Em entrevista ao Diário do Transporte nesta quinta-feira (07), o coordenador da secretaria geral do Sindicato dos Metroviários, Wagner Fajardo, discordou da declaração em que o Metrô apontou falha humana no episódio em que dois trens de monotrilho se chocaram na estação Jardim Planalto, na noite de 29 de janeiro. Para Fajardo, a culpa pelo acidente é da Bombardier, fabricante do monotrilho e também responsável pelo sistema de sinalização e controle CBTC.
“Quando um trem está desligado ele não aparece no sistema CBTC. Aí depende de um operador localizar e sinalizar aquele trem. Se o operador, por algum motivo, comete uma falha esse trem ‘desaparece’ e outro trem pode ser colocado no lugar dele”, explicou Fajardo. “Quem tem que ser responsabilizada é a Bombardier que concebeu um sistema que não oferece segurança”, completou. Na visão do sindicato, a falha é inconcebível visto que nas outras linhas essa possibilidade (de um trem sumir do sistema) não existe.
Questionado pelo site se o acidente poderia ter sido evitado, o presidente do Metrô, Silvani Alves Pereira, voltou a citar a ação do funcionário como algo que está fora de alcance da companhia: “O Metrô em nenhum momento vai negligenciar um procedimento para colocar em risco a segurança da população. Mas existem situações em que um humano interfere no processo. De que forma poderia ser evitado? Eu não sei dizer. Se alguém vai lá e desliga (o trem) não teria como evitar porque não se sabia que ele iria desligar”, disse. “Pedi para o Milton (Gioia, diretor de operações da companhia) para olhar cada um dos procedimentos (de segurança). O monotrilho é um sistema que existe em outros países, mas o nosso é de grande porte e todo cuidado é pouco na segurança”, completou.
Para diretor de operações do Metrô, “a companhia preza pela segurança do usuário, dos funcionários e nós nunca desqualificamos qualquer detalhe que envolva a segurança. Um acidente depende de uma série de fatores, esse em particular teve envolvimento direto da atuação de empregado. Qual o objetivo da revisão dos procedimentos de segurança? Colocar travas no processo alertando o funcionário para confirmar a intenção de tomar aquela atitude”, explicou Gioia.

Descaso com o Metrô
Gigante que engloba atividades em vários setores como o aeroespacial e naval além de ferroviário, a canadense Bombardier viu seus negócios crescerem no Brasil nos últimos anos. A empresa reformou parte dos trens da Frota A do Metrô e forneceu o sistema CBTC da Linha 5-Lilás, além de construir os trens de monotrilho da Linha 15-Prata em sua unidade no interior de São Paulo.
Apesar da expansão da sua presença por aqui, a Bombardier tem aparecido com frequência na mídia pelos sucessivos problemas que seus sistemas têm gerado. Na Linha Lilás, o projeto do CBTC atrasou vários anos até ser entregue em setembro de 2018. Mas a empresa permanece sem resolver a instalação das portas de plataforma no ramal. O motivo estaria ligado à falência da subcontratada que não entregou os equipamentos e só finalizou um conjunto até hoje. Mesmo multada, a fabricante segue à frente do projeto.
Já na Linha 15-Prata, a Bombardier já acumula cinco anos de testes com os trens do monotrilho sem que o sistema tenha se mostrado confiável. As falhas são frequentes e graves, sendo necessário o acionamento do PAESE diversas vezes pela impossibilidade de retorno da operação em tempo hábil. O episódio do choque dos monotrilhos ocorreu dias depois que peças das vias caíram na avenida logo abaixo da linha, algo que era considerado praticamente impossível.
Mas, apesar das multas recebidas e da pressão do governo, a Bombardier parece pouco tocada com a situação. O site chegou a perguntar para um alto executivo do Metrô em uma conversa informal qual a razão de tanto descaso dos canadenses. “Eles parecem não dar muita importância para o Brasil já que têm negócios maiores em outros países”, lamentou o funcionário.
O site enviou mensagem para a assessoria da Bombardier e aguarda resposta.
