Novo trem-bala SP-Rio quer evitar regiões centrais e aeroportos

Segundo documentos preliminares enviados pela empresa TAV Brasil, trem de alta velocidade poderia ficar pronto em 2032. Custo estimado é de R$ 50 bilhões
Trem de Alta Velocidade (Hitachi)

O Trem de Alta Velocidade (TAV) está de volta. O projeto de um “trem-bala” entre São Paulo e Rio de Janeiro foi motivo de discussões inflamadas na década passada e acabou fracassando em sua modelagem original, bancada pelo governo federal.

Agora uma empresa paulista acaba de obter autorização para implantar e operar um novo sistema de alta velocidade graças ao programa “Pro Trilhos”, que abriu a possibilidade para que ferrovias privadas sejam construídas tanto para carga quanto para passageiro.

Este site teve acesso aos documentos que foram usados pela empresa TAV Brasil para justificar seu pedido à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), vinculada ao Ministério da Infraestrutura. E o que se descobre é que o novo projeto é bastante distinto do primeiro TAV.

A TAV Brasil, uma sociedade que inclui duas empresas e dois sócios individuais, pretende implantar uma ferrovia apenas entre as capitais paulista e fluminense, com duas estações intermediárias, em São José dos Campos (SP) e Volta Redonda (RJ). Ou seja, nada de extensão até Campinas, hoje foco do Trem Intercidades Eixo Norte, ou paradas nos aeroportos de Guarulhos e Galeão.

Na verdade, o traçado preliminar proposto, de 378 km, evita a região central de São Paulo e do Rio. A capital paulista, por exemplo, ganharia uma estação na região de Pirituba, em uma área que foi cogitada na candidatura da cidade para sediar a Exposição Mundial de 2020 – que no fim foi vencida por Dubai.

O local foi apontado como de propriedade pública, o que evitaria desapropriações. Além disso, os proponentes enxergam a possibilidade de a Linha 6-Laranja um dia chegar até a região, como já havia sido previsto. Perto desse local há também a Linha 7-Rubi, que futuramente será concedida junto ao Trem Intercidades.

No Rio, o novo “trem-bala” nem entraria na cidade praticamente. A ideia é que ele tenha uma estação em Santa Cruz e de lá o passageiro contaria com um ramal de trem da Supervia para chegar a regiões mais centrais.

A mesma filosofia foi adotada para definir as localizações das estações de São José dos Campos e Volta Redonda. A primeira ficaria próxima do entrocamento entre as rodovias Carvalho Pinto e Tamoios, ao sul da cidade. Já no município fluminense a estação ficaria num ponto próximo da Rodovia dos Metalúrgicos, a leste da área urbana.

Se a maior parte do trajeto será em superfície, nos trechos urbanos haverá túneis para minimizar o impacto para os moradores. Apenas na Grande São Paulo são estudados três grandes trechos subterrâneos com 3,5 km (Áruja), 8,5 km (Guarulhos) e 20 km (São Paulo).

O pátio de manutenção será implantado numa região próxima à estação de São José dos Campos numa área livre de urbanização.

O traçado de 378 km

Início da operação comercial em 2032

Segundo os dados constantes no processo, o Trem de Alta Velocidade usará trens com tração por eletricidade e alimentação por catenária. Serão 45 composições inicialmente, com configuração de 10 ou 20 vagões e locomotivas do tipo “push-pull” ou automotrizes.

A bitola será internacional (1.435 mm), como a usada nas linhas 4-Amarela e 5-Lilás do Metrô de São Paulo. Já o sistema de sinalização e controle de trens é o ERTMS-2 (European Rail Traffic Management System), usado na União Europeia.

Inicialmente, não localizamos informações sobre demanda ou desempenho, embora existam limites de velocidade para cada região do trajeto.

Em trechos fora da área urbana, os trens poderão atingir até 330 km/h enquanto em regiões mais adensadas esse limite pode cair para 230 km/h ou 80 km/h. É possível imaginar que o tempo de viagem deverá se situar um pouco acima de uma hora, dependendo da existência de paradas no serviço.

