Cidades sem trilhos: por que alguns municípios da Grande São Paulo ainda não possuem linhas de trem e metrô?

Enquanto São Bernardo depende dos ônibus, a pequena Rio Grande da Serra usufrui dos trilhos (Igor Martinez/Geogast)

O município de Rio Grande da Serra é um dos menores que compõem a Grande São Paulo. Mas seus 51 mil habitantes têm uma vantagem que nem todas a cidades da região possuem, uma linha de trem metropolitano. Algo que São Bernardo do Campo, terceiro município mais populoso com quase 850 mil pessoas (quase 17 vezes mais gente), não sonha ver tão cedo.

Esse contraste mostra que a adoção do transporte sobre trilhos na mais populosa região do Brasil ainda é um tabu para algumas cidades. E se não fosse um capricho do passado talvez o número de pessoas que teria um ramal de trens próximo a sua residência seria ainda menor. Sim, porque graças ao boom ferroviário do final do século 19, que construiu importantes ferrovias em São Paulo, hoje as seis linhas mais antigas da CPTM possivelmente não existiriam.

Também pesa a favor desse cenário o investimento do estado na recuperação dessa malha a partir da década de 1990, então nas mãos do governo federal. Hoje a CPTM transporta muito mais gente do que a antecessora CBTU e com maior conforto e regularidade, a despeito de ainda existir muito espaço para melhorias. Com isso, 23 munícipios são atendidos, incluindo até mesmo alguns fora da Grande São Paulo, como Jundiaí.

O Metrô, ao contrário, ainda é exclusivo da capital. Apesar disso, algumas estações estão bastante próximas da divisa como Jabaquara (Linha 1), Tamanduateí (Linha 2) e em breve Vila Sônia (Linha 4). Mas os planos da companhia prevêem acabar com esse privilégio no futuro. Ramais como a Linha 19 e a Linha 2 devem chegar a Guarulhos, por exemplo.

O município, que é também local do Aeroporto de Guarulhos, o maior da América do Sul, no entanto já foi conectado aos trilhos em 2018 após uma longa espera. Trata-se da Linha 13-Jade, da CPTM, mas que ainda está longe de ser um ramal atraente.

Taboão da Serra

Guarulhos, entretanto, é uma exceção recente, infelizmente. Alguns municípios vizinhos à São Paulo já poderiam contar com transporte sobre trilhos caso promessas tivessem sido cumpridas.

Uma delas envolve a Linha 4-Amarela, que é prevista para ser levada até Taboão da Serra há bastante tempo. O ex-governador Geraldo Alckmin, por exemplo, afirmou em 2013 que o metrô chegaria ao município em 2017, mas até hoje não há sequer um projeto da extensão. Seu sucessor, João Doria, tenta viabilizar uma mudança no contrato com a operadora ViaQuatro para que ela banque o novo trecho de duas estações. O secretário Alexandre Baldy, dos Transportes Metropolitanos, afirmou nos últimos dias que novidades serão anunciadas em breve, inclusive.

Estação da Linha 18-Bronze: visual mais leve e moderno
Estação da Linha 18-Bronze: trocado por corredor de ônibus

Monotrilho esquecido

O mesmo Doria, no entanto, protagonizou o episódio mais triste da história da expansão sobre trilhos em São Paulo. No ano passado, o então eleito governador do estado voltou atrás na promessa de tirar a Linha 18-Bronze do Metrô do papel e cancelou o ramal. Em seu lugar, um corredor de ônibus a ser potencialmente assumido por um grupo empresarial do ABC, ligado ao transporte rodoviário.

A ironia é que o projeto, uma PPP (Parceria Público-Privada), estava pronto para ser iniciado desde 2014, mas uma incomum dificuldade em viabilizar os trâmites iniciais por parte do governo acabou postergando sua execução. Embora passasse por São Caetano e Santo André, duas cidades atendidas pela Linha 10-Turquesa, a Linha 18 seria melhor aproveitada por São Bernardo do Campo, hoje o maior município sem trilhos da Grande São Paulo.

As perspectivas de um dia contar com uma linha de metrô na cidade são bastante distantes. O governo resolveu dar o pontapé inicial na Linha 20-Rosa, um ramal subterrâneo que sairá de Santo André e seguirá para a capital paulista, passando pela Zona Sul e terminando na região da Lapa. O trajeto, entretanto, só fará uma passagem bastante modesta por São Bernardo. Seu horizonte, por outro lado, é de longo prazo. A gestão Doria nem tem destinado investimentos para tirar o projeto do papel – em 2021 serão apenas simbólicos 10 reais.

Tão perto, tão longe

Outra cidade do ABC, Diadema, tem sido deixada de lado nos planos de expansão. Embora esteja a uma distância pequena da Linha 1-Azul, o município raramente é lembrado no planejamento do Metrô. Uma rara citação de projeto foi feita por Alckmin anos atrás quando se cogitou levar a Linha 17-Ouro até lá, mas nunca mais se falou disso.

Mapa do PITU 2030 publicado em 2016: se fosse colocado em prática, plano incluíria vários municípios sem trilho (GESP)

Cotia

Região de alto tráfego de veículos, os moradores do eixo da rodovia Raposo Tavares sonharam em contar com uma linha de metrô anos atrás. O projeto da Linha 22 esteve presente em vários estudos, primeiro como um monotrilho e depois com um ramal subterrâneo. Em comum, eles cortavam boa parte do município de Cotia, saindo do centro da cidade e indo até a região da avenida Faria Lima. Com caráter pendular, a linha certamente poderia tirar muitos automóveis das ruas, mas a atual gestão a colocou em banho-maria.

Planos da CPTM

Mesmo sem os recursos do Metrô, a CPTM também já estudou novas linhas, mas a chance desses projetos virarem realidade é pequena. Entre eles está a Linha 14, indo de Santo André a Guarulhos e que foi cogitada como um VLT, e o Arco-Sul, uma imensa linha que circundaria a região metropolitana a partir do ABC e que terminaria em Alphaville. Exceto por Taboão da Serra, esses projetos não incluíam nenhum novo município à malha de trens.

Previous Post

Imagens aéreas mostram o interior dos canteiros de obras das estações Anália Franco e Vila Formosa

Next Post

Estação João Dias da Linha 9 da CPTM já tem estruturas visíveis

Related Posts