Na semana passada, a ViaQuatro anunciou para surpresa geral que a Linha 4-Amarela teria a operação interrompida entre as estações Paulista e Luz por precaução durante a passagem do Tatuzão Sul, da Linha 6-Laranja, por baixo do ramal.
A operação, no fim, acabou postergada após a LinhaUni identificar instabilidades na tuneladora na sexta-feira, 16, véspera do que seria o cruzamento das linhas 6 e 4.
A chegada à estação Higienópolis-Mackenzie, no entanto, deve ocorrer nos próximos dias, assim que as duas concessionárias acertarem uma nova data para isso, certamente durante um final de semana, quando os reflexos da paralisação parcial da Linha 4 são menores.
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Com a conclusão dos túneis até a futura estação mais profunda da América Latina, a LinhaUni terá então o dilema de escolher entre opções difíceis para seguir com o tatuzão escavando o restante do percurso.
O avanço relâmpago da tuneladora entre o poço Pacaembu e Higienópolis-Mackenzie sugere que a concessionária já tem uma estratégia definida ou, ao menos, favorita para lidar com o atraso na estação 14 Bis-Saracura.

As escavações no local estão absurdamente atrasadas, com avanço de apenas 10% enquanto a estação Bela Vista, a próxima após 14 Bis, já beirava 50% de obras executadas.
Mesmo que o IPHAN, órgão de patrimônio histórico federal, libere a LinhaUni para avançar nas escavações da estação após a retirada dos materiais arqueológicos, há pouco tempo disponível para deixar a vala pronta para a passagem do tatuzão.
Alternativas
Em tese, o equipamento deverá passar setembro em manutenção de rotina antes de uma eventual retomada. Ele ainda terá de passar pelo VSE Frei Caneca, que ainda está com cerca de 28% de obras concluídas, antes de chegar à área de 14 Bis.
Isso poderia ocorrer perto do final do ano já que a distância entre Higienópolis-Mackenzie e 14 Bis-Saracura é de menos de um quilômetro.

Ou seja, a hipótese de que isso ocorra como originalmente planejado já está descartada.
As alternativas à disposição da LinhaUni são interromper as escavações do Tatuzão Sul em algum ponto após Higienópolis e esperar pelos trabalhos em 14 Bis ou seguir em frente e passar direto pelo local.
A primeira opção não impediria que as obras continuassem nas estações por onde os tatuzões já passaram, mas tornariam o trecho entre Higienópolis e São Joaquim um trabalho complicado para levar aduelas e retirar material escavado em algum novo ponto que não os poços Tietê e Pacaembu.
A segunda hipótese parece mais apropriada, porém, implica em escavar o poço de 14 Bis-Saracura após a passagem da tuneladora e então desmontar os aneis de concreto provisórios que seriam montados ali. Ainda assim haveria uma contagem regressiva para que o canteiro fosse liberado antes que estações como Bela Vista e São Joaquim ficassem pronta.
Potencializar a receita é o termômetro
O que deve se considerar nesse impasse causado pela escavação arqueológica é qual a opção mais vantajosa para a LinhaUni no aspecto financeiro. É racional pensar que a empresa buscará o cenário em que possa passar a ter receita com a operação o quanto antes.
Portanto, é preciso levar a Linha 6-Laranja até conexões importantes, que irão ampliar a demanda e a ligação com a Linha 4-Amarela é fundamental, assim como a estação Água Branca ao permitir a baldeação para a Linha 7-Rubi, mas nesse caso em menor grau.

Riscos relativos à resgate arqueológico cabem exclusivamente ao estado
Por outro lado, a questão de 14 Bis é atribuída a um imprevisto em que a concessionária não tem culpa e pode pleitear algum tipo de reequilíbrio econômico.
O item 20.10.1 do contrato de concessão estipula que o governo do estado deve assumir com exclusividade qualquer problema relacionado a questões arqueológicas.
“Todos os custos relativos à prospecção e resgate arqueológicos de descobertas realizadas no curso da obra de implantação da Linha 6 serão assumidos pelo PODER CONCEDENTE (sic), bem como os prazos consumidos nessas atividades que afetarem o Cronograma de Implantação do Empreendimento, indicado no item 11.2, ficando a CONCESSIONÁRIA eximida de ser penalizada“, diz o artigo.
Em outras palavras, a LinhaUni possui respaldo para ser compensada pelo atraso nas obras de 14 Bis-Saracura. Como isso pode ser feito é algo que só os dois parceiros sabem dizer.
É razoável, no entanto, esperar que o governo e a concessionária venham buscando algum arranjo sensato e que não prejudique ambos.
O maior interesse no empreendimento é que comece a operar o quanto antes. Ganha a concessionária, que começa a gerar receita; ganho o estado, que usufrui do impacto positivo do ramal metroviário; e ganha o cidadão, que terá à disposição um transporte melhor.