A inauguração da estação Jardim Planalto, da Linha 15-Prata de metrô, nesta segunda-feira (26) foi palco de vários exageros do governador João Doria (PSDB) durante discurso e entrevista coletiva. Sétima estação do ramal de monotrilho, a parada estava praticamente pronta em abril do ano passado, quando chegou a ser citada como uma das previstas para ser aberta pelo ex-governador Geraldo Alckmin. No entanto, graças ao abandono da empresa Azevedo & Travassos, os trabalhos foram interrompidos semanas antes de concluí-la.
Mesmo com esse fato, o governador repetiu algumas vezes que a estação Jardim Planalto “foi entregue dois meses antes do previsto”, embora a nova contratada tenha levado quatro meses para resolver as pendências deixadas anteriormente. O governo do estado também “esticou” a extensão da linha ao informar que foram acrescentados 1,1 km ao trajeto, mas uma medição simples em imagens do Google Earth mostra que as estações Vila União e Jardim Planalto estão separadas por no máximo 950 metros. Também o tamanho da rede de linhas consideradas de “metrô” inflou, segundo Doria: pulou de 96 km no ano passado para 98 km agora, já contando com a estação inaugurada nesta segunda – em comunicado oficial do governo, a extensão total é menor, de 97,2 km.
Outra previsão da gestão Doria parece bem mais factível, a que diz que a Linha 15-Prata atingirá um movimento diário de passageiros de 100 mil pessoas com Jardim Planalto. Atualmente, o ramal transporta pouco mais de 75 mil passageiros por dia e já teve picos de 80 mil pessoas. Além dos cerca de 12 mil passageiros que serão atendidos a partir da nova estação, o ramal de monotrilho está atraindo outros usuários à medida que o serviço torna-se mais confiável e com intervalo mais baixo.
O otimismo com a Linha 15-Prata, a primeira do país que usa um monotrilho em uma demanda de alta capacidade, vai além. Nos cálculos do governo, o ramal atenderá nada menos 300 mil pessoas a partir de 2020, quando as estações Sapopemba, Fazenda da Juta e São Mateus forem inauguradas. Trata-se de praticamente quatro vezes o movimento atual em uma linha de pouco mais de 15 km de extensão, ou cerca de 50% mais do que transporta a Linha 4 do Rio de Janeiro, construída como um metrô pesado.
Segundo o secretário Alexandre Baldy, estão sendo investidos R$ 5,3 bilhões no ramal, incluindo o pátio Oratório, afirmou aos jornalistas presentes. Um custo aproximado de R$ 350 milhões por quilômetro ou praticamente um terço do valor estimado de um ramal subterrâneo, já citado pelo secretário como de cerca de R$ 840 milhões. Nada mal para um modal que é considerado por críticos incapaz de oferecer grande capacidade e ter um custo proibitivo.
Trecho no alto de Sapopemba
A abertura da estação Jardim Planalto, já em operação comercial a partir desta segunda-feira, marca o início do trecho elevado da Linha 15-Prata. Até aqui, o ramal percorria apenas o eixo da avenida Ignácio de Anhaia Melo, em uma espécie de vale e por cima do Córrego da Mooca, motivo pelo qual as obras atrasaram, inclusive. A partir de Vila União, os trens passam a empreender uma subida para chegar à avenida Sapopemba, um traçado em que não é possível ser feito por um metrô convencional por conta da grande inclinação e curvas. Para se ter uma ideia, a diferença de altitude entre Vila Prudente e Jardim Planalto é de cerca de 75 metros, ou o equivalente a um edifício de 20 andares.
A nova estação, 85ª de metrô, possui 6.400 m² de área e dois acessos laterais. Ela conta com dois bicicletários para até 80 unidades, três elevadores, nove escadas rolantes e três fixas, além de banheiros públicos acessíveis.
Um assunto importante acabou sendo deixado de lado pelo governo, o início da concessão da Linha 15-Prata pela ViaMobilidade – Linha 15, que venceu a licitação no início deste ano. Desde maio, o contrato só aguarda assinatura das partes para ser efetivado, mas a atual gestão diz não haver previsão para isso. Enquanto ele não passa a valer, o Metrô de São Paulo tem operado o ramal mesmo com a necessidade de deslocar mais funcionários para ele.