Por que ocorrem greves em parte das linhas da CPTM?

Funcionários que trabalham na companhia são associados a quatro entidades diferentes, por conta da origem desses sindicatos ter ocorrido na época em que as linhas pertenciam a mais de uma empresa
Trens da CPTM (GESP)

Encerrada no fim desta terça-feira, 24, a greve dos ferroviários paralisou o funcionamento das linhas 12-Safira e 13-Jade da CPTM. A Linha 11-Coral, a mais movimentada da companhia, só operou entre Luz e Guaianases por conta do acionamento de supervisores para operarem os trens já que, segundo o governo do estado, nenhum dos cerca de 120 operadores que atuam nos ramais compareceu ao trabalho.

A exemplo do que ocorreu em julho, quando as linhas 7-Rubi, 8-Diamante e 10-Turquesa ficaram parcialmente paralisadas (a Linha 9-Esmeralda não chegou a abrir), após uma negociação às pressas, o governo Doria cedeu e os grevistas suspenderam o movimento.

Desta vez, foi preciso a intervenção do apresentador Luiz Datena (TV Bandeirantes) para superar o impasse. Para os usuários, um ‘replay’ do sofrimento ocorrido no mês passado, mas em outras regiões da Grande São Paulo.

Muita gente certamente não entendeu por que a CPTM sofre greves em parte das linhas, ao contrário do Metrô, cujos quatro ramais são afetados quando há uma paralisação por parte do sindicato – as linhas 4-Amarela e 5-Lilás são operadas pela iniciativa privada e não são afetadas.

Em entrevista ao vivo à TV nesta terça, o presidente da CPTM, Pedro Tegon Moro, chegou a corrigir uma apresentadora, que havia citado três entidades representativas dos funcionários: “São quatro sindicatos, três dos trabalhadores de linhas e mais o sindicato dos engenheiros”, explicou.

Estação da Linha 9-Esmeralda: ramal concedido à iniciativa privada (CPTM)

A caminho da iniciativa privada

Sim, não foi um exagero de Moro, a CPTM negocia com quatro entidades diferentes, uma situação inusitada motivada pela origem de seis dos sete ramais existentes.

Isso porque no passado, quando as ferrovias começaram a ser implantadas em São Paulo, formaram-se associações específicas para cada companhia criada. A ferrovia Central do Brasil, por exemplo, que era responsável pela ligação entre o Rio de Janeiro e a capital paulista, foi assumida pela CBTU, que cuidava dos trilhos onde hoje circulam as linhas 11 e 12.

Na década de 90, com a criação da CPTM, esses serviços foram herdados pela empresa paulista, que passaram a ser integrados com outros ramais que formam hoje sua malha.

A mesma situação se repetiu com as atuais linhas 8 e 9, originadas na antiga Companhia Sorocabana, e as linhas 7 e 10, que pertenciam à São Paulo Railway e mais recentemente, à extinta Fepasa.

Graças a essa intricada colcha de retalhos, atualmente os funcionários das linhas 7 e 10 são representados pelo Sindicato dos Ferroviários de São Paulo; os das linhas 8 e 9, pelo Sindicato da Zona Sorocabana; e os das linhas 11, 12 e a nova 13-Jade, pelo Sindicato da Zona Central do Brasil, que decidiu pela greve da terça-feira (os demais ainda analisam a proposta do governo).

Além deles, os engenheiros da CPTM também são associados ao Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP).

O sindicato da Sorocabana explica esse panorama em seu site:

Cada Sindicato possui uma base territorial de representação dos trabalhadores. No caso da CPTM, por exemplo, há o que chamamos de exceção à unicidade Sindical pois a empresa é resultado da fusão de duas empresas: CBTU (controlada pelo governo federal) e Fepasa (administrada pelo governo estadual). Essa situação especial trouxe para a CPTM a representatividade das Entidades que historicamente possuíam legitimidade pela representação dos ferroviários em suas respectivas bases. Sendo assim, do ponto de vista coletivo, é aconselhável que o empregado se sindicalize ao Sindicato que representa a base em que está lotado. Nos demais casos, vale o princípio da unicidade Sindical, ou seja, a representação individual e coletiva é exercida apenas por um Sindicato“, diz texto que esclarece como escolher a representação sindical.

Os quatro sindicatos que negociam com a CPTM: herança do passado

Futuro indefinido

Apesar disso, as negociações salariais têm sido feitas em conjunto já que a CPTM obviamente faz a mesma proposta para todos os seus empregados. Segundo Moro, neste ano houve um desalinhamento entre eles, o que causou a ocorrência de greves parciais em julho e agora.

