Seis meses e uma pandemia global fizeram o governo Doria rever de forma significativa o escopo de projetos previsto para a concessão das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da CPTM. Se na primeira versão do edital, apresentada em consulta pública no primeiro semestre, a gestão atual planejava repassar grandes investimentos nos dois ramais que incluíam novas estações, sistemas e até passarelas em algumas paradas, a versão final acabou mais enxuta.
Nem por isso a previsão de custos caiu. Nos cálculos do governo, a futura concessionária que vencer o leilão do dia 2 de março deverá investir cerca de R$ 3,2 bilhões, R$ 600 milhões a mais do que o previsto anteriormente. O maior aumento de custos envolve a nova frota de trens, que foi ampliada de 30 para 34 unidades, mas cujo custo unitário saltou de R$ 40 milhões para R$ 51 milhões. Por conta disso, apenas o gasto com material rodante deve consumir mais da metade do investimento previsto.
Em relação à última encomenda de novos trens da CPTM, o valor estimado para uma unidade na concessão é cerca de 28% mais alto que os R$ 40 milhões pagos para o consórcio Temoinsa-Sifang em contrato assinado em 2017. Por se tratar de uma encomenda bem maior (34 unidades contra oito da Série 2500), a tendência é que o custo de projeto e produção seja diluído e portanto mais baixo. Porém, a alta do dólar pode ter influenciado a previsão atual.

Sem nova estação
No plano anterior, o governo previa reformar 30 estações, ampliar outras seis e construir duas paradas, Ambuitá e a unificação de Lapa. Na documentação final Lapa foi retirada e deverá constar da concessão do Trem Intercidades em conjunto com a Linha 7-Rubi. Caberá à concessionária realizar apenas melhorias pontuais na estação da Linha 8-Diamante.
A concessão também deveria arcar com passarelas que transporiam o Rio Pinheiros, uma delas na estação CEASA e a outra em Jurubatuba (ambas da Linha 9), porém, esses projetos foram retirados do edital, assim como um viaduto que eliminaria a passagem de nível ao lado da Favela do Moinho, no Bom Retiro – agora ela será reformada a cargo da concessionária.
Outro trabalho antes previsto para a concessão era a implantação das vias e rede aérea da estação João Dias, mas nesse caso, a construção está adiantada e certamente ficará pronta antes que a futura operadora privada assuma a Linha 9.
Já a parte de sistemas será bancada pela concessão, mas o serviço continuará a cargo da CPTM que tem contratos em execução. No entanto, o sistema de sinalização CBTC, que deveria ser implantado na Linha 8, será opcional para a concessionária. Em vez disso, os trens continuarão utilizando o sistema ATC, que não permite intervalos tão baixos.

As modificações no edital ocorreram após o governo do estado receber centenas de sugestões e críticas, entre elas algumas colhidas de possíveis interessados em participar do leilão. Em reunião em julho, parte das 30 empresas que participaram da sondagem com o mercado demonstrou preocupação com prazos apertados e volume de investimentos.
Algumas concessões foram feitas pela gestão Doria, como ampliar o prazo para entrega do primeiro trem, de 15 para 18 meses após a assinatura do contrato, e reduzir os investimentos. Outras, como um período de ao menos 120 dias para análise do edital, acabaram sendo negadas. Lançada na semana passada, a licitação terá apenas 90 dias para os potenciais participantes prepararem suas propostas para entrega no dia 2 de março.
Com colaboração do SP Sobre Trilhos.