Características dos trens

O cronograma atual prevê que os estudos e projetos se prolonguem até dezembro de 2024. A obtenção das licenças prévias e ambiental de instalação, que permitirão o início das obras, são estimadas para junho de 2025 e junho de 2026, respectivamente.

As obras foram divididas em seis lotes, começando por São Paulo (Lote 1), o trecho São Paulo-São José dos Campos (2), São José dos Campos-Taubaté (3), Taubaté-divisa SP-Rio (4), Divisão SP-Rio-Volta Redonda (5) e Volta Redonda-Rio de Janeiro (6).

O cenário no momento é que o serviço do trem de alta velocidade tenha início em junho de 2032, segundo a tabela que consta no processo.

O cronograma baseado no início do projeto em 2023

O custos, como se imagina, são “estratosféricos”: nada menos que R$ 50 bilhões. Desses, R$ 35 bilhões seriam investidos nas obras civis, R$ 6 bilhões nas desapropriações e custos sociais e ambientais, e o restante (R$ 9 bilhões) nos trens, sistemas e infraestrutura.

A TAV Brasil inclusive imagina como obterá o financiamento, por meio de investidores, fundos de pensão, construtoras e operadoras de trens.

Diante dos problemas enfrentados por projetos anteriores e mesmo mais simples como o trem regional paulista, o novo TAV precisará mostrar mais argumentos convincentes no futuro para vencer a burocracia e incertezas brasileiras. Até lá resta torcer.

Investimento de R$ 50 bilhões

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27 comments
  1. Esse TAV BRASIL ,ira estragar o TIC-SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (projeto estadual de Sp) ,faz sentido nenhum ter essa estação aii ,era pra Ter uma parada no centro de SP e depois seguir reto sem paradas até a divisa dos ESTADOS, reduziria custos estratosfericos que terão colocando essa parada em São José dos Campos

    1. Estaçoes em Pirituba e Santa Cruz para adicionar 1h em cada lado da viagem. Queria eu ser quem fez a ponte entre governo e lobby das empresas de ônibus e avião pra embolsar uns presentinhos na negociação

    2. Inimaginável não fazer parada na em São José. Dadas as proporções, mas é como se construíssem a Linha 2 Verde sem estações na Paulista ou a Linha 20 – Rosa sem estações na região da Faria Lima.

      1. Projeto já tem 2 erros gigantescos ,não tem estação no Centro de SP e nem no AEROPORTO Internacional de Guarulhos, não adianta colocar uma estação em São José dos Campos, sendo que já tem um erro grotesco no início, da onde vai vir a demanda para isso??

        Em contra partida ainda vai estragar o TIC (TREM INTERCIDADES) SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (projeto estadual) , que iria utilizar esse traçado e atender a essa cidade (e todas demais até Aparecida), conectando diretamente ao centro de SP

        1. Se de fato a Linha 6 for expandida até lá, não vejo problema e não passar pelo Centro. Quanto ao TIC não vai matar já que o mesmo deverá ser mais em conta e ter mais paradas, o que atrai mais gente.

  2. Não tem sentido construir um trem de alta velocidade para deixar os passageiros em Santa Cruz, para depois eles terem que vir para o Centro usando um trem da Supervia. Esse projeto é estúpido, isso não faz o menor sentido, não tem a menor chance de dar certo. Só a viagem de Santa Cruz ao Centro vai levar mais tempo que a viagem de São Paulo à Santa Cruz, fora que os trens da Supervia não funcionam direito, essa concessionária presta um péssimo serviço de transporte ferroviário à população.

  3. Entendo que eles estão colocando as estações no meio do nada pra reduzir os custos, mas isso também vem com um preço grande na utilidade e comodidade do projeto, uma das grandes vantagens dos trens de alta velocidade é como eles ocupam pouco espaço comparado a outros modais de transporte, então dá pra fazer uma estação no centro, um lugar fácil de chegar, em que você não precisa ficar em um carro por uma hora para se deslocar até lá.
    A estação Tóquio por exemplo, central na rede Shinkansen japonesa, fica no meio do distrito financeiro da maior cidade do mundo.
    O caso da estação São Paulo não é ideal, a estação Luz ou até o Campo de Marte como previsto nos planos da década passada seriam melhores mas é ok, meia hora na linha 6 não seria um problema tão grande, o problema maior que eu vejo é a Estação Rio de Janeiro, aquilo tá no meio do nada, todo mundo vai chegar lá de taxi ou carro, e se for pra fazer uma conexão sobre trilhos até a região central, por que não fazer esse ser simplesmente o trem bala?

