Inovadora, Linha 16-Violeta do Metrô tem licitação parada há sete meses

Edital de projeto básico e estudo ambiental teve vencedor habilitado em maio, mas contrato não teria sido assinado ainda. Ramal ligará a Zona Leste ao Jardim Paulistano
Tatuzão da Linha 16 deverá ser o maior já usado no Brasil (HS2)

Dona de várias inovações em métodos de engenharia e arquitetura, a Linha 16-Violeta do Metrô de São Paulo promete tornar os projetos sobre trilhos mais baratos e rápidos de serem implantados.

Mas, a despeito da sua importância, o projeto parece ter descido alguns degraus na lista de prioridades do governo estadual.  O ramal, com trajeto previsto de 32 km, 23 estações e capacidade para transportar 833 mil passageiros diariamente, está com uma licitação crucial parada há sete meses.

O Metrô lançou o edital em setembro do ano passado, ao mesmo tempo que um projeto semelhante, a Linha 22-Marrom. Em dezembro houve a primeira sessão de julgamento de propostas técnicas, onde três do quatros consórcios se classificaram.

Em março, o Metrô revelou as propostas comerciais e, após analisá-las, decidiu por indicar como vencedor o Consórcio SP 16, formado pelas empresas SYSTRA, GPO SISTRAN, OUTEC, Geocompany, Engenharia e Meio Ambiente, SMZ, COPEM e Prime.

O consórcio propôs um valor de R$ 149.888.193, que foi reduzido para R$ 149,85 milhões após negociação. Em maio, a companhia habilitou a proposta, abrindo caminho para a assinatura do contrato, mas o documento segue pendente.

Nesse meio tempo, a Linha 22-Marrom, entre Cotia e o bairro de Sumaré, em São Paulo, teve o contratado assinado, além de outras licitações aprovadas.

O site questionou o Metrô por que a demora em dar sequência ao projeto da Linha 16-Violeta. Segundo a empresa, “o Metrô está concluindo os trâmites para a assinatura do contrato do Anteprojeto de Engenharia da futura Linha 16“.

O traçado da Linha 16: esticada até Cidade Tiradentes (CMSP)

Tatuzão que constroi estações e super elevadores

A Linha 16 surgiu de uma mudança estatégica no Metrô, que pretendia levar a Linha 6-Laranja até Cidade Líder numa fase posterior. Concedido à iniciativa privada, o ramal acabou atrasando e a companhia passou a analisar uma alternativa, desmembrar o trecho leste, criando o novo ramal.

Revelada em primeira mão por este site em 2018, a Linha 16-Violeta trazia novidades, como a mudança do eixo central, deslocado para o sul, onde se encontraria com a Linha 1-Azul na estação Paraíso em vez de São Joaquim. O trajeto seguiria em paralelo com a Avenida Paulista, dentro do Jardim Paulistanto até terminar na estação Oscar Freire.

Mais tarde, a companhia confirmou sua existência e, com o avanço dos estudos internos, alterou seu percurso leveando a Linha 16 para a populosa região de Cidade Tiradentes, na Zona Leste, onde tem a tarefa de dividir demanda com a Linha 15-Prata.

O trajeto atual passa por regiões como Cidade Líder, Santa Marcelina, Anália Franco, Mooca, Aclimação e Paraíso, terminando no Jardim Paulistano. Pelo seu caminho encontrará outras oito linhas de metrô e de trens metropolitanos.

TBM4 poderá acomodar quatro vias (CMSP)

Além da importância de atender locais de grande densidade populacional, a Linha 16-Violeta também tem como meta testar novos conceitos em solo brasileiro. O mais impressionante envolve o uso de uma tuneladora de grandes dimensões, capaz de construir túneis com 14 metros de diâmetro, ou 2,4 metros mais largo que o atual tatuzão usado na Linha 2-Verde.

Tal diâmetro permitirá que seja implantadas quatro vias, em dois pisos, com duas delas servindo como estacionamentos ou ainda como plataformas das estações. É um conceito usado pela Linha 9 do Metrô de Barcelona.

