Rodada de esclarecimentos sobre a concessão das linhas 8 e 9 já chega a 600 questões

Dúvidas de possíveis participantes na licitação, prevista para ocorrer na próxima semana, reúne assuntos relevantes, mas também temas inoportunos e repetitivos
Composição partindo da Estação Ceasa (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

Conforme se aproximada a data do leilão da concessão das Linha 8-Diamante e 9-Esmeralda, no dia 3 de março, mais perguntas são enviadas ao governo do estado a respeito de dúvidas nos inúmeros documentos disponibilizados.

Desta vez, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM) divulgou a 6ª rodada de questionamentos e respostas enviadas por empresas interessadas. Até o momento foram 600 perguntas realizadas sobre os mais diversos temas. O site, seguindo o mesmo costume, compilou as melhores questões a fim de elucidar pontos os pontos mais relevantes sobre o assunto.

Os questionamentos

Em relação ao sistema de energia elétrica, principalmente ao sistema de alta tensão, ocorreram alguns esclarecimentos quanto à disponibilização de informações e estudos que embasam as modificações e modernizações propostas para esses sistemas e seus componentes. O governo esclareceu que os documentos presentes no edital e em seus anexos são suficientes e que a elaboração dos projetos para melhoria do sistema de energia elétrica deve ser realizada pela concessionária.

Houve questionamentos em relação ao sistema de sinalização. O foco da questão está na preocupação com a migração do servidores do CCO Brás para o novo CCO das Linhas 8 e 9, possivelmente localizado no prédio administrativo do pátio Presidente Altino. Como o processo de transferência dos servidores é complexo, a empresa interessada levantou a possibilidade do uso dos PCLs (Posto de Comando Local) em caso de contingência para manter a operação durante essa fase. O governo confirmou o entendimento da proponente de forma que os serviços deverão sofrer o mínimo impacto possível.

No que se refere à via permanente, os questionamentos se limitaram a solicitações de informações. Destaca-se a grande quantidade de informações que foram requeridas entrando em detalhes técnicos como tipos de trilhos, fixações, infraestrutura, drenagem, relatório de monitoramento de via por meio de carro controle, superestrutura defeitos nos trilhos, etc. Outras informações solicitadas foram em relação à sondagens do subleito e, surpreendentemente, relatórios de manutenção preventiva e corretiva, planos de manutenção por segmentos de via. Contratos de manutenção dos últimos dez anos também foram solicitados.

É de se espantar a quantidade de informações que foi pleiteada. Isso pode indicar duas coisas: uma preocupação realmente genuína em transformar a vias da Linha 8 e 9 em um verdadeiro “tapete”, eliminando completamente todos os seus vícios; ou uma completa inexperiência com manutenção de via permanente. O esclarecimento do governo tende a seguir esse segunda linha de pensamento uma vez que nenhuma das informações solicitadas foi encaminhada via questionamentos. Para a comissão de licitação, as informações contidas no edital e seus anexos são suficientes para a elaboração da proposta técnica que deverá ser encaminhada conjuntamente com as demais informações e planos de operação e manutenção.

Outro ponto interessante se refere à retirada de material do pátio de Presidente Altino. Segundo os documento da licitação, a CPTM vai retirar do pátio uma série de equipamentos de manutenção, como ferramentas, locomotivas, vagões, locotratores, etc. A empresa interessada questiona se a retirada dos itens relacionados ao empreendimento 70, que se refere a compra de novos aparatos para manutenção que irão repor os materiais recolhidos pela CPTM, irá ocorrer após a chegada dos novos itens ou em um prazo máximo estipulado de 36 meses. O governo informou que todos os materiais listados serão removidos em durante a fase pré-operacional e, portanto, a concessionária deverá realizar a aquisição ou até mesmo empréstimo de equipamentos enquanto os novos itens não chegam.

Locomotivas e outros equipamentos deverão ser retirados do pátio (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)


Houve uma indagação em relação aos mecanismos de apuração do desempenho de operação. Segundo os documentos da concessão um dos indicadores é o ISP que mede a satisfação dos passageiros. A empresa interessada questionou que o parâmetro para o ISP é subjetivo porque ele pode variar de acordo com “o dia do entrevistado”. A empresa ainda sugeriu mudança no padrão de avaliação. O governo esclareceu que o que está sendo posto em discussão não era um pedido de esclarecimento e sim uma sugestão de mudança no edital. Ainda alegou que o mecanismo de pesquisa utilizado na concessão é o mesmo utilizado atualmente em todas as linhas da CPTM.

Da mesma forma houve propostas para alteração das bandas superiores e inferiores do mecanismo de compartilhamento de demanda. O intervalo adotado atualmente varia entre 85% e 115%, levando uma das empresas interessadas a solicitar alteração desse parâmetro alegando a pouca proteção ao projeto. O governo esclareceu que a demanda exposta não se tratava de esclarecimento, mas de questionamento ao mecanismo. A exemplo do que foi respondido anteriormente, as empresas deverão elaborar seus planos com base nas circunstâncias impostas no contrato de concessão.

