de atrasada, é a linha mais próxima de virar realidade
Obra da Linha 5: apesar de atrasada, é a linha mais próxima de virar realidade

É preciso viver em algum tipo de oásis, longe da realidade brasileira, para não perceber os sinais da crise econômica que se abateu no país nos últimos anos e que teima em não ir embora. Por essa razão, é natural que gestões públicas responsáveis revejam investimentos e foquem em projetos mais próximos de serem concluídos. É o que fez a Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo sob a gestão de Clodoaldo Pelissioni, que assumiu a pasta em 2015 no lugar de Jurandir Fernandes.

Ciente das dificuldades em tocar tantas frentes de trabalho e já estando claro que faltavam recursos, o executivo optou por suspender trechos dos monotrilhos da Linha 15-Prata e 17-Ouro, por exemplo. As duas obras estavam com várias fases atrasadas e com etapas impedidas de seguir em frente porque a prefeitura de São Paulo não deu sequência ao alargamento de algumas avenidas previstas em seus projetos.

No entanto, a gestão Alckmin nos últimos meses parece ter desistido do ambicioso plano de expansão tão divulgado no primeiro mandato do governador do PSDB. Nada menos que nove linhas estariam em construção, duas delas da CPTM, mas o que se vê hoje é bem menos do que isso.

Alckmin apenas conclui as linhas 5-Lilás, 4-Amarela (essa após um ano parada) e a fase 1 dos monotrilhos da Linha 15 e 17 – além, é claro, da nova linha 13-Jade, da CPTM. Ou seja, quatro das cinco linhas em expansão estão paradas ou pior, nem começaram. E pensar que o governador prometeu o Metrô chegando a Taboão da Serra e ao Jardim Ângela…

A culpa é dos outros

O que incomoda no discurso do governo é o fato dele não assumir a suspensão de várias dessas linhas. Com exceção dos monotrilhos em construção, cujas fases subsequentes estão sem previsão no momento, o restante não está sendo construída por motivos diversos, nenhum deles relacionado à atual gestão, segundo declarações do governador.

A Linha 18-Bronze, monotrilho licitado numa PPP, está há três anos e meio com contrato assinado, porém, as desapropriações não começaram porque não há dinheiro para pagar as indenizações. Quem é responsável? O governo do estado, mas a ‘culpa’ é do governo federal que não permite que São Paulo assuma um novo empréstimo porque estaria numa situação financeira limite. Para Alckmin, o governo pode sim assumir um financiamento, mas nada acontece desde então.

A Linha 9-Esmeralda, da CPTM, passa por uma ampliação que incluirá duas estações ao sul do bairro da Grajaú. Obra em tese simples que já conta com a maior parte dos terrenos em mãos do estado. No entanto, ela dependia de uma verba do PAC que não veio porque o tipo de licitação feita pelo estado não se enquadra nos requisitos da União. A solução? Cancelar a primeira licitação e promover outra. Até agora, nem sinal do novo edital enquanto as duas estações, semi-construídas, estão às moscas na região de Varginha.

O caso mais recente de adiamento ocorreu com a Linha 2-Verde. Expansão das mais vitais para a rede, a linha dobraria de tamanho ao seguir após Vila Prudente e chegar a Guarulhos. Com isso, permitiria um desafogo para a Linha 3-Vermelha, além de tornar-se uma alternativa para moradores de Guarulhos, a segunda cidade mais populosa do estado.

Em verde o que está sendo construído, em vermelho, o que foi prometido e não sai do papel

A licitação foi realizada, havia até uma verba já repassada pelo BNDES, mas o governo resolveu suspender o início da obra por um ano. O prazo acabou em dezembro e recentemente a gestão Alckmin decidiu postergar a data para dezembro de 2017. Na prática, o contrato tem poucas chances de ser executado. As vencedoras são construtoras envolvidas com a operação Lava Jato em parte e estão sem recursos para assumir uma obra tão grande. Se houvesse interesse, o governo poderia cancelar o certame e lançar outro, mas diante da falta de dinheiro optou-se por ‘empurrar com a barriga’ na esperança de uma mudança de cenário.

Sinal mais claro da falta de interesse em tocá-la é o fato de o dinheiro do BNDES ter sido realocado na Linha 5-Lilás. Até mesmo um pedido de entrada no PAC feito na época das vacas gordas, acabou sendo retirado pelo governo federal por falta de envio de dados pelo estado. Quer mais prova de que a linha já não está mais nos planos de Alckmin?

Tatuzões parados

Mas talvez o caso mais chocante de apatia do governo do estado seja a Linha 6-Laranja. Primeira PPP plena no setor metroferroviário, a obra deveria estar a todo vapor neste momento, com as escavações dos dois tatuzões prestes a começar. Mas o que se vê são imensas tendas no canteiro de obras na marginal Tietê, que abrigam os dois equipamentos, desmontados. Vários terrenos que demoraram a ser desapropriados por questões burocráticas e legais agora estão praticamente abandonados pelo percurso por onde passarão os 15 km de túneis.

Tudo porque o consórcio Move São Paulo, vencedor da licitação e único a oferecer um lance, não tem mais dinheiro para tocar a obra. Formada por empresas envolvidas na Lava Jato, incluindo aí a Odebrecht, a empresa não tem crédito na praça e dependia de um empréstimo a juros camaradas do BNDES para dar conta do imenso projeto.

Diante do abandono da Move São Paulo, em setembro, o que fez o governo? Apenas tentar sensibilizar a diretoria do banco de fomento a liberar o valor pedido, algo impossível nas condições atuais. Já se passavam 140 dias desde a paralisação da obra e a nenhuma notícia de multa ou rescisão.

Realidade frustrante

Se as promessas fossem cumpridas, a região metropolitana de São Paulo teria em 2020 em torno de 180 km de metrô, além de quase 280 km de linhas da CPTM. Ou seja, perto de 460 km de trilhos, uma rede respeitável, embora ainda longe da necessária. Mas a realidade está distante disso. Caso não surjam mais imprevistos e mesmo que alguns desses projetos de fato comecem, a rede deverá chegar à próxima década com menos de 390 km, sendo apenas 112 km de metrô. Estão incluídos aí a Linha 15-Prata até a estação Iguatemi (15 km), a primeira fase da Linha 17 (7,7 km), a linha 5 até Chácara Klabin (total de 20 km) e a linha 4 até Vila Sônia (12,8 km).

Será a maior expansão em uma década, é verdade, mas aquém das necessidades da metrópole e, pior, muito pouco para as promessas de quatro ou cinco anos atrás.

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