Até guindaste que tomba vira ‘culpa’ do monotrilho

Imagem do guindaste na Anhaia Mello (Reprodução Jovem Pan)

No início da década de 90, o ex-piloto de Fórmula 1 Nelson Piquet realizava os primeiros treinos para as 500 Milhas de Indianápolis nos EUA quando foi entrevistado sobre o que achava da competição.

Com seu jeito irreverente, Piquet reclamou que a prova vivia sendo interrompida por bandeiras amarelas: “O cara roda, é bandeira amarela. Passarinho cagou na pista, é bandeira amarela”, ironizou.

Trazida para os dias de hoje, a crítica pode ser adaptada ao monotrilho. Volta e meia e recaem críticas ao modal, como os leitores deste site estão acostumados a ler. A mais nova é digna do “passarinho” da Fórmula Indy: um guindaste a serviço do Consórcio Monotrilho Leste acabou tombando durante um lançamento de viga-trilho no trecho próximo à estação Vila Prudente.

Felizmente, o episódio não provocou vítimas, apenas a cena curiosa do veículo com as rodas no ar na avenida, causando congestionamento por conta da interdição das pistas. Mas por ser relacionado ao monotrilho, o assunto serviu para gerar mais mídia negativa para o modal.

A Folha de São Paulo, maior jornal do país, não perdeu a chance de produzir uma reportagem em que o guindaste é associado a problemas do Metrô e ao caso do estouro do pneu de uma composição Innovia 300 no ano passado.

O monotrilho da Linha 15 tem problemas a serem superados, mas há um exagero em associá-lo a um projeto fracassado (GESP)

Teria o tombamento do guindaste sido apenas uma curta nota de serviço, a fim de orientar possíveis motoristas a evitar a região caso não tivesse ocorrido na obra da Linha 15-Prata? Provavelmente.

A Jovem Pan, por exemplo, abordou o assunto nesse sentido, citando o fato de o equipamento ter sido usado nas obras da extensão do monotrilho, mas sem sugerir isso como mais um “problema” do ramal.

No entanto, a grande imprensa não perde o hábito de seguir à risca uma “narrativa” para se mostrar coerente aos seus leitores. Se o monotrilho é ruim, assim será para sempre. Se o Facebook rouba anúncios de veículos como a Folha, então ele invariavelmente terá manchetes ruins, em que pese a rede social ter um papel preocupante na sociedade atualmente.

É uma pena que a qualidade do jornalismo esteja tão baixa. Todos cometemos erros de julgamento e ultimamente a pressa em publicar artigos por conta da exposição em redes sociais e nos mecanismos de busca têm incentivado ao uso de comunicados de imprensa na íntegra, textos sem qualquer profundidade e o pior, conteúdos intencionalmente direcionados a produzir um efeito que interesse a uma minoria, mesmo que eles desafiem os fatos.

Para quem acha que este site é um defensor ferrenho do monotrilho, basta pesquisar nossos artigos para encontrar críticas ao modal. Não nos isentamos de apontar problemas, mas buscamos separar o que é de fato relacionado a ele de ocorrências comuns, até mesmo a queda de um guindaste.

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