BRT-ABC transforma estação Tamanduateí do monotrilho em praça simplória

Projeto que foi negligenciado pela EMTU por meio da Lei de Acesso a Informação mostra uma estação susceptível a alagamentos e aquém da demanda prevista na Linha 18-Bronze
Planta do terminal de ônibus do BRT-ABC em Tamaduateí

Anteriormente prevista para receber uma estação da Linha 18-Bronze do monotrilho, a ligação com as linhas 2-Verde e 10-Turques em Tamanduateí teve seu projeto reduzido à um modesto terminal de ônibus anexo a uma praça por conta do BRT-ABC, bancado pela concessionária Metra.

O corredor de ônibus, um dos projetos de mobilidade mais controversos dos últimos anos, substituiu a Linha 18 oferecendo um terço da sua capacidade e viagens 50% mais demordas que o monotrilho.

Este site analisou as informações que apareceram no 13º termo aditivo do contrato de concessão do Corredor Metropolitano ABD, que incluiu a operação dos ônibus da chamada Área 5 e a construção do BRT que tem sido alvo de julgamento no STF por suspeitas de irregularidades, entre outros processos na Justiça comum e no Tribunal de Contas do Estado.

Estações do BRT-ABC (EMTU)

O terminal Tamanduateí do BRT ABC será implantado na quadra delimitada pela Av. Presidente Wilson, Rua Aida e a Rua Roberto Koch. O local atualmente é um terreno descampado parcialmente ocupado por pilares que sustentam um trecho da Linha 2-Verde.

Para a construção do novo terminal será necessário modificações na geometria do sistema viário, sobretudo na Av. Presidente Wilson de forma a não congestionar o tráfego.

Ainda segundo o documento é prevista a construção de uma passarela de integração entre o terminal e as estações do sistema metroferroviário. 

Terminal Tamanduateí do BRT-ABC (EMTU)

Apesar da integração física garantir segurança e acessibilidade, não está confirmado se haverá integração tarifária entre os modais, o que vai prejudicar o passageiro que deverá pagar nova passagem, geralmente mais cara do que a do transporte sobre trilhos – no caso da Linha 18, o usuário poderia circular em toda a rede metroferroviária com o pagamento de apenas uma tarifa.

As imagens obtidas no documento revelam uma estrutura mais modesta com capacidade para acomodar até quatro ônibus articulados na plataforma central e três nas plataformas laterais. O local no geral será bastante arborizado.

Comparação com o monotrilho

A comparação com o monotrilho da Linha 18-Bronze mostra que o projeto encabeçado pela NEXT Mobilidade, novo nome da Metra, não é só desproporcional como pode estar fadado a possíveis retrabalhos dado à demanda.

Segundo dados do Estudo de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) do ramal de monotrilho a demanda esperada para a estação Tamanduateí seria de 97 mil passageiros num cenário de operação em 2015. O número aumentaria para 130 mil quando a demanda estivesse consolidada em 2030.

Localização da estação Tamanduateí da Linha 18-Bronze (VemABC)

A estação do monotrilho seria localizada na margem leste da via férrea e seria plenamente integrada à estação de forma que os passageiros pudessem realizar a integração livre entre as linhas já existentes e o monotrilho.

Com três vias e três plataformas, a estação estaria dimensionada para atender um grande volume de passageiros que, através de transferência gratuita, poderiam ter maior economia de tempo e de dinheiro em seus deslocamentos. Por serem elevadas, as linhas 2-Verde e 18-Bronze teriam uma conexão rápida, reduzindo ainda mais o tempo de viagem.

Veja abaixo como seria o projeto da estação construída pela VemABC:

Silêncio da EMTU

A carência de informações sobre o projeto do BRT-ABC e seus detalhamentos é um problema grave que impede a sociedade civil de acompanhar e opinar sobre a opção de mobilidade escolhida pela antiga gestão.

Neste sentido o site recorreu diversas vezes à Lei de Acesso a Informação pedindo mais dados sobre o BRT tanto para a Secretaria dos Transportes Metropolitanos como para a EMTU.

