Os dirigentes do Sindicato dos Metroviários de São Paulo realizaram uma coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira, 18, para apresentar a visão da entidade a respeito dos problemas da Linha 15-Prata.
A presidente do sindicato, Camila Lisboa, e o vice-presidente, Narciso Soares, comentaram o incidente com dois trens Innovia 300, de monotrilho, que ocorreu na madrugada do dia 8 de março, enquanto as composições eram preparadas para a operação.
Na ocasião, os dois trens colidiram frontalmente próximos à estação Sapopemba. Apenas dois funcionários estavam a bordo dos veículos, um deles sofrendo uma lesão no ombro.
Os dirigentes do sindicato culparam sobretudo o sistema de sinalização CBTC fornecido pela Bombardier, atualmente parte da Alstom. Chamado de Cityflo 650, o software opera com base na tecnologia de blocos móveis de Controle de Trem Baseado em Comunicação.

Trata-se de um sistema semelhante ao utilizado na Linha 5-Lilás, de trens convencionais, mas segundo Camila Lisboa, na Linha 15 não existe um sistema automático de proteção do trem para casos em que existe falha na operação.
“O sistema automático de proteção dos trens ele permite que tantos os trens quanto os trilhos, eles leiam os trens, sabe que tem um trem à frente. Por que nunca ocorreu colisão [nas linhas 1, 2 e 3]? Porque existe esse sistema funcionando”, disse Camila.
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A presidente também contestou a afirmação do Metrô de que o funcionário que estava em um dos trens que se chocou estaria distraído no celular. Segundo ela, “o sistema de comunicação do monotrilho não funciona e por muitas vezes os trabalhadores precisam usar o celular para se comunicar”.
Nesta terça-feira, a TV Globo colocou no ar um trecho do vídeo das câmeras de segurança do monotrilho que mostram o funcionário sentado de costas para o para-brisa do trem. Segundo depois, há o choque, e o operador se levanta para abrir o painel de controle e acionar algum dispositivo. É possível ver o telefone caído no piso do trem enquanto ele busca o rádio que estava no banco de passageiros (veja link abaixo).

Narciso Soares foi além, afirmando que uma colisão pode ocorrer durante a operação, colocando em risco o passageiro. “Se continuar o monotrilho funcionando dessa forma existe um risco real para população”, disse. “O acidente que aconteceu já foi bastante grave, mas não tinha usuários. Isso pode acontecer com usuário dentro e mais, os trens podem bater em velocidade maior”, completou.
Camila acrescentou ainda que outras situações de risco têm acontecido e citou como exemplo o deslocamento dos trens na plataforma de São Mateus no sentido da via que se encerra no local. “O trem só não andou e caiu [da via] porque tinha um operador lá que aplicou a emergência. Não foi uma vez que aconteceu isso, foram mais”, relatou.
Três funcionários foram afastados por conta do incidente https://t.co/QgXWCDPdRr #g1
— g1 (@g1) April 18, 2023
Cabines nos trens
A solução para os problemas, na visão da entidade, é equipar os trens Innovia 300 com cabines de comando como nas composições das linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha, e manter operadores a bordo. Trata-se de uma configuração inversa ao projeto do trem, que prevê o funcionamento UTO (sem condutor) e no padrão GoA4, o mais elevado em automatização.
Os metroviários ameaçam, inclusive, realizar paralisação para pressionar por mudanças no ramal. O sindicato pede ainda que a Alstom modifique o sistema de sinalização e que a empresa seja cobrada pelos problemas.
“A Alstom tem que ser cobrada”, disse Camila. “Foi essa empresa que produziu os trens, foi essa empresa que produziu o sistema. Por que não vai entrevistar a Alstom?”, questionou a presidente do sindicato.
Este site contatou a assessoria da Alstom, mas a empresa afirmou que não comentará o assunto.