Linha 6-Laranja terá as estações mais profundas da América Latina, mas isso é bom?

O poço principal da estação Higienópolis-Mackenzie: com seus 69 metros abaixo do solo, será a estação mais profunda da América Latina (LinhaUni)
O poço principal da estação Higienópolis-Mackenzie: com seus 69 metros abaixo do solo, será a estação mais profunda da América Latina (LinhaUni)

Não é de hoje que quem acompanha este site sabe que a estação Higienópolis-Mackenzie, da Linha 6-Laranja, será a mais profunda da América Latina, com seus 69 metros abaixo da superfície.

O tema, no entanto, tem sido frequentemente abordado em tempos em que proliferam artigos “iscas de cliques”, produzidos sem grande preocupação em informar, mas provocar, seguindo a tal ‘economia da atenção’.

Mas afinal por que o ramal de metrô que está sendo implantado pela concessionária LinhaUni tem estações tão profundas em certos trechos?

O perfil longitudinal da Linha 6-Laranja em mapa produzido na década passada
O perfil longitudinal da Linha 6-Laranja em mapa produzido na década passada

A resposta está em aspectos técnicos e de relevo que acabaram motivando o Metrô de São Paulo, que projetou originalmente a linha, a optar por algumas estações muito distantes do nível do solo.

A começar pelo trajeto da Linha 6, com seus cerca de 15 km que cortam regiões de relevo acidentado e que possuem um subsolo variado, incluindo grandes maciços rochosos.

Para cortar uma região assim é preciso “calibrar” os aclives e declives de modo a tornar a operação viável. E aí vai talvez o aspecto mais crucial, os trens.

A profundidade das estações da Linha 6-Laranja
A profundidade das estações da Linha 6-Laranja

Metrôs não são “montanhas russas”

A grosso modo, veículos que circulam sobre trilhos têm uma limitação de tração e frenagem de acordo com a inclinação na via. Em termos ainda mais simples, trilhos não podem ter grandes ângulos de subida ou descida, dependendo das características dos trens.

O Metrô geralmente trabalha com uma inclinação máxima de 4% e isso acaba impedindo que as linhas se transformem em “montanhas russas”.

Trens não podem circular em grandes aclives, o que impede estações mais perto da superfície
Trens não podem circular em grandes aclives, o que impede estações mais perto da superfície (Jean Carlos)

A questão é que se o trajeto passa por regiões com grandes diferenças de altitude, as estações nas cotas mais elevadas acabarão muito profundas.

Além disso, há possíveis barreiras no subsolo como fundações de edifícios e outras redes públicas que acabam obrigando que os túneis sejam mais rebaixados.

Estação Itaberaba (Linha Uni)
Estação Itaberaba (Linha Uni)

A estação Higienópolis-Mackenzie tem ainda outro fator, a passagem da Linha 4-Amarela na sua perpendicular.

Não é por menos que tanto ela quanto a estação Itaberaba estão sendo construídas em profundidades enormes, equivalentes a um edifício de 21 metros. Ou PUC-Cardoso de Almeida, com seus 61 metros abaixo do solo.

Já estações que ficam no fundo de vales como Perdizes ou SESC-Pompeia são bem mais próximas da superfície, com apenas 28 metros de profundidade.

Túnel da Linha 4 próximo à Vila Sônia
Metrô de SP estuda conceito em que inclinação das vias será maior do que hoje, permitindo estações mais rasas (CMSP)

Estações profundas são uma tendência?

Na verdade, elas são reflexos de projetos mais novos e que encontraram a malha urbana mais densa e ocupada. Linhas de metrô antigas em Londres ou Nova York, e mesmo a Linha 1-Azul, têm muitas estações próximas ao nível do solo.

A tecnologia de escavação e construção, por outro lado, permitiu que túneis possam ser implantadas em pontos bastante profundos, mas isso não é um caminho sustentável.

Tanto assim que o próprio Metrô de São Paulo está estudando soluções que permitiriam construir estações mais “rasas”, com vias que permitem uma operação em ângulo mais pronunciados.

Esses conceitos estão sendo aplicados ao projeto da Linha 16-Violeta, que sairá de Cidade Tiradentes até a região da Mooca.

Para os passageiros, as estações da Linha 6 podem parecer um suplício caso se embarque ou desembarque nelas, mas a oferta de escadas rolantes e elevadores deve tornar essa “viagem” menos demorada.

 

 

Previous Post
Perspectiva da moradia para as famílias que serão retiradas do trajeto da Linha 15

Construção de moradias populares na Linha 15-Prata volta à estaca zero

Next Post
Trem da Série 2100 (Jean Carlos)

Trens espanhois e outros ‘inservíveis’ geram R$ 2,65 milhões para a CPTM

Related Posts