Das demandas enviadas, a STM retornou com a seguinte resposta:

“Em resposta ao Protocolo nº 82162212720, após análise pela área ténica desta Pasta, verificou-se que o assunto não é de responsabilidade da STM.

Em virtude do prazo já ter transcorrido, o que impede o redirecionamento, orientamos efetuar seu pedido ao SIC da EMTU Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo, pelo site: https://www.emtu.sp.gov.br/EMTU/home/home.htm

Já a EMTU descumpriu de forma reiterada a Lei de Acesso à Informação e ignorou todas as petições enviadas. Mesmo após recurso obtido via Coordenadoria de Ouvidoria e Defesa do Usuário Público a estatal manteve-se em silêncio.

A última solicitação enviada à gerenciadora do transporte metropolitano de ônibus foi realizada no dia 20 de setembro. Em 11 de outubro o prazo foi renovado em mais 10 dias e no dia 22 de outubro a resposta continuava sendo nula, uma vez que venceu-se o prazo para resposta do órgão.

O 13º aditivo contratual comprova que a EMTU tem acesso às informações, mas por razões não esclarecidas, tem se negado a prestar a informação, mesmo que um retorno negativo, quanto à demanda solicitada dentro da legalidade.

De projeto arrojado para uma praça simplória

O projeto do terminal Tamanduateí proposto para o BRT ABC reduz de forma evidente a eficiência na mobilidade dos cidadãos do ABC. Como poderia se justificar uma estrutura tão modesta para uma demanda tão grande?

A primeira explicação pode envolver uma menor adesão ao modal. A falta de integração tarifária gratuita, motivaria os passageiros a optarem por seguir seus destinos utilizando a ferrovia que é mais rápida em comparação com os ônibus. Isso justificaria uma construção mais compacta.

Outra hipótese seria subdimensionamento do terminal, por conta de custos já que o projeto é bancado pela empresa privada. Além disso, a opção pode resultar em problemas como alagamentos que ocorrem em período de grandes chuvas.

Local onde o terminal será implantado possui riscos de alagamento (TV Globo)

É muito difícil acreditar que, por mais arrojado e milagroso que seja vendido o BRT-ABC, o mesmo dê conta de resolver problemas estruturais de drenagem das aguas pluviais. A concepção do terminal é a condenação da interrupção de uma operação em situações de adversidade climática.

Comparando as estações elevadas do monotrilho, é evidente que o modo metroferroviário se sobressai pela qualidade do serviço prestado e pela capacidade que tem em transportar as pessoas, bem como pelo impacto positivo no entorno das estações.

Estação Tamanduateí da Linha 18-Bronze, projeto descartado para a implantação do BRT (VemABC)

Esta comparação poderia ser ainda mais técnica e aprofundada, caso as informações, negligenciadas reiteradamente pela EMTU, tivessem sido fornecidas através dos instrumentos legais.

 

Terminal Tamanduateí, que substituirá a Linha 18-Bronze de monotrilho (EMTU)

É necessário expor para a população, sobretudo para os passageiros do ABC, quais os impactos que a mudança abrupta de projetos tem no transporte. Históricos aprofundados, com mais elogios do que informações técnicas, pouco contribuem para a real discussão sobre mobilidade urbana.

Projeto do BRT-ABC (EMTU)

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  1. Não existe alguma chance desta porcaria de BRT não sair do papel? Digo isso, pois é melhor não fazer nada do que gastar muito dinheiro com um lixo deste…

    Quem sabe o próximo governador, não retorne com o projeto do monotrilho…

    Ps: Não falo sobre o Tarcisío e sim do que virá depois deste, pois sabemos que ele já está com rabo preso com o pessoal do PSDB também, visto ao apoio ridículo na eleição que o pateta Rodrigo Garcia ofereceu ao Tarcício, já visando claro os velhos interesses políticos.

    1. Só que até o próximo governador chegar, essa porcaria já pode estar com obras bem avançadas, o que “impede” uma interrupção.

