Um surpreendente fio de esperança para voltar a colocar o ABC Paulista “nos trilhos” surgiu nesta segunda-feira, 7, quando a empresa chinesa BYD apresentou uma proposta de resgatar o projeto da Linha 18-Bronze do Metrô, cancelada há um ano pelo governo Doria. A informação foi revelada pelo jornal Diário do Grande ABC que apurou ainda que a fabricante de monotrilhos teria interesse em assumir a concessionária VEM ABC, que venceu a licitação da PPP do ramal de 14 km de extensão.
O projeto da BYD foi intermediado pelo Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, que reúne os sete municípios da região e é presidido pelo prefeito de Rio Grande da Serra, Gabrel Maranhão. O grupo se reuniu com o secretário de Desenvolvimento Regional do estado, Marco Vinholi, que teria se entusiasmado com a proposta e prometeu mostrá-la ao seu colega, Alexandre Baldy, que responde pela secretaria dos Transportes Metropolitanos, afirmou o jornal.
Ao Diário, o diretor de negócios da BYD disse que a empresa “quer retomar o projeto do monotrilho” e se dispôs a aportar recursos caso seja necessário. Uma das formas estudadas para isso é adquirir a concessionária VEM ABC, das sócias Cowan, Encalso, Primav e Benito Roggio, que havia vencido a licitação em 2014 e aguardava apenas a ordem de serviço para iniciar os trabalhos.
Como mostrou o site ontem, a VEM ABC permanece ativa por conta da arbitragem para decidir os valores de ressarcimento pela quebra do contrato anunciada pelo governo Doria em julho do ano passado.

Virada difícil
Apesar do interesse da BYD, é cedo para crer que o governador João Doria cancelará o projeto de um corredor de ônibus “BRT” que foi escolhido como alternativa ao ramal de monotrilho. Para justificar a decisão, a atual gestão enumerou vários argumentos sem comprovação alguma como demanda menor do que a apontada por estudos do Metrô e um custo fictício para o estado de R$ 6 bilhões quando na verdade se trata de metade desse valor já que numa PPP a parceira privada arca com 50% do projeto ou mais.
De fato, parece não haver nenhum impedimento financeiro para tocar o projeto já que o governo do estado tem conseguido obter financiamento para outras linhas, mas resta entender como seriam bancadas as desapropriações, motivo pelo qual a gestão anterior, do ex-governador Geraldo Ackmin, não ter conseguido destravar a obra.
A mudança radical do discurso de Doria, que durante a campanha eleitoral prometeu que iria construir a Linha 18-Bronze, faz crer que a escolha do BRT pode ter sido influenciada por fatores bem distantes dos argumentos técnicos. Bancar o cancelamento de uma linha metroviária há tanto tempo aguardada pelos 2,8 milhões de habitantes do ABC para substitui-lo por um modal rodoviário de grande impacto negativo na paisagem urbana denota um risco calculado necessário para acomodar interesses econômicos e políticos da região, fortemente ligada à indústria automobilística e grupos empresariais que atuam há muitas décadas no transporte público.

Por essa razão, por melhor que possa ser a proposta da BYD, será preciso mais do que isso para convencer o governo a voltar ao projeto original. A fabricante chinesa, por outro lado, tem sido agressiva em sua estratégia de conquistar novos clientes para seu monotrilho SkyRail, lançado há quatro anos, mas que ainda não tem uma sistema de grande porte em operação. Vale lembrar que a BYD é hoje mais conhecida no Brasil pelos ônibus elétricos que tem fornecido a várias cidades, ou seja, ela poderia ter interesse em ser fornecedora do corredor de ônibus proposto por Doria, mas preferiu o modal de média capacidade e vias segregadas.
Os chineses, no entanto, venceram a licitação do VLT de Salvador, que apesar do nome é um monotrilho, e foram selecionados pelo Metrô para fornecer os 14 trens da Linha 17-Ouro e seus sistemas no lugar da falida Scomi. Embora já com contrato assinado, a BYD ainda aguarda o desfecho de uma ação bancada pelo consórcio Signalling, liderado pelo dono da viação Itapemirim, e que havia feito uma proposta um pouco mais barata utilizando o espólio da fabricante malaia.
A ironia desse caso é que, ao contrário da Linha 6-Laranja, em que o governo do estado demonstrou uma imensa paciência para encontrar um grupo empresarial para salvar o projeto de PPP, na Linha 18, mesmo com a concessionária disposta em tocá-lo por vários anos, optou-se por romper o contrato. Agora, com mais um grupo oferecendo-se para tirar a linha do papel, resta saber qual será a postura de Doria com mais uma chance de viabilizar preciosos 14 km de metrô na Grande São Paulo.