  4. Não entendo por que escolheram fazer a estação São Paulo no meio do nada, de acordo com os diagramas, o trem bala passaria diretamente por baixo da estação Portuguesa-Tietê, lá seria um ótimo lugar pra implantar a estação, tem muitos estacionamentos de superfície e espaço mal utilizado naquela região, além de uma ótima conexão com o metrô, entendo que tirar o fim da linha da região central é importante para deixar mais fácil futuras extensões rumo Campinas/Curitiba, mas uma das principais vantagens do trem bala sobre os aviões é que pode ter estações em regiões centrais, no extremo Noroeste da capital, como previsto naqueles planos, a maior parte da população teria que demorar bastante pra se deslocar até lá.

    Isso sem nem mencionar a estação Rio, que é muito pior no aspecto de inacessibilidade.

  5. em teoria é um projeto privado, se faz sentido ou nao, os sócios fazem o que quiser. Minha unica duvida é quanto tempo vai demorar pra aparecer algum prefeito com a mesma linha de raciocinio e EXIGIR uma estação na cidade alegando “função social” ou “incentivo ao desenvolvimento”.

    1. sim, totalmente privado. não sei nem de onde algum político tiraria a ideia de se meter num projeto desses, não tem nada para eles lá…

      1. Eu era criança já ouvia falar nesse trem , hoje com 51 anos tenho esperança de que meus tatatataranetos desfrutaram dessa maravilha

  6. Balela. Em São Paulo esta estação estará longe dos polos geradores de demanda. Da Paulista ou da Faria Lima até Pirituba são pelo menos uma hora de viagem. Chegando no Rio, o passageiro sairá de um trem de alta velocidade para a Supervia em todo seu Esplendor no extremo da zona oeste onde o Pax terá ainda de viajar mais uma hora até a zona sul ou Barra. Nunca este transporte vai concorrer com o avião assim. Pois na ligação Congonhas – SDU o passageiro embarca e desembarga no centro da cidade (Rio de janeiro), e no caso de São Paulo ao lado dos principais polos empresariais da cidade.

  7. Qual a chance de competir com aviões em um cenário em que o trem sai de Pirituba e chega até o extremo oeste do RJ? Vai acabar tendo a mesma baixa procura do trem que liga Engenheiro Goulart ao “aeroporto de Guarulhos” (a 3 km de onde estão os terminais principais)! Não tem sentido isso.

  8. Já realizei uma viagem em um trem bala na Espanha. Madrid X Sevilha. Maravilhoso, sensacional. Porém, é muito caro p os padrões brasileiros. É uma tremenda ilusão acreditar nessa possibilidade de implementar um modal de transporte a um custo razoável.
    Antes que alguém dê exemplos como a China é necessário deixar claro que ax dezenas de trens balas chinesas, tem como objetivo a integração política entre suas regiões. A maioria das linhas são deficitarias. Sou um entusiasta do transporte ferroviário. Mas com os pés no chão.

  9. Isso ficará pronto em dois mil e nunca, pois é inviável do jeito que está sendo proposto e os custos são muito grandes para a implantação, não vai dar pra fazer!

  10. MICO né?

    É mais do que necessário passar pelo centro de São Paulo e no mínimo GRU, pois imaginou ter que ir até Pirituba? Kkkk dependendo de onde a pessoa sairia, vai demorar mais para chegar em Pirituba do que no Rio de Janeiro.