    2. A licitação está sendo julgada no STF, só que o Gilmar Mendes tá atrasando o julgamento faz uns 6 meses

  2. A Metra tem um poder político na região muito forte. Outro caso recente foi o prefeito Ricardo Nunes ter forçado a todas as empresas da capital a renovarem apenas com ônibus elétricos a bateria. Adivinhem quem foi a maior beneficiada: Eletra, fabricante de componentes para veículos elétricos do grupo Metra. Isso não pode ser coincidência. Os donos da Metra devem ter pago muito dinheiro para esses cidadãos de bem do PSDB (e agregados).

    1. Se tem uma coisa que não desce é essa mudança bizzarra do monotrilho pra BRT. Vendo a linha 6 com as obras andando só me faz pensar se essa linha estaria sendo tocada também. Quero ver os projetos pra ver se vão construir mais pistas para os ônibus ou usar as existentes, pq se for está opção da via existente vai ser um desastre o trânsito. Avenida Lauro Gomes e Guido Aliberti já são um inferno em horário de pico. Não que o Monotrilho fosse a solução ideal mas acredito que seria feito com os pilares margando o ribeirão dos meninosb em que poderia, quem sabe, fazer alguma ciclovia na parte inferior.

  3. Essa porcaria vai ferrar com a população, se essa pracinha for construída vai tirar o ponto de ônibus da linha 5025, a região já não tem uma linha de ônibus bom, somos dependentes do 5028 que demora 20 minutos para sair, o monotrilho serviria para nos salvar do péssimo serviço da SPTRANS.

  4. Kkkkkkkkkk sério mesmo que vocês acreditam que isso vai sair do papel? Ah gente. Rsrs. Tolinhos!

  5. O lobby das empresas de ônibus prevaleceu, como sempre, em detrimento do que é melhor para ligar o ABC a cidade de SP e vantajoso para população. Entendo que cabem os 2 tipos de modais, sendo que a prioridade deveria ser o metrô/monotrilho, por parte do Estado, e a iniciativa privada o BRT sem dinheiro público.

  6. O que? Este BRT vai passar pela Presidente Wilson?Esta avenida não comporta isto. Se este BRT for construído não deve passar da Tamanduatei e seria melhor o terminal ficar na avenida Guamiranga. Se bem que o melhor é voltar a pensar no monotrilho.

    1. Vai ser lindo os ônibus desviando dos buracos da Presidente Wilson e competindo espaço com os caminhões, tudo isso só para agradar o lobby da empresa de ônibus.

  7. Calma que falta pouco pra esse contrato do BRT ser cancelado de vez. Deus escreve certo por linhas tortas. A população já se livrou do trenzinho da disneylândia e agora vai se livrar do corredor aquático também. Não ignoro o desperdício de dinheiro na idealização desses projetos ultrajantes, mas no fim das contas felizmente nenhum deles sairá do papel.

