Responsável pela menor proposta pelo monotrilho da Linha 17-Ouro fala à revista

Monotrilho da falida Scomi: consórcio Signalling indica que assumirá mesmo projeto para a Linha 17

Quando os envelopes com as propostas para fabricar os trens de monotrilho da Linha 17-Ouro de metrô foram abertas no dia 07 de outubro, um consórcio inusitado acabou saindo na frente de dois gigantes chineses. O Signalling, dono de uma oferta de pouco mais de R$ 1 bilhão, desbancou a BYD e o consórcio CQCT Golden Phoenix Monorail, liderado pela CRRC, maior conglomerado do setor na China.

A composição do Signalling surpreendeu: são sócios a empresa suíça Molinari, a empresa T´Trans, de São Paulo, e a Bom Sinal, fabricante de VLTs localizada no Ceará. Nenhuma delas, no entanto, até hoje fabricou um vagão de monotrilho. Quando os documentos das propostas foram divulgados pelo Metrô, soube-se que por trás da proposta estava Sidnei Piva, empresário que há alguns anos adquiriu o controle da problemática Viação Itapemirim e que recentemente também passou a ser sócio da T´Trans, empresa que já executou contratos com o governo paulista, como a reforma dos trens originais do Metrô. À frente da T´Trans, Piva foi além e assumiu também a Bom Sinal, que está em recuperação judicial.

Sem explicar como pretende fabricar os 14 trens do monotrilho da Linha 17, a T´Trans divulgou nota em que garante que tem condições de cumprir o contrato e fez uma promessa de entregá-los em metade do tempo previsto pelo edital. Desde então, espera-se pela análise e julgamento da proposta pelo Metrô para saber se a companhia irá considerar a experiência do grupo suficiente para desenvolver uma solução que substitua o projeto original, desenvolvido pela Scomi, da Malásia, e que faliu.

Nesta semana, no entanto, Sidnei Piva foi entrevistado pela Revista Ferroviária e, se não contou qual o segredo para ter tamanha certeza de tirar um monotrilho do nada, ao menos deu pistas sobre a razão de a Signalling ter saído na frente na concorrência.

Debruçado sobre o projeto do monotrilho

O empresário se autoentitula um apaixonado por salvar empresas e enxergou na T´Trans, e que estava em recuperação judicial, um enorme potencial para aproveitar o que ele considera uma questão de tempo, o crescimento do mercado ferroviário no Brasil. Ao assumir a empresa, no entanto, Piva manteve seu então presidente, Massimo Giavina-Bianchi, como braço direito. Não satisfeito, investiu em outras companhias como a Bom Sinal, a fundição Cruzaço e a Hewitt, fabricante de aparelhos de mudança de via (AMV). A ideia é que o grupo seja capaz de produzir o máximo de componentes, única forma de competir com fabricantes estrangeiros, na visão da empresa.

Na proposta para o monotrilho do Metrô de São Paulo foi preciso buscar um parceiro internacional, o Molinari, por conta de sistema de sinalização CBTC, exigido pelo edital, mas Piva afirma na entrevista que o grande diferencial da proposta é a experiência da T´Trans em adaptar projetos como o VLT da Baixada Santista, projetado pela Stadler. “Nós já temos a tecnologia do monotrilho e temos condições de entregar no nível de qualidade exigido, com metade do prazo que qualquer outro poderia conseguir”, explicou.

Quando foi questionado pelo fato de nunca terem fabricado um monotrilho, o empresário deixa a entender que seu grupo está trabalhando sobre o projeto da Scomi. Massimo Giavina-Bianchi, também presente à entrevista, revelou que a T´Trans chegou a fazer alguns testes em conjunto com a fabricante malaia, mas acabou sendo preterida pela MPE. O ex-presidente da empresa e atual conselheiro afirmou que procurou o secretário dos Transportes Metropolitanos para dizer que tinham interesse em assumir sua fabricação. Parte da equipe da Scomi no Brasil, inclusive, foi contratada já visando a participação no projeto.

Sidnei Piva disse que sua proposta leva vantagem por não precisar adaptar projeto para as vigas da Linha 17 (CMSP)

Espólio da Scomi

Mas é Piva novamente que dá mais pistas sobre os planos da T´Trans: “somos a única empresa que tem capacidade de colocar em metade do tempo previsto o trem rodando na Linha 17-Ouro, porque temos o projeto já pronto”. Mais adiante, o empresário diz que a empresa já começou a trabalhar na ideia de assumir a fabricação no ano passado, quando o contrato com o consórcio Monotrilho Integração ainda estava ativo, mas já se discutia a substituição da Scomi.

O presidente da T´Trans vai além ao voltar a garantir que o primeiro trem do monotrilho ficará pronto em apenas 12 meses. É nessa altura que Sidnei Piva deixa no ar que sua empresa assumiu o espólio da Scomi. Ao ser perguntado sobre qual estratégia está sendo adotada para produzir os trens, o empresário diz que usará o que “está pronto, o que já está aprovado”. E garante já ter essa “tecnologia” ao explicar que a grande dificuldade para seus concorrentes é adaptar seus projetos à viga sobre os trens irão operar.

“Nosso segredo industrial não dá para revelar, mas nossa capacidade é trabalhar”, e volta a citar evidências de que teria assumido o projeto da fabricante falida. Se dizendo ansioso por assinar o contrato e começar o trabalho, Sidnei Piva se mostra otimista com o setor ferroviário do qual, reconhece, é um desconhecido. Mas à frente da T´Trans não para de pensar em planos ambiciosos que incluem 150 munícipios brasileiros com potencial para sistemas sobre trilhos além de concorrências internacionais.

Até mesmo o badalado Trem Intercidades, que ligará São Paulo a Campinas, entrou na alça do empresário. Questionado sobre a necessidade de recursos, ele afirma que a T´Trans tem sido procurada por fundos de investimento que teriam enxergado o potencial da empresa e do mercado. Se Sidnei Piva não esconde sua ambição, a Linha 17-Ouro será um teste mais do que perfeito para provar sua aposta.

Previous Post

Governo quer profissionalizar ambulantes que atuam na CPTM

Next Post

Após 45 anos, Metrô de São Paulo chegará à marca simbólica de 100 km de extensão

Related Posts