O Metrô de São Paulo publicou no Diário Oficial desta terça-feira, 12, uma segunda licitação para o projeto da Linha 20-Rosa, que deverá interligar o ABC Paulista com a região da Água Branca, na Zona Norte da capital. Trata-se do serviço de sondagem, investigações geotécnicas e mapeamento e cadastramento de redes de utilidades públicas e que servirá de subsídio para o projeto funcional e anteprojeto de engenharia do ramal, em fase final de contratação.
Para não se limitar a apenas reproduzir texto oficial, o site analisou os documentos da licitação para explicar afinal do que se trata esse segundo certame e qual seu peso de fato no andamento do projeto da Linha 20. A primeira constatação é que o serviço de sondagem não é um “novo passo” para concretizar o ramal e sim parte da primeira fase do processo. A razão é que o projeto funcional depende desse levantamento, ou seja, a segunda licitação está intrinsicamente ligada à primeira.
A segunda constatação é que o novo edital reforça o horizonte distante desse projeto, a despeito do esforço da gestão Doria em fazer parecer que a Linha 20 é algo palpável. A entrega das propostas está marcada para 29 de setembro apenas, o que faz crer que o vencedor da concorrência só deverá assinar contrato em meados do quatro trimestre. Como o contrato tem vigência de 12 meses e prazo de entrega dos serviços de 8 meses, a empresa que fará o projeto funcional só terá o estudo no segundo semestre do ano que vem.
De fato, a primeira licitação tem um prazo bastante longo, de 32 meses, o que deve levar a conclusão do serviço para o primeiro semestre de 2023 se não houve nenhum tipo de recurso de concorrentes derrotados. Como mostrou o site em julho, o consórcio GPO-GEOCOMPANY-GEOTEC, formado pelas empresas GPO Sistran Engenharia, Geocompany Tecnologia Engenharia e Meio Ambiente e GEOTEC Consultoria Ambiental, propôs um custo de R$ 5.315.227,80 e foi indicada como vencedora do certame pelo Metrô.
O grupo apresentou os documentos para habilitação no final de julho, mas até esta quarta-feira, 13, o Metrô não havia ainda comunicado se o consórcio atendeu aos requisitos. Caso isso ocorra, então será preparada a assinatura do contrato, quando então pode-se afirmar que a contagem regressiva para a Linha 20-Rosa começará a valer de fato.

Projeto complexo
Este site tem insistido em desmistificar as promessas de que a Linha 20 é uma realidade. Embora seja um projeto que entrou no radar do Metrô há bastante tempo, até aqui pouca coisa evoluiu. O traçado, por exemplo, já passou por várias modificações por conta das mudanças apontadas pela pesquisa Origem Destino. Também previa priorizar o trecho dentro da capital paulista e que tem maior potencial de redistribuir e equilibrar a demanda de usuários, mas o governo atual optou por incluir o segundo trecho depois de cancelar a Linha 18-Bronze.
Com o projeto funcional e as sondagens, será possível entender a viabilidade do traçado e identificar possíveis riscos e dificuldades pelo trajeto. Estações, poços de ventilação e pátios de manutenção e estacionamentos terão seus locais apontados, embora isso só seja ratificado posteriormente pelo projeto básico.
Com um trajeto perimetral, a Linha 20-Rosa tem um enorme potencial de tornar a malha metroferroviária mais eficiente. Isso porque interligará ao menos 10 linhas do Metrô e CPTM, criando novos “nós” na rede, ou seja, pontos de conexão que ampliam as possibilidades de percursos. No entanto, sua inserção é complexa por incluir regiões bastante diversas, seja a divisa de São Paulo com São Bernardo, com habitações populares e indústrias, seja por atravessar o eixo da avenida Faria Lima, de metro quadrado caríssimo, ou ainda por precisar vencer as elevações da Lapa para então chegar à estação Santa Marina, onde se conectará à Linha 6-Laranja.

Por ser um ramal destacado da rede (de funcionamento indendendente), a Linha 20 terá de contemplar um pátio na sua primeira fase e isso é um dos pontos mais importantes do projeto. É preciso encontrar uma ou mais áreas disponíveis para acomodar essa estrutura de manutenção. Se ele ficar na região da Lapa, por exemplo, o ramal certamente começaria por ali, ou pelo ABC caso o Metrô aponte que o pátio poderá ser instalado ao sul.
O governo Doria promete conceder a Linha 20-Rosa à iniciativa privada em modelagem inédita. Segundo Alexandre Baldy, atualmente secretário de Transportes Metropolitanos licenciado do cargo, essa concessão terá um formato mais agressivo, que facilitará desapropriações, por exemplo. A expectativa é que a gestão expanda as possibilidades de exploração comercial da linha, envolvendo a implantação de negócios associados às estações como forma de gerar mais receitas e assim reduzir a contrapartida pública.
O peso da Linha 20 nos planos de Doria são tão grandes que o governo admite que pode colocar a Linha 19 na “geladeira” enquanto chega à uma modelagem final. Vale dizer que o ramal de metrô de Guarulhos está numa etapa bem mais avançada que a linha Rosa.
Resta saber se o próximo(a) governador(a) dará sequência aos planos da Linha 20 já que é pouco provável que a licitação de concessão do ramal ocorra nesta gestão.