  8. Parabéns pela reportagem Jean, e relembrar para os incautos e esquecidos a análise das informações que apareceram no 13º termo aditivo do contrato de concessão do Corredor Metropolitano ABD, que incluiu a operação dos ônibus da chamada Área 5 e a construção do BRT que tem sido alvo de julgamento no STF por comprovadas suspeitas de irregularidades, entre outros processos na Justiça comum e no Tribunal de Contas do Estado.
    Com relação ao governador Paraquedista Tarcísio eleito junto com o senador Astronauta vendedor de travesseiros da NASA Marcos Pontes indicado pelo presidente derrotado que já se juntou com Rodrigo Garcia não fez absolutamente nada de relevante por São Paulo enquanto foi Ministro dos Transportes, lembrando que embora São Paulo esteja colocado em primeiro lugar com ~31% da arrecadação nacional, foi colocado em último lugar dos 27 estados em investimentos e nem completou o desvio nos dois viadutos prontos na Rio Santos e será um PSDB maquiado com muitas promessas inexequíveis e poucas realizações inclusive com a revitalização e expansão das ferrovias paulistas de cargas e já falou que vai manter o projeto do BRT para a Linha 18-Bronze, mesmo em seu estado de origem que possui o número maior que São Paulo deseja extingui-los, enquanto isto lá já decidiram que substituíram tudo por VLT, de acordo com o plano da Prefeitura do Rio de Janeiro de expandir o sistema de VLT na cidade. Em agosto, o prefeito Eduardo Paes anunciou que pretende ligar, por meio de bondes, os bairros da Gávea a Botafogo, na Zona Sul, em parceria com a iniciativa privada. O outro plano é substituir o atual sistema BRT (Bus Rapid Transit), que opera principalmente nas zonas Oeste e Norte do Rio e que enfrenta uma série de problemas, com os corredores de ônibus Trans Carioca e Trans Oeste sendo gradativamente transformados em sistemas de VLT, em rede com mais de 250 km de extensão. Retirar a câmera dos policiais para igualar aos padrões carioca de abordagem sem testemunhas para dificultar o rastreamento. Privatizar a SABESP com padrão de qualidade CEDAE com aumento imediato de custo para os consumidores, e concessões da CPTM para a VIAMOBILIDADE que passaram a ter o padrão SUPERVIA!

  9. Se não for fazer Metro ou monotrilho, melhor não fazer nada. Esse BRT vai ser um verdadeiro lixo, fora que vai acabar com as avenidas, tirando espaço de ônibus e carros. Até que não usa transporte será prejudicado por essa ação danosa que fizeram.

  10. Nunca deixem de publicar essas verdades. E se sofrerem ameaças, publiquem também!! Se possível, até um editorial

    1. O silêncio da imprensa do Grande ABC sobre esse assunto é estarrecedor, embora não surpreende. E tem como alguém do site ir ao Centro de São Bernardo do Campo para fazer uma reportagem mais detalhada sobre o que acontece ou não nas obras por lá?!

      1. Estão “acontecendo” o Terminal de ônibus de SBC foi todo quebrado e começaram a quebrar também o canteiro central da Av. Aldino Pinotti, porém nada além disso.

    2. Tinha um candidato que ia fazer a linha 18 do metrô, não esse brt. Mas você, R, foi um do s que quis o atual governador, que vai seguir com o brt. Você é um dos responsáveis por essa catástrofe.

  11. Parabéns pela reportagem.
    Seria interessante que todos que acessam este site compartilhasse está reportagem para que mais pessoas saibam a m… que o Governo do estado de São Paulo estará fazendo em substituir o Monotrilho por BRT.

  12. As obras do BRT do ABC vão ficar imensamente prejudicadas por conta de uma favelinha ilegal em cima da Avenida Lauro Gomes do lado de Santo André que a prefeitura e a Next Mobilidade se recusam a remover. As pistas dos ônibus vão ser espremidas somente do lado de São Bernardo até a Avenida Atlântica contrariando o projeto original que seria dos dois lados do Ribeirão dos Meninos. Uma pena!

  13. metra é do orlando morando..ta mudando de nome pra next pra disfarçar..mas com o doria ele ja fez muitos acordos pra se perpeturar–ambos sao do psdb…vc acha que alguma coisa muda com esse acordos? so se o tarcisio quebrar isso….porque o pt nao faz nada..aboslutamente nada.;..so engana trouxas

    Porem deve haver alguma brecha pro monotrilho voltar, tanto o ressarcimento milionario, como ainda temos monitrilho- linha ouro a entregar. pode ser possivel Mas o gilmar mendes, tambem psdb e puxa-saco mor, tambem esta complicando

  14. Parabens pela reportagem. Só incautos para acreditar que BRT é melhor que metro, como o prefeito de São Bernardo alardeou para a população.
    Só para lembrar que o corredor Diadema x Brooklin, demorou 32 anos para ficar pronto, e no fim virou uma faixa a esquerda na avenida Cupece. Se algum dia este sair do papel, será tambem uma faixa a esquerda.

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