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Maior prejudicada pela implantação da Linha 18-Bronze, empresa pode herdar corredor BRT do ABC

Em documento da EMTU, governo admite que pode estender concessão da Metra em troca da construção e operação do corredor de ônibus no lugar do monotrilho

Ônibus da Metra
Ônibus da Metra (GESP)

Por uma ironia do destino, a responsabilidade pela implementação e operação do “BRT Metropolitano ABC Paulista”, corredor de ônibus com vias expressas que substituirá a Linha 18-Bronze, pode cair no colo da Metra, concessionária que opera atualmente o Corredor ABD. A informação consta do Plano de Negócios da EMTU para 2020, empresa do governo do estado que gerencia as linhas de ônibus intermunicipais.

Na ação orçamentária 2616, a companhia discorre sobre a implantação do BRT e que não foi contemplado com recursos no orçamento do estado deste ano – apenas simbólicos 10 reais, uma forma de permitir que o governo faça remanejamentos de outros projetos se preciso. No entanto, o texto explica que a EMTU está estudando a possibilidade de repassar o projeto para a Metra mediante uma renegociação em que a concessão do Corredor ABD seria ampliada tendo como contrapartida o investimento privado no novo corredor.

Foi instituído grupo de trabalho visando à viabilização da execução do empreendimento por meio de parcerias com investimentos da iniciativa privada. Nesse sentido estão em andamento processos de Qualificação para atendimento da Lei 16.933 (Metra e Áreas 01, 02, 03 e 04 da RMSP), com elaboração de Matriz de Decisões – Análise Comparativa de Itens – Prorrogações dos Contratos de Concessão – RMSP e Metra, cujas informações deverão ser apuradas e preenchidas pelo Grupo Técnico de apoio aos trabalhos que estão sendo desenvolvidos“, diz o texto (veja abaixo).

A lei 16.933 estabelece as diretrizes gerais para a prorrogação e relicitação dos contratos de parceria, um artifício que tem sido usado em várias concessões como as de trens de carga do governo federal. A ideia é evitar uma nova licitação e ao mesmo tempo garantir o investimento para modernização ou ampliação de determinados projetos. Graças à esse expediente, o governo Doria deverá conseguir lançar o Trem Intercidades, que utiliza ramais de carga e que serão liberados pelas concessionárias após negociação com a União.

No entanto, o caso do BRT do ABC Paulista causa estranheza por beneficiar diretamente a Metra, empresa que teria a demanda do Corredor ABD afetada justamente pelo projeto do monotrilho. Quando o governo decidiu seguir com a Linha 18-Bronze após empenho do ex-prefeito de São Bernardo do Campo, o petista Luiz Marinho, o projeto original previa que o ramal chegaria até o bairro Alvarenga, mas não demorou para que a gestão Alckmin suprimisse o trecho após a rua Djalma Dutra, no centro da cidade.

A razão apontada na época era de que o monotrilho prejudicaria o corredor por se sobrepôr a ele – a via elevada usaria justamente a canaleta dos ônibus para ser construída. Com isso, apenas um trecho de 14 km até Tamanduateí foi incluído na PPP, mas mesmo esse percurso certamente afetaria a demanda do Corredor ABD, sobretudo os ônibus que circulam entre São Bernardo e Santo André, onde passa a Linha 10-Turquesa, ramal mais próximo da rede metroferroviária.

Projeto de estação da Linha 18 - Bronze
Cancelado, monotrilho da Linha 18-Bronze concorreria com corredor de ônibus da Metra (VemABC)

Com o monotrilho levando seus passageiros até Tamanduateí (Linha 2-Verde do metrô), haveria uma enorme economia de tempo e dinheiro já que o bilhete da Linha 18 daria direito a circular por toda a malha, prejudicando a Metra. A empresa opera o Corredor ABD desde 1997 quando venceu a licitação e assumiu o trabalho que antes era feito pela própria EMTU. A concessionária pertence ao Grupo Viação ABC que por sua vez é de propriedade da tradicional família Setti Braga. A viação, inclusive, viu suas linhas de ônibus na região serem sobrepostas na década de 80 justamente pelo corredor, originalmente um projeto que deveria utilizar apenas trólebus.

Sem projeto

O documento da EMTU traz uma informação extra, a meta de obter R$ 204 milhões para tirar o projeto do BRT do papel. Trata-se de uma das poucas informações disponibilizadas pela gestão Doria desde que cancelou a linha de metrô em julho do ano passado e anunciou o corredor de ônibus como solução ideal para a região. Há meses, a secretaria dos Transportes Metropolitanos promete mostrar mais detalhes do projeto que deveria ser implantado em tempo curto, mas até agora nada surgiu.

Se de fato a Metra assumir o novo corredor, será uma tripla vitória ao evitar uma concorrência de modal, ver sua atual concessão ser expandida e, de quebra, ampliar seu domínio no transporte público no ABC Paulista com o BRT. Para o governo Doria, por outro lado, será uma forma de economizar recursos ao não precisar mais investir em um transporte mais moderno e capaz, mas de custo bem superior. Quanto aos usuários, bem, esses continuarão sonhando com o metrô.

Com informações do ViaTrolebus.

Documento com os planos da EMTU para 2020 revela intenção de estender concessão da Metra em troca de investimento no BRT (Reprodução)

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