Em 1ª semana sem CPTM, operação das linhas 8 e 9 pela ViaMobilidade é marcada por falhas preocupantes

Avanços de sinal, problemas na abertura de portas, dentre outras inconformidades são considerados eventos graves no contrato. A concessionária pode ser multada ou até mesmo ter a operação comercial adiada caso os problemas persistam
Maquinistas da ViaMobilidade assumiram a operação sem supervisão (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

Na última semana do ano de 2021, a ViaMobilidade, operadora das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda de trens metropolitanos, iniciou o processo de aplicação do seu plano estratégico e operacional. Dentre as ações realizadas pela nova empresa está a operação dos trens sem a supervisão de profissionais da CPTM e a maior presença de funcionários nas estações.

Porém, o período que deveria demonstrar a maturidade dos novos profissionais no transporte ferroviário está sendo considerado um dos mais difíceis. Falhas de procedimentos considerados bastante preocupantes, inclusive com impacto direto na regularidade, estão sendo registrados quase todos os dias, segundo relatos obtidos pelo site.

Trem parado após o marco (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

Dentre os principais erros de operação que ganharam notoriedade na última semana estão os avanços de sinal. As linhas de trem possuem “semáforos” que garantem a total segurança dos trens ao longo de sua viagem. Assim como nas ruas, ultrapassar um sinal vermelho pode gerar um grave acidente e, consequentemente, colocar equipamentos e vidas em risco.

Em duas ocasiões equipamentos de via conhecidos com AMV (Aparelho de mudança de via) foram danificados nas regiões de Barra Funda e Ceasa. As próprias equipes da ViaMobilidade foram responsáveis pela manutenção dos equipamentos. As ocorrências geraram problemas na operação.

Nas redes sociais os relatos se estendem para ocorrências mais frequentes como erros na parada dos trens nas plataformas, trens que param nas estações sem abrir portas ou até mesmo a abertura de trens do lado oposto, erro de grande relevância que, em última instância, pode colocar a vida de passageiros em risco.

Porta aberta do lado oposto na Estação Lapa (Reprodução/redes sociais)

O site acompanhou algumas viagens com novos operadores e constatou, principalmente, os problemas com a parada dos trens, que ocasionalmente passavam do marco. Apesar de o erro ter ocorrido na Linha 8-Diamante, que possui plataformas com maior extensão, serve de alerta para os operadores.

A frequência dessas ocorrências pode ser explicada por diversos fatores. O curto tempo de treinamento operacional é um deles. Foram três meses de treinamento teórico e apenas um mês de treinamento prático com acompanhamento dos maquinistas da CPTM. O pouco tempo de vivência de alguns operadores pode explicar tal fenômeno.

Por conta destas ocorrências, a concessionária ViaMobilidade pode ser autuada por infrações contratuais. Conforme rege o item 9.1 do Anexo III.A do contrato, a concessionária é responsável por adotar procedimentos de segurança no transporte dos passageiros.

Item 9.1 do Anexo III.A (STM)

Segundo o Anexo V do contrato de concessão a ViaMobilidade poderá estar sujeita a dois tipos de multa. No primeiro dos casos é estipulado o valor de R$ 200 mil por deixar de cumprir procedimentos que levem equipamentos ou passageiros a situação de risco. Caso haja vítima o valor da multa sobe para R$1 milhão.

Multas cabíveis por falhas no Anexo V (STM)

Cabe lembrar que a capacidade de assumir a operação comercial das linhas deverá ser atestada por um auditor independente que realizará as verificações pertinentes para que a nova operadora possa atuar em definitivo. Caso haja necessidade de prorrogar o período pré-operacional uma série de indenizações poderão ser aplicadas.

Liberação da operação será certificada por um auditor independente (STM)

O final da fase pré-operacional da ViaMobilidade mostra a complexidade e a importância da expertise na operação de trens metropolitanos das Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda. Naturalmente existe um período de adaptação para o alinhamento de estratégias, entretanto, este momento deve ser, para o bem dos passageiros, isento de erros de grande repercussão.

A ViaMobilidade Linhas 8 e 9 deverá assumir por completo os dois ramais da CPTM no final deste mês para um período de 30 anos de concessão.