Além disso, o tatuzão poderá escavar em inclinações de até 5% contra 4% atualmente. A pequena diferença significa estações menos profundas, reduzindo custos e facilitando o deslocamento dos passageiros.

Ainda assim, em algumas estações será possível utilizar elevadores de grande porte para chegar às plataformas, algo inédito no Brasil.

A Linha 16 deve utilizar um megatatuzão capaz de abrir túneis que abrigarão as estações do ramal

Prioridade para as linhas 19-Celeste e 20-Rosa

O atual leque de projetos metroferroviários do governo do estado é enorme e é natural que linhas sejam priorizadas. Pelo atual estágio de maturidade, a Linha 19-Celeste seria a primeira a ganhar luz verde para obras, mas a decisão não é apenas técnica, como se sabe.

O fator político é preponderante para mudar as cartas do baralho. A extinção da Linha 18-Bronze pelo governo João Doria em 2019, por exemplo, teve grandes reflexos no planejamento da rede sobre trilhos.

Diante do retrocesso inédito em mobilidade, Doria elegeu a então “congelada” Linha 20-Rosa como argumento para compensar o fim do ramal de 14 km que ligaria o ABC à Linha 2-Verde.

Projeção preliminar da estação Oscar Freire, da Linha 16-Violeta (CMSP)

Desde então, o projeto da Linha 20 avançou e tornou-se uma promessa de campanha do atual governador, Tarcísio de Freitas.

Não por acaso, a decisão de lançar licitações múltiplas das linhas 22-Marrom, 16-Violeta e a extensão da Linha 2-Verde até Cerro Corá ocorreu às vésperas das eleições estaduais de 2022, onde o então governador Rodrigo Garcia tentava chegar ao 2º turno.

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A despeito do uso eleitoral, esses projetos devem avançar, afinal uma linha metroviária não nasce da noite para o dia. Basta ver há quanto tempo se fala da Linha 6-Laranja, por exemplo. É um trabalho de várias gestões de governo, que se revezam à frente dessas metas.

Espera-se que no caso da Linha 16-Violeta, “a corrida não seja interrompida antes do fim”.

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12 comments
  1. A futura estação Oscar Freire parece com o museu do MASP.

    Mas pra assinatura de contratos custuma demorar msm

  2. esta linha, JA ESTA trazendo prejuizo aos moradores que ja pensavam em vender seu imovel, pois quem comprara um imovel na linha de desapropriacao ?

    E para os que NAO tem interesse em sair do local, ao ser obrigados, vao receber verdadeira mi$eria, que nao lhe dara condicoes de comprar em outro lugar ( ou proximo ) no mesmo parametro, do imovel atual.

    Enfim, que esta linha seja ABANDONADA.

  3. mas contrato não teria sido assinado ainda.

    Correção, prezado editor:

    mas contrato não foi assinado ainda.

  4. Seria melhor expandir a linha laranja em direção a leste, como nos planos originais, ao invés de fazer uma linha nova. Isto iria economizar tempo e dinheiro.

  5. Boa tarde. Uma dúvida, Ricardo: não terá sido a Linha 16-Violeta estrategicamente “congelada” para atender os interesses da Acciona/LinhaUni em esticar a Linha 6-Laranja para o leste de São Joaquim? Parece-me uma coincidência e tanto a imobilidade da assinatura do contrato de uma e a manifestação de interesse dos construtores e operadores privados da outra. Os interesses da Acciona/LinhaUni foram inclusive noticiados aqui há algumas semanas.

  6. Não duvido que tenha o mesmo destino da linha 18, mas diferentemente do monotrilho que não vera a luz do dia o traçado pode ser incorporado a linha 6 como originalmente estava previsto

  7. Sabemos que uma linha de metrô demora pra ser concluída, desde a concepção do projeto até entrar em operação. O problema é que face ao tamanho de São Paulo e Região Metropolitana, a rede metroferroviária está bem aquem do ideal. Tirar esse atraso é o mínimo a ser feito e mesmo assim as obras ainda param e atrasam, e fica esse problema na cidade. Já deveríamos ter essas linhas que hoje estão em obras, concluídas e já em execução as novas linhas como 19 e 20, e posteriormente a 16 e a 22.

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