    Acho que pelo menos Taubaté, Guaratinguetá e Aparecida precisariam estar inclusas, visto que o potencial turístico da região e fácil acesso ao litoral norte precisam ser levados em consideração. Ou incluir um serviço rápido de trens aproveitando o TIC, estendendo ele também…

    Ou o melhor mesmo seria: VCP – SP (pensando em distribuir demanda talvez uma estação mais para Água Branca) – GRU – SJC – V. Redonda – B. Mansa – GIG – SDU (talvez).

  11. Ao invés de gastar dinheiro neste trem de alta velocidade seria melhor investir este dinheiro em metrô e trens metropolitanos nas metrópoles brasileiras assim as pessoas iriam diminuir o tempo de viagem no seu dia a dia e diminuir o uso de transporte individual. Como diz um ditado clichê: “País desenvolvido não é onde o pobre compra carro, mas onde o rico usa o transporte público. ” Isto é o que é alcançado com os metrôs, trens metropolitanos, monotrilho e VLTs.

  12. O grosso da população que iria usar esse TAV está situada na região da Paulista, Moema, Jardins, Faria Lima, teria que até Pirituba pela L6 que talvez um dia chegue lá.
    Depois de vai lá saber quanto tempo vai “chegar” no Rio, ou melhor em Santa Cruz e pegar o Supervia que a qualquer momento vai deixar de existir, de tão degradado está o sistema.
    Daí a pessoa olha logo ali Congonhas funcionando faz décadas e em menos de 1 hora está no Santos Dumont no centro da cidade e com certeza o custo será menor que esse TAV.
    Já está nascendo morto.

  13. Na minha opinião a estação São Paulo deveria ser na Barra Funda, visto que é o “Hub” de SP, o trecho em SP deve ser subterrâneo msm, ent puxar pra Barra Funda seria o ideal.
    No caso do Rio de Janeiro a parada é muito longe, não seria uma tarefa difícil o trem bala ir paralelo aos trilhos da Supervia até o Centro. Esse projeto é interessante mas falho em alguns aspectos.

  14. Nem precisa ser um gênio em transportes para saber que não vai dar certo. A maioria dos comentários reforça isto. Todo tempo ganho na viagem será perdido se for somado aos tempos de deslocamento de áreas remotas das duas capitais às suas regiões centrais ou à seus polos urbanos de negócios. Fazer alguém que pagou por um serviço confortável e prático mudar para um serviço lento e ruim e justamente no final da viagem, não faz o menor sentido. E não estou fazendo uma crítica elitista do modal. Estou raciocinando em cima de uma realidade onde a provável tarifa do serviço será sim algo elitista e este público é naturalmente muito exigente. Não vai se sujeitar ao transporte público urbano. Vai preferir o avião.

  15. Que grande maluquice. Um projeto de 50 bilhões que liga o nada ao lugar nenhum. Um trem que não passa por aeroportos, não tem estações em regiões centrais vai ter demanda de onde?? Que viagem.

  16. Que lugar horrível escolheram pra estação rio de janeiro, pegar outro trem da supervia??? com aquele serviço meia boca? Tão pedindo pro projeto bilionário fracassar.

  17. Realmente o novo deve ser bem melhor que o antigo. E por apenas 50 bilhões, uma pechincha. Então você vê o histórico desse tipo de obra de um certo governo e já sabe que vai custar 50 bilhões de dólares. Fica com o antigo TGV mesmo, que funciona muito bem.

  18. Estação longe do Centro? Que loucura é essa? Uma estação central seria uma enorme chance de revitalização do centro. Não dá pra acreditar numa coisa dessas…

  19. o novo marco regulatório ferroviário permite aberrações como estas. este projeto não sai do papel, é só para marcar terreno. não precisa nem perder tempo com isso.

    esse novo sistema de autorizações, que a principio visa facilitar e destravar novos projetos, é um abacaxi danado, que no futuro vai ocasionar o mesmo que aconteceu na primeira metade do século passado, com um monte de companhia ferroviária falindo, entregando o abacaxi pro estado e o estado tendo que encampar os serviços. foi assim que surgiram RFFSA, FEPASA, etc.

    é impressionante como nada aqui no Brasil tem uma politica de estado. tudo é visando um puxadinho, jeitinho, favorecimento.

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