O cenário futuro pode ficar ainda mais nebuloso já que o governo Doria já afirmou pretender conceder todas as sete linhas da CPTM à iniciativa privada. As duas primeiras, 8-Diamante e 9-Esmeralda, já foram repassadas para a ViaMobilidade Linhas 8 e 9, que deve assumir a operação em janeiro do ano que vem.

Ligada ao grupo CCR, gigante de concessões públicas, a concessionária deverá repetir os passos da ViaQuatro e ViaMobilidade e mudar a relação com os funcionários, boa parte contratada com outros termos e em tese sem a mesma capacidade de mobilização vista nas companhias do governo.

Vale lembrar que essas entidades não atuam apenas com funcionários da CPTM, como ocorre com o Sindicato dos Metroviários de São Paulo, mas também operadoras de carga como a MRS.

Certamente, a situação deve ficar mais complexa já que os sete ramais voltarão a ser administrados por empresas diferentes, como no passado.

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  1. isso chama-se ; boquinha, ninguém quer perder a boquinha. Por que já nao se juntaram em um so sindicato, e o fizeram mais forte .

  2. há algumas considerações a fazer:

    as linhas 4 e 5 tambem são representadas pelo sindicato dos metroviarios. logo, são 3 empresas diferentes, 3 acordos coletivos diferentes. neste ano, por muito pouco não houve greve na CCR. primeiro por causa de vacina contra covid 1. depois pelo acordo coletivo, que em cima da hora, chegaram num acordo graças a intervenção do baldy, onde a CCR ofereceu reajuste e aumento do PPR. no metrô nenhum representante da empresa compareceu ao TRT para reunião de conciliaçao, dessa forma a categoria decidiu pela greve.

    não é novidade mais de um sindicato representar funcionários de uma mesma empresa. no caso da CPTM a explicação é mais do que obvia.

    mesmo concedendo as linhas, os sindicatos continuarão os mesmos em suas respectivas bases setoriais: sorocabana 8 e 9, SP 7 e 10, central do brasil 11 e 12. guarulhos é base do sindicato da zona sorocabana, a explicaçao para adesao na greve talvez seja q eles sejam os mesmos da base 11 e 12. isso é comprovado com as operadoras de carga, e até mesmo com o VLT da baixada, q corre pelo antigo leito da fepasa, q era de base da sorocabana. logo, o discurso do sr. baldy de conceder as linhas por causa de greve, é mais uma vez uma atrocidade: primeiro pelo assedio moral publico em ameaçar trabalhadores em exercicio de um direito garatido por lei. segundo por ludibriar a populaçao e justificar uma concessao jogando a culpa na classe trabalhadora, como se nem o mais ingenuo do cidadao nao soubesse que todas essas concessoes a toque de caixa são unica e exclusivamente para atender o interesse da classe empresarial, da qual está se beneficiando do saque do patrimonio publico promovido por dória, paulo guedes e companhia.

    1. Mais uma vez você não entendeu nada
      Os novos empregados das linhas que serão concedidas NÃO vão se filiar a estes sindicatos pelegos e os atuais empregados da CPTM , que são sindicalizados vão…..para casa.
      Você acreditou que os empregados da CCR iam fazer greve e que o Baldy que evitou ?
      Isto é papo de sindicalista picareta em fim de carreira querendo se fazer de influente.
      Senão todos, boa parte dos atuais empregados da CPTM são simplesmente obsoletos profissionalmente falando e com maus hábitos para trabalhar , devido a esta fusão de empresas que na realidade nunca foi completa.
      O resultado final vai ser a sua extinção por total inviabilidade …

      1. Informação é diferente de opinião.

        Filiação e representação são duas coisas distintas. Se filiar a um sindicato é opcional. Ser representado é obrigatório por lei. Todo trabalhador é representado por algum sindicato, sendo filiado ou não.

        Quem representa os ferroviários sao os sindicatos das respectivas linhas como escrevi acima. Pode vender ,.conceder, virar carga, vai continuar o mesmo sindicato representativo. Quer vc goste ou não.

        Não pense q a CCR esteja imune de greves. Houve interferência do secretário sim, acredite vc ou nao, como houve em todos os casos. Ou quem vc acha que negociou o fim das greves no metrô e CPTM? Os presidentes das empresas q não foram.

        Sobre os funcionários da CPTM é uma opinião sua. Mas o fato que muitos que integram cargos altos na CCR bahia, na viamobilidade e agora nessa concessão 8-9 vieram da CPTM. O próprio ceo da viamobilidade é ex fepasa e CPTM. Só olhar o perfil dele no LinkedIn

        E não sou sindicalista, sou apenas alguem que lê e se informa. Sem informação, tudo que se fala é apenas opinião

      2. Você que pensa que não! Muitos já são! O povo precisa entender que patrão não é amigo de funcionário.

        Se o povo fosse um pouco mais inteligente saberia pressionar os coitadinhos dos patrões que tanto sofrem nas mãos de um povo que tem “inúmeros” direitos. Eu desconheço qualquer trabalhador, que nada em dinheiro quando entra em um supermercado.

