Em evento sem o governo federal, Doria busca protagonismo no People Mover de Guarulhos

O Aeromovel, People Mover do consórcio AeroGRU

Em uma espécie de ‘festa de aniversário’ sem a presença do ‘aniversariante’, o governador João Doria (PSDB) realizou uma coletiva para apresentar “novidades” sobre o Peoplo Mover, sistema automático de transporte sobre trilhos que será implantado no Aeroporto de Guarulhos até 2024 graças ao entendimento entre o governo federal e a GRU Airport.

O tucano, que deve deixar o cargo em abril para concorrer à Presidência da República, anunciou o “início imediato” do projeto, buscando tirar o protagonismo do governo Bolsonaro, que é responsável legalmente por sua implantação e bancará os recursos para viabilizá-lo – o estado contribuirá com renúncias fiscais para o consórcio vencedor da concorrência.

O projeto, que estava em compasso de espera nas mãos da concessionária, foi lançado em 2019 após um raro alinhamento entre o tucano e o presidente Jair Bolsonaro, ambos no começo de seus mandatos.

Doria chamou os holofotes para si antes que o governo federal percebesse e apresentou a solução, então chamada por ele de “monotrilho“, erro repetido na coletiva desta terça-feira – trata-se de um transporte que utiliza trilhos convencionais, mas é propulsionado por ar comprimido, o Aeromovel, de projeto brasileiro.

Doria, durante coletiva sobre o People Mover, admitiu gesto positivo do governo federal, mas disse que projeto saiu “sob a liderança do governo do estado” (GESP)

O protagonismo do governo estadual terminou aí já que toda a gestão do processo cabe somente ao Ministério da Infraestrutura, à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e à Secretaria de Aviação Civil (SAC), junto com a GRU Airport, que foi designada responsável por tocar o projeto – a CPTM atuou apenas como consultora na sua elaboração, como mostram documentos oficiais.

Após um longo período de análise de propostas e discordâncias entre esses atores, o consórcio AeroGRU foi declarado vencedor e chegou a assinar contrato, mas o Tribunal de Contas da União (TCU) barrou o aditivo que permitia à concessionária do Aeroporto de Guarulhos descontar os custos do sistema da outorga paga ao governo federal.

Apenas há algumas semanas, o Tribunal deu luz verde para que a implantação do People Mover ocorresse. Foi a senha para que Doria voltasse a buscar holofotes para vender a ideia de que seu governo tem o comando do projeto.

A coletiva realizada nesta tarde contou com a participação remota do CEO da GRU Airport, Gustavo Figueiredo, e do Ministro do TCU, Vital do Rêgo, que foi relator do processo e questionou por vários meses a necessidade do People Mover. Nenhum integrante do governo federal (como o ministro Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, e postulante ao governo do estado na eleição de outubro) participou do evento, a despeito do envolvimento fundamental para que ele saísse do papel.

Após ignorar em vários momentos da coletiva a atuação da equipe de Bolsonaro, Doria fez um rápido e constrangido agradecimento ao governo federal, a quem atribuiu “um gesto positivo”, mas fez questão de deixar claro que o People Mover é um projeto “sob a liderança do governo do estado”.

Linha de people mover terá 2,6 km de extensão e intervalo de seis minutos (AeroGRU)

Promessa de reforço de trens da CPTM

Segundo a gestão estadual, o People Mover atenderá até 4 mil passageiros por hora e funcionará 24 horas, de segunda a domingo. A capacidade nominal, no entanto, é bastante superior a demanda atual da Linha 13-Jade, da CPTM.

Segundo dados divulgados pela empresa, a estação Aeroporto Guarulhos, onde haverá a conexão com o People Mover, movimentou 230,7 mil passageiros em dezembro do ano passado, ou uma média diária de menos de 20 mil pessoas (mil usuários por hora em média já que ela permanece aberta das 4h à meia-noite).

Em outras palavras, para que o People Mover seja efetivo será preciso a contrapartida da CPTM em oferecer mais viagens na Linha 13, hoje com intervalo mínimo de 20 minutos entre os trens – uma hora caso o passageiro resolva esperar pelo Expresso Aeroporto, que vai até a estação da Luz.

Trens da Linha 13-Jade: ramal da CPTM tem oito composições subutilizadas por conta do intervalo elevado entre as viagens (Jean Carlos/SP Sobre Trilhos)

Inaugurada há quase quatro anos, a Linha Jade permanece subutilizada, a despeito de possuir uma frota exclusiva de oito trens e sistemas modernos que em tese permitiriam viagens a cada 8 minutos.

Paulo Galli, secretário dos Transportes Metropolitanos, prometeu reforçar a operação caso a demanda cresça por conta do trem do aeroporto. Para isso ele diz contar com os investimentos em sistemas, sinalização e energia para inserir mais trens no trecho até a estação Palmeiras-Barra Funda, meta programada para 2024, quando o People Mover deverá ser inaugurado.

Até lá, o jeito é utilizar os ônibus da GRU Airport e esperar bastante pela viagem na CPTM.

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