A ViaMobilidade poderia assumir as obras da Linha 17-Ouro do monotrilho?

Governo do estado voltou a afirmar que ofereceu a possibilidade à CCR, empresa que lidera a concessionária, mas considera esse o “plano C” para finalizar ramal
Obras da Linha 17-Ouro (Jean Carlos)

Durante a entrevista à Revista Ferroviária na semana passada, o secretário de Parcerias em Investimentos, Rafael Benini, voltou a citar a possibilidade de o governo do estado repassar a conclusão das obras da Linha 17-Ouro à ViaMobilidade.

A hipótese é tratada como “plano C” no cenário imaginado pela gestão Tarcísio de Freitas. A primeira é convencer o Consórcio Monotrilho Ouro (Coesa e KPE) a cumprir o contrato assinado há mais de dois anos enquanto o “plano B” seria chamar o 3º colocado na licitação realizada em 2019, no caso o Consórcio Paulitec-Sacyr.

O governador já fez o pedido para a CCR [empresa líder na concessionária ViaMobilidade]. O que está no contrato dela é a operação da Linha 17. Queremos que incorpore também a finalização da obra, o que faz sentido, porque o monotrilho é uma obra muito específica e a conclusão dela e a escolha do trem tem muita relação com a operação depois“, disse Benini, reconhecendo, no entanto, que a ViaMobilidade não tem qualquer obrigação nesse sentido.

O secretário se mostrou reticente quanto à capacidade do Consórcio Monotrilho Ouro de finalizar o trabalho. Como este site mostrou recentemente, os canteiros de obras foram esvaziados desde o final de dezembro. A empresa tenta convencer o Metrô a reajustar os valores previstos no contrato alegando aumento dos custos dos insumos.

Sobre o Paulitec-Sacyr, o consórcio fez uma proposta de R$ 513,2 milhões na época, R$ 14,6 milhões a mais que a Coesa, que se tornou vencedora da licitação após tirar a 1ª colocada no certame, a Constran, em processo na Justiça. Para assumir o restante da obra, o consórcio que ficou em 3º lugar certamente terá de rever os valores por conta dos serviços que já foram executados e também da atualização dos custos nesse período de quase quatro anos. Resta saber se há alguma margem de lucro em herdar o problema.

Pátio Água Espraiada em 1º de fevereiro: funcionários, que já não eram muitos, sumiram (iTechdrones)

Ganhando com a obra parada

O “plano C”, por sua vez, é bastante inusitado. Embora Benini tenha citado casos semelhantes, como nas obras do Contorno da Tamoios, assumida pela concessionária, a Linha 17-Ouro tem peculiaridades que tornam essa hipótese menos óbvia. A principal delas é que a ViaMobilidade, que irá operar o ramal de monotrilho, tem no contrato de concessão uma claúsula que prevê o ressarcimento pelo período em atraso na entrega, assim como ocorreu com a ViaQuatro e a segunda fase da Linha 4-Amarela.

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Segundo o contrato de concessão, assinado em 5 de abril de 2018, a ViaMobilidade Linhas 5 e 17 deveria ter recebido a Linha 17 na chamada “Fase III”, marcada para ocorrer até 480 dias após o início da operação comercial na Linha 5-Lilás. Como se sabe, a concessionária assumiu o ramal no segundo semestre de 2018, portanto, o ramal de monotrilho deveria ter sido repassado à ela por volta de 2020.

A partir do momento em que a previsão não foi cumprida, cabe à ViaMobilidade o direito de solicitar recomposição do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. Nesse cenário, o governo já está devendo ao menos três anos de remuneração à empresa pela impossibilidade de realizar o serviço. Como a inauguração não tem até hoje uma data segura, esse ressarcimento só tende a crescer à medida que o prazo do contrato avança – são 20 anos de concessão, dos quais cinco serão completados neste ano.

O trecho da Linha 17-Ouro na Marginal Pinheiros sem funcionários (iTechdrones)

Ou seja, a situação da ViaMobilidade hoje é confortável em relação à Linha 17. A incapacidade do governo estadual em concluir o projeto gera lucros sem riscos, daí parecer pouco provável que ela se ofereça a resolver o problema. Para assumir o imbróglio seria preciso oferecer uma contrapartida generosa, seja em remuneração pelo serviço, extensão do prazo de concessão ou ambos.

Diante das dificuldades enfrentadas na concessão das linhas 8 e 9 e do apetite por outras concessões demonstrado pela CCR, parece pouco atraente assumir também o monotrilho da Zona Sul. Lembrando ainda que a ViaMobilidade estuda a extensão da Linha 5 até Jardim Ângela, um projeto que já permitirá que ela fique à frente da operação por mais tempo.

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17 comments
  1. A CCR está se tornando dona do Estado de São Paulo, ela é quem dirá as regras, governador e ministério público não apitam nada.
    É muita hipocrisia o atual governador dizer em entrevista que a preocupação dele é o passageiro e por isso visa as concessões, kkkkkkkk, é uma piada.

  2. Se essa obra parada de mais de 10 anos não cair com as chuvas deste verão, a ViaMobilidade já terá uma boa prova dos nove…

  3. Apesar de claramente demonstrado pelo site da baixa evolução das obras físicas locais, o governador falastrão anuncia que enviará uma missão para visitar a fábrica da BYD na China se tornará inócua pois a infraestrutura não estará pronta para recebe-los em mais um passeio turístico seus ocupantes sem efeitos práticos.

