Empresas sugerem composições de dois andares para o Trem Intercidades

Em consulta feita ao mercado, governo do estado recebeu contribuições de empresas como CCR e Siemens para a modelagem do contrato da linha entre São Paulo e Campinas
Trem bilevel usado na Alemanha: (David Gubler)

Enquanto define a modelagem do contrato da concessão do primeiro trecho do Trem Intercidades entre São Paulo e Campinas, o governo do estado tem ouvido algumas empresas em sondagens de mercado a fim de discutir a viabilidade do projeto. Na reunião realizada no final de julho e cuja ata foi divulgada recentemente participaram grupos como a Siemens, fabricante alemã que recentemente fechou um acordo de leniência com o Cade sobre o cartel de trens, e a CCR, que hoje está por trás de todas as concessões de operação das linhas de metrô de São Paulo.

As sondagens têm a função de aprimorar a formatação do contrato para que a licitação tenha maior chance de sucesso. Não há, no entanto, nenhum tipo de garantia que estas sugestões sejam adotadas, porém, elas fornecem uma noção dos caminhos e dificuldades que podem surgir nessa empreitada.

Entre as contribuições feitas pelas empresas nessa sondagem está, por exemplo, o uso de trens “double deck” (bilevel), ou seja, com dois andares. Na visão dos participantes, essa possibilidade pode incrementar o número de passageiros por vagão sem obrigar a expansão de plataformas. É o que é usado no RER, o sistema de trens metropolitanos de Paris.

Os presentes também acreditam que uma integração multimodal por meio de aplicativos pode atrair mais passageiros para o Trem Intercidades ao facilitar o acesso ao serviço.

Carga expressa

Uma das sugestões é bastante curiosa, a criação de pequenos galpões logísticos nas estações. A intenção é aproveitar o crescimento do comércio eletrônico para alugar esses espaços para empresas de entrega rápidas que poderiam aproveitar o Trem Intercidades para envio de pequenos volumes por meio de portadores. A ideia é que esse serviço seja uma receita acessória, ou seja, um complemento ao faturamento com a venda de passagens.

Por outro lado, o grupo de empresas salientou que vê com reservas um possível compartilhamento de vias entre o Trem Intercidades e outros serviços como a Linha 7-Rubi, que também deve entrar na licitação. Na visão delas, essa situação pode aumentar o custo tecnológico para que os trens funcionem de forma adequada.

Trem da Linha 7-Rubi: empresas acreditam que compartilhamento com Trem Intercidades pode encarecer projeto (CPTM)

Uma possível ligação com o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, é vista como difícil por conta do custo de desapropriação. O terminal aeroportuário se situa bem distante do eixo da ferrovia e exigiria a construção de uma via inteiramente nova para que os trens possam chegar até lá. A preferência é que o Trem Intercidades possua algum tipo de integração com um transporte local até o aeroporto.

Por fim, os presentes concordaram que o contrato deverá exigir da contratada um nível de qualidade do serviço sem especificar o tipo de tecnologia ou trem utilizado a fim de deixar para a iniciativa privada a busca pelo melhor serviço. É o caso, por exemplo, da propulsão do trem, anteriormente cogitada como elétrica, mas que passou a ser considerada muito cara se comparada ao uso de trens que utilizam biodiesel.

O governo do estado pretente publicar o edital do Trem Intercidades para Campinas no início de 2020. Até lá, serão feitas consultas e audiências públicas para detalhar o escopo do projeto.

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4 comments
  1. Um trem moderno de dois andares movido a biodiesel. Fica parecendo a adoção do BRT do ABC ao invés da modernidade do transporte sobre trilhos. Vem aí mais uma enganação.

  2. Xiii, não sei não ein, com essa conversa sobre a linha 7 me parece que a intenção deles é acabar com a linha da CPTM e deixar tão somente o trem intercidades…
    Desconfiem de tudo, aqui é Brasil onde ao invés de produzirem uma solução que demanda vontade política e planejamento, eles sempre preferem extinguir o serviço dando a desculpa de que “é ruim” ou que “vai atrapalhar”.

    Fiquem de olho nisso.

  3. O que mais preocupa é o fato de quererem fazer uma ligação porca entre o aeroporto de viracopos com o tic, vai acontecer a mesma coisa q rolou em gru

  4. A ideia é bem interessante. Os europeus são trens bem confortáveis, no geral, sendo que a utilização do sistema de fato pode facilitara implantação do sistema sem maiores adaptações, como dito na reportagem. Devemos ter em mente que seria uma viagem com todos os passageiros sentados, sendo que isso faz com que as composições, em tese, sejam maiores do que dos trens metropolitanos.

    Agora dois pontos devem ser muito bem vistos:

    1) Haverá necessidade de segregação das vias. Não há como falar em um transporte com velocidade superior a 100 km/h para concorrer com o transporte rodoviário caso o serviço tenha a necessidade de interrupções no tráfego;

    2) Interligação com Viracopos: isso aumentaria e muito o potencial dessa concessão, na minha modesta opinião. Seria uma excelente forma de integração entre os modais de transporte além de ser um ponto que iria agregar muito a Viracopos, ainda mais pelo fato de que o aeroporto caminha para a devolução da sua concessão. Iria aumentar o potencial de interessados também nesta concessão, além de, eventualmente, de outras companhias aéreas deslocando vôos para lá, principalmente como forma de suprir a restrição de horários de Congonhas. Há leito ferroviário no entorno de Viracopos, mas este é bem utilizado pelo transporte de cargas. Creio que uma duplicação paralela ao leito existente pode ser menos custosa. É uma questão de saber explorar e vislumbrar o potencial e permitir, de uma vez por todas, pensar em transporte público sob um olhar de integração e “conversa” entre os mais diversos modais.

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