Na semana passada, o Metrô de São Paulo anunciou que adotará o trabalho remoto permanente para parte dos seus funcionários após uma experiência positiva durante a quarentena. Entre os argumentos da direção da companhia estão o bom desempenho em home office e a possibilidade de gerar economias de ao menos R$ 9 milhões com a diminuição da área de escritórios além de ajudar a reduzir, embora de forma quase insignificante, a quantidade de deslocamentos de cerca de 600 colaboradores que devem aderir ao programa.
A notícia acabou sendo repercutida na imprensa de forma bastante destacada, conferindo à gestão Doria a boa impressão de preocupação em fazer sua parte nesse novo cenário após a pandemia do coronavírus afetar nosso cotidiano. Por essa razão seria oportuno que a Secretaria dos Transportes Metropolitanos aproveitasse esse clima de reflexão sobre o transporte público para corrigir um erro histórico de gestões anteriores no governo do estado, o de manter três empresas diferentes para gerir algo que deveria ser tratado como uma coisa só.
É hora, portanto, de transformar o Metrô, a CPTM e a EMTU em apenas uma empresa. Algo nos moldes da Transport For London (TFL), companhia que cuida do metrô, trens, ônibus e outros tipos de mobilidade na capital britânica. A fusão dessas empresas só traria benefícios para a sociedade e mesmo para o governo ao colocar sob um mesmo chapéu toda a estratégia de transporte coletivo do estado.
Hoje, por incrível que pareça, essas empresas nem sempre trabalham em sintonia, embora colaborem entre si com frequência. Mas a sobreposição de departamentos é imensa sobretudo no Metrô e na CPTM a ponto de o planejamento de novas linhas gerar situações curiosas em que uma mesma estação é batizada com nomes diferentes pelas duas companhias. Isso é um exemplo simplório num mar de possibilidades de aumento de produtividade e otimização de processos.

O outro é reduzir cargos executivos e de confiança que não fazem parte do quadro fixo dessas empresas. Pegue-se o exemplo da presidência que poderia gerar uma economia para o governo de ao menos R$ 1 milhão por ano caso houvesse apenas um presidente e não três funcionários designados como hoje.
A fusão das companhias também promoveria uma necessária isonomia de cargos e salários que, sim, poderia provocar algum custo extra, mas que acabaria sendo recuperado com a economia gerada pela simplificação da burocracia e outros processos produtivos. E não há como negar que é injusto hoje considerar um operador de trem do Metrô diferente da mesma função executada por funcionário da CPTM. A responsabilidade é a mesma.
O mote da eficiência
Obviamente, trata-se de um tema espinhoso e que enfrenta resistência de muitas pessoas. Mas nunca foi tão oportuno. É da natureza política criar cargos e empresas públicas para acomodar aliados e certamente esse tipo de pensamento dificulta ações nesse sentido. A criação da EMTU é um bom exemplo, afinal ela surgiu com o corredor ABD após o projeto ser iniciado pelo próprio Metrô. Mas é fato que o transporte público não pode ser separado por modais. O planejamento não deve ser diferente para uma linha de metrô, um serviço metropolitano ou uma linha de ônibus, ainda mais que eles mantêm vários tipos de integração atualmente.

O secretário Alexandre Baldy afirma com frequência a necessidade de uma autoridade metropolitana de transportes que integre inclusive a gestão do sistema de ônibus realizada pelos municípios da Grande São Paulo como forma de melhorar a operação do transporte público. Esse é talvez o maior desafio a ser vencido diante da esperada resistência de prefeitos em abrir mão dessa atribuição.
Mas o governo Doria, que prega ser um gestor focado na eficiência, poderia dar o exemplo e fazer sua parte ao unir as três companhias e criar uma nova entidade que poderia transformar-se no embrião dessa potencial gestão de mobilidade na região metropolitana de São Paulo. Certamente, os benefícios serão bem maiores e duradouros do que apenas permitir que algumas centenas de funcionários trabalhem de casa.