O artigo em que mostramos a realidade da mobilidade em São Bernardo do Campo, município mais populoso do ABC Paulista e que carece de infraestrutura de transportes sobre trilhos, motivou uma manifestação na seção de comentários do secretário Alexandre Baldy, responsável pela pasta dos Transportes Metropolitanos no governo Doria.
Baldy, que afirmou não ser “político”, lamentou o tom crítico da matéria, chamada por ele de “incompleta e tendenciosa”. E voltou a bater na tecla de que “comitês estritamente técnicos” do governo do estado decidiram pela cancelamento da Linha 18-Bronze do Metrô.
Ainda segundo ele, o ramal de monotrilho não era viável e exequível e que não poderia iludir a população. Em vez disso, a região do ABC Paulista, e sobretudo São Bernardo, terá um corredor de ônibus “BRT” bancado pela dona da Metra, concessionária que opera o Corredor ABD desde 1997 e que foi agraciada com uma extensão do contrato por mais 25 anos.
Por ser praticamente uma das poucas vozes contrárias à essa decisão estapafúrdia não seria de esperar uma reação diferente da atual gestão. Desde que surgiram os primeiros rumores de que o governador João Doria preparava uma “virada de mesa” no projeto do ramal metroviário, ainda nos primeiros meses de seu mandato, este site lamenta e rejeita sua substituição pelo modal rodoviário.
E o faz por razões óbvias: trata-se de um veículo de imprensa que defende abertamente o transportes sobre trilhos, ou seja, por vias segregadas, com sistemas automáticos de controle de trens, com estações e integrações que geram rapidez, segurança e promovem a requalificação urbana.
Por tudo isso defender a expansão da malha metroferroviária no Brasil é uma missão deste site. É condição vital para que nossas grandes metrópoles possam oferecer uma qualidade de vida melhor aos seus cidadãos ao retirar veículos das ruas, reduzir a poluição e revitalizar áreas degradadas além de promover o adensamento urbano. São aspectos comprovados na prática e percebidos pela população que há anos têm ampliado o uso da rede de metrô e trens.
O ônibus, a despeito de sua importância, é coadjuvante nesse processo e não o ator principal, como bancam os patrocinadores do modal.

Dados distorcidos
Não seria diferente com a Linha 18-Bronze. O projeto de 15,7 km e 13 estações poderia mudar a dinâmica do transporte na região do ABC e num prazo curto já que estava prestes a ser implantado. Só não o foi por exclusiva culpa do governo do estado, seja da gestão anterior, seja desta. A empresa que seria responsável por tirá-lo do papel, no entanto, teve seu contrato anulado após anos de preparação. Para o governo Doria, ele não foi efetivado de fato, a despeito de sua sócia privada ser obrigada a atender a várias cláusulas por anos a fio.
Desde o anúncio, em julho de 2019, a atual gestão tem sido econômica a respeito das informações que respaldaram a decisão. Seja ao tentar desqualificar o monotrilho (custo elevado, fabricante falido, desapropriação bilionária) ou argumentar que o trajeto não justifica a Linha 18. Veja um caso:
“O BRT pode ser implantado em 18 meses, a partir do início de sua construção, e tem capacidade para transportar até 340 mil passageiros por dia“, afirmava o governo durante a apresentação do projeto. Vinte e dois meses depois soube-se que a real capacidade será de 115 mil passageiros por dia, um terço da promessa.
Como o site mostrou, nada corrobora uma queda brutal de demanda de passageiros de 66% a não ser o fato de que o modal escolhido não atrairá a população da mesma forma que o monotrilho. E isso é completamente óbvio afinal os ônibus da Metra levarão entre 40 e 52 minutos para percorrer o trajeto semelhante ao da Linha 18, e que faria essa mesma viagem em cerca de 26 minutos.
Baldy, em vez de esclarecer as persistentes dúvidas, como se haverá integração tarifária semelhante ao que existiria na Linha 18-Bronze, preferiu ressaltar suas habilidades como gestor.
Mais triste que isso é afirmar que questionamentos como os feitos pelo site não contribuem para o debate. Ignora-se que debate existiu a respeito da decisão de cancelar a Linha 18 e ao mesmo tempo renovar a concessão da Metra com o BRT incluso. Atitudes tomadas à portas fechadas.
O site, no entanto, abriu um espaço nesta quinta-feira para que o secretário possa explicar 10 questões intrigantes sobre a solução de transporte tomada pela administração Doria.
Infelizmente, os motivos que levaram a essa deplorável atitude do governo Doria podem nunca ser esclarecidos, mas isso não significa que devam ser aceitos. Gestões como a do atual governador e de seu secretário dos Transportes Metropolitanos passam, mas o prejuízo com decisões ruins e que só trazem benefícios para poucos fica. E isso sim é para se lamentar profundamente.