Governo do estado decide rescindir contrato com consórcio das obras da Linha 17-Ouro

Estação Campo Belo (iTechdrones)

Diante da situação óbvia de abandono dos canteiros mostrada por este site em primeira mão, o Metrô de São Paulo decidiu rescindir contrato com o Consórcio Monotrilho Ouro, formado pelas empresas Coesa e KPE, e que era responsável pelas obras civis remanescentes da Linha 17-Ouro.

O anúncio foi feito pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) nesta quinta-feira, 2, em entrevista. Segundo ele, a empresa foi instada a cumprir o contrato, porém, não houve qualquer ação nesse sentido, e a decisão já foi comunicada ao consórcio.

Agora o governo estuda três alternativas para concluir as obras de sete estações, o pátio de manutenção e alguns trechos de via. A primeira é oferecer o projeto para o 3º colocado na licitação de 2019, o Consórcio Paulitec-Sacyr, que na época propôs fazer a obra por R$ 516 milhões.

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Outra hipótese é chegar a um acordo com a ViaMobilidade, concessionária que irá operar o ramal quando ficar pronto. A ideia é que ela concluísse a implantação mediante algum tipo de compensação, seja financeira ou pela extensão da concessão.

A terceira opção, segundo a TV Globo, é realizar uma nova licitação do que restou de obras civis a serem concluídas. Nesse caso, o risco é que o tempo para encontrar um novo consórcio seja longo já que Tarcísio arriscou dizer que quer ver a Linha 17 pronta em 2024 ou no máximo no início de 2025.

Os poucos funcionários da Coesa e KPE descansam na quarta-feira, 1º de fevereiro (iTechdrones)

Diante de experiências anteriores, uma nova concorrência pode acabar parando na Justiça, como ocorreu há quase quatro anos, quando a Constran venceu a licitação, mas acabou afastada após a Coesa vencer um processo na Justiça e assumir o contrato. Na época, este site já alertava sobre a precária saúde financeira da construtora, então um braço da OAS.

De lá para cá, o grupo baiano se desfez, mas o contrato da Linha 17 ficou sob responsabilidade da KPE, um dos espólios da OAS, e da Coesa, que acabou nas mãos de outros empresários, mas que logo em seguida entrou em recuperação judicial. Ainda assim, o grupo Coesa tem participado ativamente de novas licitações do Metrô e venceu a concorrência para construir a estação Ipiranga, da Linha 15-Prata, em sociedade com a Álya Construtora, antiga Queiróz Galvão.

Opinião do editor: problemas não relacionados ao monotrilho

Como este site não cansa de explicar diante dos “chavões” da grande imprensa, os problemas enfrentados pelo Metrô na Linha 17 e na Linha 15 não têm qualquer relação com o modal monotrilho.

A TV Globo, por exemplo, voltou a repetir que a obra do monotrilho seria rápida e barata, como se o problema fosse esse tipo de transporte. Construir um ramal de montrilho é sim rápido, desde que haja planejamento e empresas sérias e sadias por trás disso. Basta ver a obra da estação Jardim Colonial, erguida em pouco mais de dois anos.

Placa do Consórcio Monotrilho Ouro, formado pela KPE e Coesa: empresa convenceu Justiça que concorrente não tinha capacidade de tocar a obra (Jean Carlos)

Dar voz a “especialistas” que dizem que um corredor de ônibus daria conta da demanda é apenas ajudar o lobby do setor a combater uma tendência natural, a de que a malha metroferroviária, integrada e eficiente, irá assumir a demanda de passageiros de muitas linhas que hoje fazem muito mal o papel de eixos principais de transporte.

E pensar na Linha 17 apenas no trecho inicial de 6,7 km é pura má fé. Ela pode cumprir seu papel quando for implantada por completo.

Outro erro da reportagem é dizer que o contrato foi assinado em julho de 2021. Na verdade, isso ocorreu em novembro de 2020, com a ordem de serviço em dezembro daquele ano.

O jornal SP2 também se equivocou ao citar a instalação de escadas rolantes nas estações como se isso tivesse alguma relação com o Consórcio Monotrilho Ouro. Trata-se na verdade de outro contrato, que estava suspenso há vários anos. Por razões desconhecidas, o Metrô decidiu liberar a instalação, mesmo sem as estações estarem concluídas, expondo os equipamentos a ação do tempo.

Tarcísio: governador tem escolha difícil para concluir obras da Linha 17 (Jean Carlos)

A novela da Linha 17 tem tudo para se estender por mais alguns anos não porque nasceu como um monotrilho, mas sim por falta de planejamento da companhia e do lançamento de um projeto, então pouco conhecido pelo Metrô, feito às pressas por gestões anteriores de governo.

Para corrigir essa situação, o Metrô e o governo precisam aprimorar os processos de seleção a fim de evitar aventureiros nas concorrências públicas. Proibir que empresas com contratos atrasados com o governo participem de novas licitações seria uma delas.

A ironia é pensar que a Coesa teve sucesso em postergar o reinício das obras na Justiça para então ela mesma comprovar na prática que não estava habilitada a tocar um projeto de R$ 500 milhões. Talvez a única boa notícia até aqui é que o consórcio recebeu apenas R$ 100 milhões pelo pouco que fez.

A divisão de fases da Linha 17-Ouro
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