Em um outro tópico é levantado a questão do Torno de Rodas de Presidente Altino. Segundo uma das empresas, o equipamento já está com grau considerável de obsolescência considerando sua idade superior a 40 anos e possíveis condições criticas de manutenção. Ressaltou também que será refeita a substituição do torno de rodas do pátio de Engº São Paulo por um novo equipamento. Por fim, é colocado em pauta se a CPTM fará a substituição do equipamento presente em Presidente Altino por uma nova máquina. O governo esclareceu que a avaliação está incorreta e que o torno de Presidente Altino está em plenas condições operacionais. Caso a concessionária deseje, ela poderá fazer a substituição do equipamento por um novo, sem ônus ao poder concedente.

Torno de rodas de Engº São Paulo deverá ser substituído (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

Outra questão que é extremamente pertinente se refere à segurança patrimonial. Desde 2017 ocorrem furtos de determinados equipamentos dos trens, em especial dos cabos e cordoalhas de aterramento. Segundo um levantamento realizado, esses episódios ocorrem no pátio de Presidente Altino e Carapicuíba de forma que já chegaram a causar a indisponibilidade de até 10 trens, afetando de sobremaneira o inicio da operação comercial. Dessa forma o questionamento aponta se a CPTM fará as mesmas adaptações antifurto nos trens da Série 7000, 7500 e 8500 além de solicitar informações sobre pontos de vulnerabilidade onde os furtos podem ocorrer de forma mais frequente. O governo elucidou que não estão previstas ações nos trens das série 7000, 7500 e 8500.

No que tange a questão dos sobressalentes, houve um questionamento sobre a devolução de peças após o término da concessão. Segundo a indagação, deverão ser devolvidos sobressalentes necessários para a operação da linha pelo período de 5 anos. A pergunta se limita a solicitar a listagem dos sobressalentes que serão entregues no inicio da concessão e com quais parâmetros será medido a quantidade de itens contemplando o horizonte de 5 anos. A resposta fornecida pelo governo em relação aos itens que serão entregues no começo da concessão dão conta que as tabelas e listas serão atualizadas até a entrega e recebimento das chaves. Quanto a questão da reversão de itens no pós concessão, o esclarecimento indica que deverão ser definidos parâmetros com base em MTBF (tempo médio entre falhas) e MTTR (tempo médio para reparo). Diante desses indicadores, e com auxilio do auditor independente, será feita a mensuração das peças a serem revertidas em um período de até seis meses ao fim da concessão.

Conclusão

Essa rodada em especial foi marcada por uma série de contestações por parte de empresas concorrentes, o que pode indicar que até certo ponto nem todas as empresas interessadas no certame estão plenamente satisfeitas com a modelagem atual, que para alguns é dita como extremamente generosa. Observando por essa perspectiva, onde o estado está dando grande apoio para esse projeto, torna-se realmente estranho, beirando ao oportunismo, a objeção de certos pontos do contrato.

A solicitação de novas informações é sempre importante, pois traz ao processo licitatório transparência e isonomia, entretanto, existe um limite até onde as informações podem ser fornecidas. O objetivo das empresas é de formular uma boa proposta com base em informações relevantes, que certamente foram fornecidas pelo estado, e não de tomar posse de documentos passados que serviriam como base para a elaboração de propostas. De certa forma, pelo nível dos questionamentos, é possível ver que, ao mesmo tempo que temos concorrentes de alto nível e com experiência vasta, também temos grupos que não possueem tanta vivência no setor.

Na semana que vem, se não houver surpresas, poderemos saber afinal quem são eles.

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3 comments
  1. se o governo abriu brecha até para que investidores possam assumir a concessão e subcontratar uma operadora, é obvio que vão aparecer interessados que não sabem o que é trem. essa concessão é uma mamata, e como diz o ditado, quando se dá a mão tem gente que quer o braço e o resto do corpo. o pessoal está preocupado com a grana, nem aí com a ferrovia. o erro maior do estado é em fazer esta concessão, em entregar um par de linhas que está pronto e operando plenamente, com as melhores estruturas e organização da CPTM, e que precisa sim de investimentos pontuais para melhor prestar serviço, mas nada que justifique um concessão, menos ainda com o investimento pífio de 3,2 bilhões em 30 anos.

  2. O grupo para quem trabalho , com larga experiência no ramo e com grandes profissionais , pulou fora..
    Querem que a concessionária resolva todos os problemas da linhas dos últimos 40 anos, que vão inviabilizar a operação das linhas se continuar no modelo atual
    Observe que a maioria dos problemas são originários da má gestão da CPTM neste período.
    Enfim , pensam que a concessão é uma solução para a falta de dinheiro,, preguiça e incompetência técnica

  3. Mais uma empresa do grupo CCR, que irá pagar mixaria pros funcionários.

    Quanto aos questionamentos, parece que o estado sempre busca fugir das respostas, ou sempre responde de forma vaga.

    Até hoje não está claro se a linha 9 rodará com trens automaticamente via ATO, e a 8 automaticamente com CBTC.

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