    1. E você proletário, é só mais um número para tal. Na primeira oportunidade que tiverem te mandam embora.

      Então cobre os seus devidos DIREITOS trabalhistas antes de ser colocado na rua. Ahh… só pra lembrar, é o sindicato que irá atrás dos seus direitos.

  3. Funcionário Privado também faz greve. Saber dos fatos, não te faz um sindicalista, como dizem alguns “sábios de internet”.

    Logo a ViaMobilidade e ViaQuatro aprovarão greves por parte de seus funcionários, aí acaba esse negócio de conceder tudo para apenas um grupo!

    1. motorista de onibus faz greve a torto e a direito. inclusive esse ano fizeram protesto com sabotagem, duas vezes, furando pneus e cortando a correia do motor dos onibus na regiao do parque dom pedro. a metra fez greve por atraso nos salarios. e em nenhum momento vejo o pessoal pedindo encampaçao, intervençao, ou multa nas empresas de onibus. a metra ainda por cima, ganhou um presente dos deuses do estado de SP.

      veja bem q nao estou criticando a greve dos motoristas, pois eles sao trabalhadores e estao no direito de fazer greve, como ferroviarios, metroviarios, e qualquer outro trabalhador. mas apenas mostrar a hipocrisia de quem sempre vem pedir privatizaçao quando há greve no metrô e cptm, como se privatizar resolvesse a greve, e como se a greve fosse um crime. crime é o que esses senhores do poder fazem com a administração publica.

      infelizmente trabalhador brasileiro, o povão, nao se reconhece como tal. se um dia ele se reconhecer, ver o q a politicagem faz com o nosso dinheiro, toda a negociata que rola, talvez cabeças irão rolar … mas no brasil, acho difícil …

    2. Muito mais difícil fazer greve em empresa privada, mesmo se fizer, tem um grande risco de demissão. Eu não concordo totalmente com a privatização\concessão da CPTM, ela se padronizou e melhorou muito nos ultimos anos, mais prefiro ver a malha ferroviaria longe do poder do estado, mais em fim, torço que essas empresas façam um bom trabalho.

  4. Você só esqueceu que quando o empregado não é filiado ela não paga um dia de salário ou mensalidade para o sindicato.
    Quanto aos bons empregados da CPTM , a CCR já selecionou há muito tempo os que eram interessantes. Dos atuais acho que não vão ficar com nenhum.

    1. Sérgio, procure se informar melhor. sua raiva, seu ódio, sabe-se lá por qual motivo, te faz passar vergonha por escrever coisas das quais não sabe.

      o pagamento de dia de salário ao sindicato (contribuição sindical) era obrigatório para todos os trabalhadores. com a reforma trabalhista, ficou opcional. seja você filiado ou não. seja o sindicato representativo ou não.

      ser filiado ao sindicato ou a uma associação, significa que esta entidade irá lhe oferecer beneficios além da representação sindical. como colonia de ferias, convenio medico, assessoria juridica, emprestimos, dentre outras. mas nas relaçoes trabalhistas o sindicato é quem te representa, vc sendo filiado ou nao, vc pagando ele ou nao.

      esse tipo de informaçao deveria ser normal para todos os trabalhadores, como deve ser seu caso. muitos nem sabem qual sindicato representa sua categoria, nao sabe nem quando é o dissidio coletivo, sequer sabe se há (e que existe) um acordo coletivo de trabalho. isso mostra o nivel de ignorancia do trabalhador brasileiro. ter conhecimento sobre as relações de trabalho e sindicais nao te faz um sindicalista, pelo contrário, te faz até mais consciente para criticar o sindicato. porque só esse discurso de sindicato nao presta, sindicato é um cancer, blabla, só enfraquece o trabalhador. ou quem vc acha que vai sentar na mesa e discutir melhorias? quem vai chegar na empresa, ou no TRT caso a empresa nao esteja cumprindo a legislaçao trabalhista, como por exemplo assedio moral, assedio sexual, falta de EPI, jornada exaustiva, nao pagamento de direitos, etc? quem ? vc sozinho vai lá e acha q vai ter algum sucesso???

      sobre a CCR, vc pode se candidatar a uma vaga no site deles. caso seja selecionado para trabalhar, talvez vc teu chefe seja um ex cptm, ex metrô…

  5. Enquanto o povo brasileiro continuar a dar ouvidos à essa mídia podre e em acreditar em direita e esquerda, serão tratados como gado.

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