O site questionou a ViaMobilidade sobre as ocorrências mas não teve resposta até esta terça-feira, 11. A Secretaria dos Transportes Metropolitanos, que faz a gestão da concessão, enviou a seguinte resposta sem, no entanto, abordar os problemas relatados:

“A partir do dia 27 de janeiro, a operação, manutenção, conservação e melhorias das linhas 8-Diamante e 9-Esmeraldade trens metropolitanos passam a ser responsabilidade da ViaMobilidade. A concessionária venceu o leilão realizado pelo Governo do Estado em abril de 2021. Ao longo dos próximos 30 anos, as linhas 8 e 9 receberão novas composições, terão as estações modernizadas, além de ter uma série de mudanças estruturais exigidas em contrato.

A transição da operação entre CPTM e ViaMobilidade teve início após a assinatura do contrato, no início do segundo semestre de 2021 e, desde então, reuniões de consultoria, transferência de funções e treinamentos de equipes têm sido realizados dentro do processo de incorporação das linhas. Estas atividades se intensificaram no último bimestre e são supervisionadas pelo governo do Estado de SP, e por auditoria independente, obedecendo as normas contratuais que são transparentes e públicas.

Secretaria dos Transportes Metropolitanos, a CPTM e a ViaMobilidade reafirmam seu compromisso com a segurança e, por isso, têm trabalhado de forma intensa e conjunta para uma transição mais tranquila e segura possível. Tudo para preservar os ativos patrimoniais e atender todas as cláusulas regulatórias previstas em contrato, e principalmente, cumprir o compromisso com a prestação de um serviço sustentável e que respeita os passageiros“.

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23 comments
  1. Não houve nenhuma notícia da grande mídia sobre essas falhas. Acionistas da CCR. Mas quando cai uma pena na linha do metrô ou monotrilho é um grande barulho.
    O engraçado é que a CCR opera um sistema parecido na Bahia.

    1. Você nem sabe o que é a SuperVia, sequer deve ter saído de SP. Fala mal, mas logo estará mandando currículo, muitos desses “fãs de trens” falam mal nas redes sociais, mas na verdade são frustados por não terem passado no processo seletivo da empresa.

      Essa concessão é muito complexa, e os desafios são muito diferentes dos que a CCR pegou nos últimos anos, sempre com trens automatizados, e estrutura de primeira. A CPTM é bem diferente da Linha 5 e 4-Amarela.

    2. Engraçado como conseguem focar o exato momento do erro ou falha. Mais incrível é como uma pessoa leiga tiraria uma foto do “marco de parada” para mandar para um site especializado no assunto. A intenção é manchar a imagem da ViaMobilidade?

      É sabido que essa concessão não é igual as do Metrô. A CPTM é muito mais complexa que o metrô, no quesito operação. A mão de obra deve receber uma excelente remuneração, e maior tempo para treinamentos. Não é o caso, onde as jornadas passam de 44h semanais e sem os direitos adquiridos dos ferroviários como periculosidade por atuarem em equipamentos elétricos (3.000 volts) isso ninguém fala.

      1. Engraçado que vcs conseguem focar no exato momento dos erros ou falhas nas empresas estatais, mas fazem toda uma ginástica linguística pra passar pano na empresa privada. Supervia chegando em SP pelo visto!

        1. Com a experiência metroviária adquirida todos esses anos o padrão certamente será outro. Se você acha que a linha 9 será um ramal de japeri, só o tempo dirá. Mas não acredito nem de longe nessa hipótese, afinal a ViaMobilidade já possui um corpo de seguranças próprios, acabou de comprar 36 trens novos da alstom, e a fase de transição serve para amadurecer as equipes.

          Parem de sofrer por antecedência.

        2. Vc está certo e isso vai acontecer, quem está protegendo essa concessão deve ser os funcionários que em breve serão explorado e nem observam isso.

  2. A agetransp e Supervia propondo um aumento absurdo de 7 reais. Em sp também deverá ser criada uma agência dessas.

    1. Verdade, isso foi só pq alguém está sendo favorecido, ou seja, o Agripino Dória acionista da CCR e do complexo que construiu a estação João Dias alegando que foi um bom negócio para o estado. Só se foi para o bolso dele e dos envolvidos.

  3. Não precisa ser especialista em ferrovia para saber qual é o marco de parada em uma plataforma, basta saber ler a placa.
    Também não acho que seja questão de querer macular a imagem da CCR, erros irão acontecer e devem ser sanados, mas também devem ser expostos tal qual é feito com a CPTM e o Metrô. Torcemos a favor, já que privatizou, que seja um transporte de qualidade. Espero em um futuro próximo não dividir espaço com ambulantes e batedores de carteira e celular.

