Não é de hoje que quem acompanha este site sabe que a estação Higienópolis-Mackenzie, da Linha 6-Laranja, será a mais profunda da América Latina, com seus 69 metros abaixo da superfície.
O tema, no entanto, tem sido frequentemente abordado em tempos em que proliferam artigos “iscas de cliques”, produzidos sem grande preocupação em informar, mas provocar, seguindo a tal ‘economia da atenção’.
Mas afinal por que o ramal de metrô que está sendo implantado pela concessionária LinhaUni tem estações tão profundas em certos trechos?

A resposta está em aspectos técnicos e de relevo que acabaram motivando o Metrô de São Paulo, que projetou originalmente a linha, a optar por algumas estações muito distantes do nível do solo.
A começar pelo trajeto da Linha 6, com seus cerca de 15 km que cortam regiões de relevo acidentado e que possuem um subsolo variado, incluindo grandes maciços rochosos.
Para cortar uma região assim é preciso “calibrar” os aclives e declives de modo a tornar a operação viável. E aí vai talvez o aspecto mais crucial, os trens.

Metrôs não são “montanhas russas”
A grosso modo, veículos que circulam sobre trilhos têm uma limitação de tração e frenagem de acordo com a inclinação na via. Em termos ainda mais simples, trilhos não podem ter grandes ângulos de subida ou descida, dependendo das características dos trens.
O Metrô geralmente trabalha com uma inclinação máxima de 4% e isso acaba impedindo que as linhas se transformem em “montanhas russas”.

A questão é que se o trajeto passa por regiões com grandes diferenças de altitude, as estações nas cotas mais elevadas acabarão muito profundas.
Além disso, há possíveis barreiras no subsolo como fundações de edifícios e outras redes públicas que acabam obrigando que os túneis sejam mais rebaixados.

A estação Higienópolis-Mackenzie tem ainda outro fator, a passagem da Linha 4-Amarela na sua perpendicular.
Não é por menos que tanto ela quanto a estação Itaberaba estão sendo construídas em profundidades enormes, equivalentes a um edifício de 21 metros. Ou PUC-Cardoso de Almeida, com seus 61 metros abaixo do solo.
Já estações que ficam no fundo de vales como Perdizes ou SESC-Pompeia são bem mais próximas da superfície, com apenas 28 metros de profundidade.

Estações profundas são uma tendência?
Na verdade, elas são reflexos de projetos mais novos e que encontraram a malha urbana mais densa e ocupada. Linhas de metrô antigas em Londres ou Nova York, e mesmo a Linha 1-Azul, têm muitas estações próximas ao nível do solo.
A tecnologia de escavação e construção, por outro lado, permitiu que túneis possam ser implantadas em pontos bastante profundos, mas isso não é um caminho sustentável.
Tanto assim que o próprio Metrô de São Paulo está estudando soluções que permitiriam construir estações mais “rasas”, com vias que permitem uma operação em ângulo mais pronunciados.
Esses conceitos estão sendo aplicados ao projeto da Linha 16-Violeta, que sairá de Cidade Tiradentes até a região da Mooca.
Para os passageiros, as estações da Linha 6 podem parecer um suplício caso se embarque ou desembarque nelas, mas a oferta de escadas rolantes e elevadores deve tornar essa “viagem” menos demorada.