Metrô desclassifica consórcio Signalling e seleciona chinesa BYD para o monotrilho da Linha 17

Após longa análise, companhia considerou que proposta de grupo brasileiro em sociedade com empresa suíça não atendia os requisitos técnicos e financeiros da licitação
Monotrilho da BYD: empresa foi escolhida para a Linha 17

Foram quatro meses de expectativa até que o Metrô publicasse neste sábado, 1º de fevereiro, o resultado final da análise das propostas para a licitação de sistemas da Linha 17-Ouro, que inclui a fabricação de 14 trens de monotrilho. Apesar da proposta de menor valor, o consórcio Signalling foi desclassificado por não atender aos requisitos técnicos e financeiros do edital. Com isso, a gigante chinesa BYD foi selecionada para tocar o projeto, de valor de quase R$ 1 bilhão.

Segundo a análise financeira, o Signalling não possui patrimônio líquido de 10% do valor da proposta de R$ 982 milhões. Para isso deveria ter comprovado um valor de R$ 98 milhões, mas segundo o Metrô, as três empresas possuem apenas R$ 53 milhões. Na parte técnica, não foi comprovada experiência da Molinari (parte do consórcio Signalling) no fornecimento de um sistema de sinalização que proporcione a operação sem a presença de um operador nos trens, o chamado UTO. A empresa suíça diz ter participado da implantação de um sistema assim na Malásia, mas nem o operador e nem a Thales, fornecedora do sistema, confirmaram isso de forma clara.

A licitação de sistemas da Linha 17 era a última barreira para a retomada total da obra, a mais atrasada de mobilidade sobre trilhos em São Paulo. Após rescindir contrato com o consórcio Monotrilho Integração no início do ano, o Metrô separou os serviços remanescentes, selecionando a Constran para as obras civis. Já a parte que inclui os trens e sistemas para que o monotrilho funcione teve o certame realizado em outubro com a participação das chinesas BYD e CRRC e do consórcio Signalling, um grupo que reunia a TTrans, conhecida por se associar a outros fabricantes em projetos em São Paulo, a Bom Sinal, fabricante de VLTs, e a Molinari, uma empresa suíça especializada em sistemas.

Estrutura dos vagões da Scomi: Signalling pretendia utilizar espólio da empresa malaia, que faliu (Reprodução)

O Signalling acabou fazendo a oferta mais barata, com diferença pequena para a BYD. No entanto, não estava claro o que o grupo pretendia oferecer como solução ao Metrô já que nenhuma das três empresas jamais fabricou um monotrilho ou um sistema proprietário. Quando os detalhes da proposta foram publicados pelo Metrô, descobriu-se que a TTrans, atual dona da Bom Sinal, havia feito algum tipo de acordo com a Scomi, fornecedora original do monotrilho da Linha 17 e que faliu, para assumir o espólio do projeto.

Mais tarde, o presidente do grupo, Sidnei Piva, afirmou em entrevista que seu consórcio era o único capaz de entregar os trens antes do prazo porque boa parte do trabalho já havia sido feita. O executivo, inclusive, reconhecia certa ansiedade em ver o resultado ser confirmado – já na época havia um bom atraso no julgamento das propostas. Diante da desconfiança quanto à seriedade da sua proposta, a T´Trans, que lidera o consórcio chegou a divulgar um texto e uma apresentação técnica no meio especializado em que detalhava suas vantagens em relação aos concorrentes.

Já a BYD, empresa que atua no Brasil sobretudo na fabricação de ônibus elétrico e tem como diretor comercial o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, trata-se do segundo projeto de monotrilho vencido por ela – a fabricante também fornecerá os trens do chamado “VLT” de Salvador. Embora tenha entrado no segmento há poucos anos, a empresa chinesa criou um monotrilho, batizado de SkyRail, com visual futurista e para testá-lo na prática, construiu uma linha completa ao lado da sua fábrica, no distrito de Pingshan, em Shenzhen.

Linha de monotrilho da BYD fica na fábrica da empresa na China

Para comprovar sua capacidade, a empresa apresentou a linha ao Metrô em visita ao local. Fotos dessa inspeção fazem parte do material da análise, inclusive.

Mesmo com a publicação do resultado final ainda é possível que haja atrasos caso a Signalling decida entrar com algum recurso contra o resultado. A novela possivelmente não acabou ainda.

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11 comments
  1. Boa sorte à BYD, que deve mesmo fornecer os trens pois trata-se de projeto de dificílima execução. Se a Scomi pediu pra sair e nenhuma empresa sólida se dispôs a assumir o legado do projeto, é porque será um grande desafio entregar essa geringonça com qualidade. Boa sorte aos paulistanos também, que estão bancando essa obra interminável e incerta. Lembrando que o fura-fila assassinou reputações por muito menos.

    1. SCOMI nao pediu para sair do contrato, mas pediu FALENCIA e nao entregou nada do que prometeu ! SCOMI mentiu um montao durante o contrato e os trens que ela dizia ter quase prontos, nunca existiram, ou estavam em estagio inicial de produçao segundo fotos recem reveladas ! total falta de respeito e carater dos gestores da, agora falida, SCOMI !!

  2. Pois é. Desde o início tinha muita coisa não muito clara sobre essa oferta que fora feita. Acho que se essa oferta fosse apresentada lá na primeira licitação, talvez o Metrô aceitasse, mas agora eles não tem espaço para erro, pois virou um símbolo de vergonha essa obra. Preferiram ir na documentação de quem estava com tudo mais certo ao invés de arriscar no incerto.

    Olhando a questão a partir de outro ângulo, o político, vejo também que a Vitória da BYD pode ser algo interessante para tentar fazer algo no qual o Doria já estava trabalhando: trazer outra fábrica da BYD agora para ser instalada em São Bernardo do Campo, no lugar da antiga fábrica da Ford. Levando em consideração que a empresa ainda fará o Monotrilho de Salvador, isso pode ajudar ainda mais nessa ideia de instalação da fábrica e nacionalização dessa produção.

  3. É necessário haver expressos não apenas aqui em SP, mas no pais inteiro! O Brasil atual já tem mais de 200 milhões de habitantes. E os gastos com manutenção das estradas, são assustadores.

  4. Acredito que a BYD tenha mais experiência na área ferroviária. E como os asiáticos surpreendem na tecnologia e compromisso talvez, o projeto monotrilho da zona sul, seja definitivamente entregue a população!

  5. Uma pena o consorcio de empresas nacionais mais estrangeiras nao ter deixado claro a sua proposta e o que pretendia fazer ! tambem nao ficou claro desde o inicio a capacidade financeira do consorcio e nem como seria bancado o dinheiro necessario para tocar todo o conjunto da obra !
    So esclarecendo outro comentario aqui, a SCOMI nao pediu para sair deste contrato, simplesmente pediu FALENCIA e foi se embora sem entregar nada ! ainda por cima mentiu um monte dizendo que teria trem pronto para entrega e logo !

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