    1. Isso já não tem garantia nenhuma, já que os brigadistas da CCR não tem experiência nenhuma de combate a esses delitos e nem sequer são vigilantes a não ser os que tem um curso. Mas a empresa em si não trabalha com esse tipo de combate. Vai virar uma 25 de março móvel.

  4. Como já cansei de escrever aqui e em outros locais, essa concessão é desnecessária, inoportuna e lesiva sob todos os aspectos.

    Uma concessão na qual um sistema complexo como é o ferroviário , no qual a CPTM tem total dominio, e opera de maneira satisfatória , é repassado para uma outra administração para que esta receba o conhecimento e o expertise da atual operadora é um absurdo de maior magnitude possível. concessão é para quem chegar ter o conhecimento e tem domínio do serviço. Por exemplo, se fosse implantar um TAV vc conceder para uma empresa internacional com o espertise nesse tipo de operação para que se possa adquirir o conhecimento.

    E tudo isso que ocorreu neste início da CCR mostra a b*st* que essa concessão terá. E não pelas falhas em si, pois estas obviamente os trabalhadores da CCR com o tempo vao pegar experiência e serão assimilada. Mas pq essas falhas mostram a estrutura e filosofia empresarial da CCR, que preza pela precarização do serviço e maximização dos lucros

    Há uma grande veneração pela CCR por causa da linha 4. Porem quem bajula a linha 4, esquece q ela tem apenas 12 km, poucas estações , poucos trens. Foi construida e operada do zero, com todo o know-how transferido do metrô, tecnologia com o que há de mais moderno, iniciada a operação aos poucos, com muito tempo de aprendizagem e operação assistida. Sem contar o movimento não pendular com as várias integrações que possui a linha.

    Essas condições da linha 4 favorecem a política de serviço enxuto da CCR. A precarização não afeta tanto a prestação do serviço, pois sejamos sinceros, é uma demanda mais leve.

    Já na linha 5, a CCR já penou. Apesar do trecho novo poder ser semelhante a linha 4, a linha 5 é uma linha mais pendular, já foi pega em funcionamento. Houveram diversas ocorrências lá também e direto tem problema, apesar de não ser muito noticiado e quem defende a CCR jurar de pé junto que o serviço da linha 5 é igual a linha 4 . Sabemos que não é.

    Agora quando assume a linha 8/9, a CCR tem contato com a ferrovia. Número maior de km de trilhos, trens e estações. Sistema muito mais complexo. Sistema muito mais problemático. Isso porque é o melhor par de linha da CPTM. Não surpreende todas essas falhas. E se continuar no modo viaquatro, logo teremos problemas graves na manutenção, segurança e estações. Ou gasta, ou sucateia .

    A grande verdade é que o governo quando faz isso tem 3 objetivos:

    transferência de renda direta para a iniciativa privada, como um bolsa família multi bilionário;

    Repassar para um terceiro a administração de um serviço público, devido a incapacidade, incompetência, inabilidade, má vontade de administrar algo diretamente. Quando prefeito, JD foi a um parque municipal e disse q usou o banheiro e a torneira estava quebrada, e por isso precisava conceder o parque. Alguém que não tem capacidade ou vontade de administrar um banheiro de um parque, não deveria administrar uma cidade , estado ou pais.

    E por último, a precarização do trabalhador. Para essa gente é inconcebível que um trabalhador ganhe um salário condizente. É um absurdo que um maquinista que leva milhares de pessoas ganhe mais de 2 salários mínimos. Ou um oficial de manutenção. Ou o segurança. A elite empresarial brasileira não se contenta enquanto o trabalhador não trabalhar em troca de um prato de comida. Pra eles um salário de um trabalhador da CPTM ou metrô é muito. Mas de um chefe de departamento da CCR que recebe mais 40 mil, tudo ótimo. Até pq quem tem cargo de direção na CCR ganha muito mais que o teto do estado de SP, inclusive o ppr.

    1. Falou tudo e é tudo isso verdade, só acrescentando que o governo alegou que a CPTM dava prejuízo, mas no ano de 2020 teve um alimento de receita mesmo com a pandemia. E também pergunto, qual empresa privada vai investir em algo que de prejuízo? Só investem onde dará lucro e não precisa gastar muito. E isso foi o que fizeram com a CPTM. Alguém está sendo beneficiado com essa concessão e não é a população.