    O recalculo com o resultado das recentes reduções das demandas das Linhas 2-Verde (-)9,9%, 15-Prata (-)20,9% e principalmente desta Linha 17-Ouro (-)43,6% em erros de cálculo grosseiros ficando comprovado quanto equivocado está o planejamento, pois se tivessem levado em conta pela Pesquisa Origem Destino das Linhas Metropolitanas comprobatórias atualizadas (2022), visto edição mais recente ser de 2017, além de proporem de forma atabalhoada sem fundamento algum, a mudança da Lei do Zoneamento no Plano Diretor da região por onde se trafegaria a Linha 17-Ouro demonstrando que ou estão pressionados politicamente ou desfocados da realidade, lançando linhas de forma aleatória e despreparados para administrar contratos e do andamento e fiscalização de obras, e calcular a demanda e o deslocamento de passageiros, além do dimensionamento das obras Metrô ferroviárias, principalmente quando se trata de integração de Linhas.

      1. Prezado, se as explicações e argumentos muito bem detalhadas e esplicadas pelo site com cronogramas lógicos, mais os comentários da maioria das opiniões e conclusões a se juntar a matérias passadas não foram suficientes para seu entendimento e conclusão para mim é óbvia que a ViaMobilidade não vai querer entrar nesta fria. É ingenuidade ou desconhecimento do secretário propor isto achando que ela iria aceitar!

  4. Apesar de claramente demonstrado pelo site da baixa evolução das obras físicas locais, o governador falastrão anuncia que enviará uma missão para visitar a fábrica da BYD na China se tornará inócua pois a infraestrutura não estará pronta para recebe-los em mais um passeio turístico seus ocupantes sem efeitos práticos.

    O recalculo com o resultado das recentes reduções das demandas das Linhas 2-Verde (-)9,9%, 15-Prata (-)20,9% e principalmente desta Linha 17-Ouro (-)43,6% em erros de cálculo grosseiros ficando comprovado quanto equivocado está o planejamento, pois se tivessem levado em conta pela Pesquisa Origem Destino das Linhas Metropolitanas comprobatórias atualizadas (2022), visto edição mais recente ser de 2017, além de proporem de forma atabalhoada sem fundamento algum, a mudança da Lei do Zoneamento no Plano Diretor da região por onde se trafegaria a Linha 17-Ouro demonstrando que ou estão pressionados politicamente ou desfocados da realidade, lançando linhas de forma aleatória e despreparados para administrar contratos e do andamento e fiscalização de obras e empreiteiras, e calcular a demanda e o deslocamento de passageiros, além do dimensionamento das obras Metrô ferroviárias, principalmente quando se trata de integração de Linhas.

  5. Esse secretário é um completo despreparado. Desconhece os trâmites mais básicos da administração pública. É óbvio que isso é inviável.

  6. Discordo que a CCR possa solicitar reequilibrio em seu favor, tendo em vista que a operação da linha 17 é deficitária. Pelo contrário, o Estado que deveria cobrar da CCR os valores que ela está lucrando por não ter que operar o monotrilho. Inclusive, o fato da linha 17 ser deficitária foi o que justificou o valor tão baixo na outorga da linha 5. Fonte: https://m.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/10/1928248-monotrilho-de-alckmin-ate-congonhas-dara-prejuizo-estado-tenta-concessao.shtml

  7. Por que o tal Tarcísio e seu secretário idiota também não concedem os cargos deles pra CCR logo? A Concessionária já é praticamente dona do Estado mesmo.

    1. Pra mim é impressionante o pq ninguém responsável pela implantação da linha 17 foi preso. Um exemplo mundial de fracasso no planejamento de um projeto. E o pior ainda é que as mesmas construtoras que abandonaram pegaram mais contratos para executar o monotrilho da ZL. Essas empresas em países mais sérios não deveriam nunca mais participar das licitações. Vergonha!

      1. Vale lembra, até onde sei, que era um braço da CCR que estava construindo a Linha 4-Amarela. Aí o braço construtor atrasa e a Via 4 recebe compensação pelo atraso… Kkkkkkkkkkk

        Óbvio que a CCR não vai querer assumir essa bucha se ela tá só lucrando com a situação né…

        Esses contratos do governo são uma piada. E nós somos os palhaços.

  8. Pesquisem um podcast chamado infração. A CCR é um dos principais patrocinadores. A maioria desses secretários aparecem lá. O podcast é com a doutora e ex-secretária de SP Isadora Cohem e seu marido o ex-secretário Fernando marcado. Os assuntos lá é sobre ppps e privatizações.

  9. Pela que entendi o Estado poderá pagar um valor alto multa para concessionária, pois acho que isso não resolve só em 2025 ou mais. Talvez esse valor seja igual louco maior para o término das obras.

  10. Uma das maiores máquinas de desperdício de dinheiro público e zombaria com o cidadão.

  11. É muita hipocrisia o atual governador dizer em entrevista que; “A preocupação dele é com os passageiros e por isso visa as concessões”, lembrando que também está sendo julgada a Ação Direta de Inconstitucionalidade 7048 é um dos processos que correm em tribunais federais que questionam a renovação da concessão do Corredor ABD sem licitação com a concessionária Metra (atual “Next”), as irregularidades e o cambalacho que eliminava um “concorrente” para sua concessão, foi acatada pelo ex-governador Dória a despeito de comprovadamente oferecer um serviço muito inferior ao monotrilho Linha 18-Bronze, fruto de uma Parceria Público-Privada assinada em 2014 com a empresa VEM ABC.
    Aonde ele quer chegar ao tentar subir o tom ao criticar o Ministério Público por fiscalizações e denunciar com clareza estas inúmeras irregularidades comprovadas por tentar “governar” o Estado.

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