Em sabatina, governador Rodrigo Garcia erra dados sobre a Linha 18 e BRT-ABC

Projeção do monotrilho da Linha 18-Bronze
Projeção do monotrilho da Linha 18-Bronze (VEM ABC)

Durante a sabatina realizada pelo jornal O Estado de São Paulo e a FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) nesta segunda-feira, 22, o atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, e candidato à reeleição, foi questionado sobre o cancelamento da Linha 18-Bronze do Metrô, trocada por um corredor de ônibus ‘BRT ABC‘.

Um dos participantes, o jornalista Marcelo Godoy, perguntou à Garcia por que o estado decidiu romper o contrato do ramal de montrilho e substitui-lo por um corredor de ônibus proposto pela concessionária Metra, que por meio de um aditivo questionado na Justiça, foi agraciada com um pacote de R$ 22,6 bilhões.

Em sua sabatina na semana passada, o candidato petista Fernando Haddad voltou a abordar o tema e até prometer resgatar o contrato de Parceria Público-Privada (PPP) com a VEM ABC para construir o ramal de monotrilho de 14,7 km. Atualmente, a empresa está aguardando uma decisão para receber indenização do estado pela quebra contratual.

Corredor de ônibus BRT ABC: capacidade de passageiro será a metade da Linha 18 e viagem 50% mais demorada (GESP)

O atual governador, no entanto, enumerou várias informações questionáveis, citando números fantasiosos e invertendo valores para justificar a adoção do BRT-ABC. Confira a seguir a checagem das suas afirmações:

“Nós chegamos em 2019 com um contrato assinado da Linha 18 de um monotrilho para o ABC. Um monotrilho que ia custar R$ 6 bilhões e não tinha um real para fazer o monotrilho”.

FATO, MAS…: Garcia não esclarece que a Linha 18 tratava-se de uma PPP em que o poder público arca com metade do custo. Isso significava o montante de R$ 1,928 bilhão em valores de 2014. A Procuradoria Geral do Estado apontou que em abril de 2021 o projeto da Linha 18 custaria cerca de R$ 7,4 bilhões, mas a parte do poder público seria de R$ 3,7 bilhões, já incluídas as desapropriações.

Sobre o custo geral, a estimativa faz sentido, mas omitir que a metade do custo viria do parceiro privado é errado. Ainda assim, trata-se de um empreendimento coerente para sua capacidade, de transportar 340 mil pessoas por dia. O custo, mesmo com os valores do ano passado, é de R$ 500 milhões por km. A Linha 6-Laranja, outra PPP e que foi resgatada pelo governo, terá um custo de R$ 18 bilhões (143% mais cara) para implantar 15,3 km (R$ 1,18 bilhão por km) e transportar 85% a mais.

O governador acerta ao dizer que não havia dinheiro para o projeto, mas não explica por que na gestão Doria/Garcia não se tentou buscar recursos para a Linha 18, da mesma forma que foi feito com outros programas de expansão parados como a Linha 6 e a extensão da Linha 2-Verde, também com contratos assinados desde 2014.

O total que seria bancado pelo poder público, de R$ 3,7 bilhões em valores de 2021 (PGE)

“Essa obra vai custar 10% do que iria custar o monotrilho…em cerca de R$ 700 milhões…”

DUVIDOSO: Sobre o custo do BRT, em fevereiro seu governo afirmou que a obra terá um custo de R$ 860 milhões. O valor será em tese integralmente bancado pela Metra e por isso as planilhas de custo não são públicas.

No acerto com a empresa, o governo Doria/Garcia se comprometeu a quitar uma dívida de R$ 740 milhões, praticamente bancando indiretamente o investimento no corredor. O Tribunal de Contas do Estado questiona a razão de a gestão estadual ter permitido esse endividamento tão alto.

O ex-governador João Doria em anúncio do BRT: dados não batem com afirmações de Garcia (EMTU)

“…Ela será feita em um ano e meio, o monotrilho iria levar de 6 a 7 anos…”

FAKE: Sobre o prazo de apenas 18 meses para implantá-la, Garcia esqueceu-se de dizer que já se passaram mais de três anos desde que o BRT foi anunciado. Por mais simplório que o corredor de ônibus seja, parece pouco plausível que seja entregue no ano que vem, como disse o tucano. Garcia inflou o prazo de construção da Linha 18, que em contrato seria de até 4 anos e não “6 a 7 anos”.

“…e além disso ela transporta o mesmo número de passageiros com o conforto do monotrilho”.

FAKE: Ele também ignorou que o BRT-ABC transportará no máximo a metade da capacidade da Linha 18. Inicialmente, o governo citou 115 mil passageiros por dia, mas em fevereiro deste ano previu cerca de 173 mil usuários contra 340 mil do monotrilho.

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“Ele [O BRT] não para até a próxima estação porque todo sistema semafórico é programado para que o BRT tenha uma circulação diferente dos veículos”.

POUCO CRÍVEL: Espera-se a tal sincronização semafórica para dar prioridade ao BRT, porém, é ilusão considerar que um sistema inserido no viário urbano sempre estará desimpedido para seguir viagem. São dezenas de veículos em ambas as direções para oferecer uma capacidade minimamente decente e não se imagina como os cruzamentos poderão ficar eternamente fechados para automóveis a fim de não interromper o fluxo de ônibus.

“Nós substituimos um modal por um modal mais rápido, simples, que leva com conforto a mesma quantidade de pessoas”.

FAKE: o próprio governo já revelou que as viagens entre o centro de São Bernardo do Campo e a estação Sacomã, da Linha 2-Verde, levarão 40 minutos na melhor hipótese, no chamado “serviço expresso”, que fará paradas em menos pontos de ônibus. A Linha 18-Bronze, com 13 estações, levaria cerca de 26 minutos, ou 35% mais veloz que o BRT. Além de transportar o dobro de passageiros.

O governador e candidato à reeleição Rodrigo Garcia (GESP)

“Em paralelo, nós contratamos já o projeto da Linha 20 do Metrô, que vai sair ali da Lapa e ligar com o ABC. Então um projeto para os próximos anos em São Paulo”.

FAKE: o governador acerta ao dizer que o projeto da Linha 20-Rosa está contratado, mas não diz qual deles. Trata-se do projeto funcional e anteprojeto de arquitetura, que é preliminar às fases mais detalhistas do empreendimento. A atual gestão também está realizando estudos de viabilidade comercial do ramal, para concedê-lo à iniciativa privada, porém, “os próximos anos” a que Garcia se refere são bem mais distantes do que ele deixa a entender. Pelo ritmo e complexidade de um projeto de alta capacidade e subterrâneo, a Linha 20-Rosa só deverá ser concluída na próxima década.

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