  5. Ótimo comentário and. Inclusive a linha 5 lilás já tem muitas falhas. Interessante colocação sobre a linha 4 . Pois todo mundo lembra dela, mas esquece de sua irmã mais modesta que é a linha 5.

  6. A verdade é que depois que privatizou a linha 8os serviços só pioraram.trocaram os trens . agora tá uma b…e com essa pandemia estamos ferrado .tá muito lotado principalmente quando vem da Júlio prestes uso essa linha a 15 anos e ela tá retrocedendo.infelimente .tá um lixo.

    1. Quem trocou os trens foi a CPTM. E como passageiro os trens sem gangway são muito melhores para ter uma viagem tranquila, os ambulantes que dominaram a linha 8 nos últimos anos acabam com o sossego.

      “NADA A ACRESCENTAR” tem muito o que acrescentar, os problemas que hoje existem na CPTM não são da ViaMobilidade, a empresa nova está se preparando para começar as mudanças mais do que necessárias.

      É ridículo ver esses comentaristas julgando uma empresa ferroviária nova só porque ela está herdando uma malha deficiente, maltratada, e que precisa de urgentes mudanças.

      Concordo com a valorização dos funcionários principalmente os maquinistas, estamos sabendo que eles estão com jornadas altíssimas, sem direitos trabalhistas, e salários baixos atrasados. Nessa parte é lamentável ver a CCR tratando como lixo os seus funcionários.

      Cadê o sindicato da Sorocabana que adora fazer greves na CPTM, vai ficar calado com a ccr?

      1. A CPTM quando foi criada há quase 30 anos atrás herdou toda infraestrutura, material humano, e principalmente, os problemas das linhas metropolitanas da fepasa e cbtu sp. E saltou de 800 mil passageiros por dia para 3 milhões em 2019.

        A CPTM demorou 4 anos no processo de transição total. E aos poucos foi melhorando e modernizando as linhas sob sua administração. É óbvio que poderia ter feito muito mais, que ainda falta muita coisa, mas os avanços no período são notáveis. E as linhas 8/9 são justamente as que mais receberam melhorias.

        Operar uma ferrovia não é só o maquinista andar pra frente e abrir portas. Existem normas, procedimentos, estudos tecnicos e toda uma engenharia por trás para fazer a coisa funcionar. Isso são anos de know-how, que a CPTM já herdou das ferrovias antecessoras, q por sua vez também receberam de seus antecessoras. E do que herdou, a CPTM aperfeiçoou e melhorou. E a CCR terá a obrigação de abosrver e melhorar o que foi feito até o momento.

        Avançar sinal vermelho direto, parada fora de marco, atropelar usuário 3 vezes, abrir porta do lado errado, voltar com o trem para trás não sao erros causados pela estrutura da CPTM. São erros graves causados pela política de precarização da CCR. Esses erros mostram o caminho que a CCR escolheu seguir como estrutura de negócio para a operação da linha 8/9. Isso que ocorre na operação é que é visível, e o que ocorre fora dos olhos? Será que a manutenção será condizente? Sera que as melhorias que devem ser feitas para a CPTM serão de boa qualidade? Será que o atendimento ao usuário será satisfatório?

        E falar da estrutura da CPTM é desculpa de aleijado. A CCR ganhou a concessão pra isso, então nao tem nada a reclamar. Inclusive os 3,2 bilhões de investimento em 30 anos é dinheiro de pinga. Muita coisa do projeto original foi retirado. É uma concessão enxuta, quase que uma troca de bastão. E primeiro a CCR precisa aprender o básico, antes de vir criticar a estrutura que herdou da CPTM.

      2. Ué, vc defendeu e meteu o pau na CCR. A CPTM tinha muito problema mas não tantos como surgiram nestas semanas. Vcs é um funcionário da CCR desgostoso com ela?. A empresa anterior não era mil maravilhas e os trens fazem parte do contrato. Não tem pq deixar os trens que não estão no contrato com a CCR se a CPTM tem outras linha para administrar. E há muito tempo não se via erros grotescos como os que vem acontecendo atualmente nessas duas linhas, mas fique certo de que com certeza irá piorar.

  7. A linha lilás dá pau direto, no dia do rolo da linha 9 a linha 5 também teve problema. E os segurança tudo metido a valentão, tudo despreparado, os caras pensam que é igual a linha 4, em capão redondo já teve segurança que apanhou.

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