Prestes a completarem três anos parados, os oito trens da Frota F da Linha 5-Lilás têm feito falta ao ramal. Desde outubro de 2018, quando a linha de metrô se conectou às linhas 1-Azul e 2-Verde, a ViaMobilidade tem lidado com um crescimento significativo no número de passageiros. Em novembro do ano passado, a média de usuários em dias úteis bateu seu recorde, com 622 mil pessoas passando por ela.
As férias escolares em dezembro e janeiro, no entanto, amenizaram um pouco o movimento, mas basta o Carnaval acabar para que o país volte a acelerar e por tabela o número de passageiros no ramal. Para dar conta da demanda, a concessionária necessita dos oito trens originais da Linha 5, porém, seu retorno à operação tem sido constantemente adiado pelo Metrô, que tem a responsabilidade de entregá-los à ViaMobilidade em condições de funcionamento. No ano passado, o secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy, chegou a prever que as composições voltariam a circular até o final do ano, entretanto, nada ocorreu.
Agora existe a expectativa de que os trens fabricados pela Alstom (e conhecidos pelo inconfundível som elevado) voltem à operação nas próximas semanas. A própria STM divulgou um vídeo dias atrás mostrando a unidade 508 em testes na estação Moema, mas preferiu não fazer prognósticos. O governo justifica a demora para voltar a contar com eles: “Os 8 trens Alstom Metropolis, mais conhecidos como Frota F, vêm sendo testados criteriosamente pelo Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô para que voltem a circular na linha com total segurança aos passageiros!“, diz o texto nas redes sociais.
O governo, no entanto, não explica a razão de tamanho atraso. As composições circularam até março de 2017 quando o Metrô passou a utilizar o sistema de controle de trens CBTC e substituiu os trens antigos pela Frota P, fabricada pela CAF. Até então, a Linha 5 operava com um sistema diferente, o ATC, que não foi instalado nas novas composições. A Frota F, no entanto, já contava com o equipamento necessário, mas a companhia optou por focar na homologação da Frota P, mais numerosa e moderna.
Em tese, os oito trens não fariam falta logo que a expansão fosse entregue, porém, esse prazo já se esgotou, causando desconforto e atrasos para os passageiros. Para se ter uma ideia da falta que essas composições fazem, basta lembrar que a meta de intervalo entre trens da Linha 5-Lilás é de apenas 90 segundos, mas hoje a ViaMobilidade só consegue operar com 172 segundos, ou seja, quase o dobro de espera.
A concessionária tem utilizado 25 dos 26 trens da Frota P nos horários de pico, o que é outro sinal de que o limite está próximo. Normalmente, há mais trens parados entre reserva e manutenção. Nas atuais condições, a ViaMobilidade não pode contar com nenhum imprevisto em sua frota sem que isso se reflita no dia a dia.

Novela canadense
Como em vários casos de atrasos nos projetos do Metrô, mais uma vez a responsabilidade pela adaptação da Frota F para operar com o sistema CBTC cabe à Bombardier. A empresa canadense já havia postergado a entrada em operação da Frota P com o CBTC por anos, além de se arrastar na execução da instalação das portas de plataforma no mesmo ramal, um trabalho que só recentemente começou a ser feito num ritmo adequado. No entanto, essa incapacidade de entregar seu serviço no prazo fez com que várias novas estações da Linha 5 tivessem que receber pisos provisórios enquanto as PSDs não eram instaladas. Todo esse material está sendo retirado e com destino incerto.
Quanto à Frota F, levar três anos para recolocá-la em serviço é algo injustificável. Não é de estranhar, portanto, que a fabricante canadense esteja prestes a deixar o setor ferroviário. Vendida para a rival Alstom, a Bombardier está seguindo à risca o ditado de “sair à francesa”. Não vai deixar saudades.