Estudo do TIC mostra cenário diferente para a expansão da malha sobre trilhos em SP

Projeção de estação da Linha 6: cenários diferentes em estudo do TIC (Fernandes Arquitetos)

Se há algo quase tão difícil quanto acertar os números da loteria é saber exatamente quando uma obra do Metrô ou da CPTM ficará pronta. Geralmente as previsões mais certeiras são feitas semanas antes da inauguração e ainda assim corre-se o risco de errar.

Nem por isso nossos governantes deixam de prometer e fazer previsões, muitas delas com metas influenciadas pelo calendário eleitoral. O ex-governador Geraldo Alckmin, por exemplo, se superou ao inaugurar estações das linhas 4, 5, 13 e 15 em 2018, pouco antes de deixar o cargo para concorrer às eleições presidenciais daquele ano.

Seu sucessor, João Doria, também não fica muito atrás nesse quesito: algumas obras hoje em curso obedecem ao prazo de dezembro de 2022, ou seja, o final de seu mandato. A estação Varginha da Linha 9 e a Linha 17-Ouro, a despeito de terem muito ainda a fazer, estão nesse calendário.

Vez ou outra, no entanto, informações conflitantes com promessas surgem por vias não tão conhecidas. Foi o que ocorreu na semana passada quando a CPTM disponibilizou inúmeros documentos relacionados com a concessão do Trem Intercidades Eixo Norte, que inclui o serviço Intermetropolitano e a Linha 7-Rubi.

Estação Varginha da Linha 9 em agosto de 2021 (iTechdrones)

Pois entre tantos arquivos está um relatório de demanda produzido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que participa da concepção e modelagem do projeto. Trata-se de um estudo aprofundado e necessário para prever a atual demanda que os três serviços terão durante os 30 anos de concessão.

Com isso, possíveis interessados poderão realizar avaliações e projeções a fim de desenharem sua potenciais propostas à licitação. Por conta disso, é vital que os dados ali sejam fidedignos. Não há espaço para invencionices ou palavras de efeito, ou seja, apenas fatos e informações confirmadas.

Em meio às 264 páginas do documento, no entanto, existe um quadro bastante interessante. Chamado de “Evolução da Rede Ferroviária – Metrô e CPTM“, ele traz um panorama sobre a expansão da malha metroferroviária até 2035.

RamalHojeCenário 2025Cenário 2030Cenário 2035O que diz o governo
Linha 2-VerdeVila Madalena-Vila PrudenteVila Madalena-Vila PrudenteCerro Corá-PenhaCerro Corá-DutraTrecho até Vila Formosa em 2025 e Penha até 2026. Dutra em 2028
Linha 4-AmarelaSP Morumbi-LuzVila Sônia-LuzTaboão da Serra-LuzTaboão da Serra-LuzNão faz previsão, mas acertou estudos com a ViaQuatro
Linha 5-LilásCapão Redondo-Chácara KlabinCapão Redondo-Chácara KlabinJardim Ângela-IpirangaJardim Ângela-IpirangaFoi assinado um aditivo com a ViaMobilidade com prazo para estudos de 2 anos
Linha 6-Laranjaem construçãoBrasilândia-São JoaquimBandeirantes-São JoaquimBandeirantes-Jardim BrasíliaA previsão do primeiro trecho bate com o discurso. Outras extensões não são citadas
Linha 9-EsmeraldaOsasco-Mendes-Vila NatalOsasco-VarginhaOsasco-VarginhaOsasco-VarginhaVarginha é prometida para 2022
Linha 11-CoralLuz-EstudantesBarra Funda-EstudantesBarra Funda-EstudantesBarra Funda-EstudantesExtensão até Barra Funda prevista para 2024
Linha 13-JadeEng. Goulart-Aeroporto GuarulhosBrás-Aeroporto GuarulhosBrás-BonsucessoTiquatira-BonsucessoCronograma de obras prevê Linha 13 em Barra Funda em 2024
Linha 15-PrataVila Prudente-São MateusIpiranga-Jacu PêssegoIpiranga-Jacu PêssegoIpiranga-Hosp. Cidade TiradentesChegada em Jacu Pêssego e Ipiranga até 2024
Linha 17-Ouroem construçãoJabaquara-Congonhas-MorumbiJabaquara-Congonhas-MorumbiJabaquara-Congonhas-MorumbiGoverno só assume inauguração da primeira fase em 2022
Linha 19-Celesteem projeto Anhangabaú-Bosque MaiaAnhangabaú-Bosque MaiaNão há previsão oficial
Linha 20-Rosaem projeto Lapa-São JudasLapa-Prefeito SaladinoNão existe um horizonte por enquanto. Estudo indica estação Santo André como terminal

A intenção é justamente mostrar a influência dessa rede sobre trilhos na demanda do TIC, TIM e Linha 7. Os dados, como informa o documento, foram fornecidos pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos.

A tabela, entretanto, não diz claramente quando foi concebida já que traz alguns dados incompatíveis com a realidade. Isso porque algumas estações citadas como prontas em 2020 ainda estão em construção como Jardim Colonial, da Linha 15.

Mas há previsões que destoam dos prazos públicos como a ausência da extensão da Linha 2-Verde em 2025. A tabela só mostra o ramal chegando à Penha entre 2026 e 2030. Já Dutra aparece apenas na próxima década – o secretário da STM, Alexandre Baldy, citou 2028 dias atrás.

Linha 6-Laranja na Zona Leste

O relatório aponta que a Linha 6-Laranja, hoje de responsabilidade da Acciona, chegará à estação Bandeirantes até 2030, o que é uma possibilidade prevista em contrato. Mas também cita a extensão até Jardim Brasília, na Zona Leste, e que fazia parte de um projeto do Metrô, sem previsão contratual.

Ainda na gestão anterior, essa proposta havia sido deixada de lado, trocada pela Linha 16-Violeta. Tempos atrás, no entanto, o trecho leste da Linha 6 voltou a ser cogitado em documentos. Como a atual gestão tem preferência por assinar aditivos com concessionárias em troca de obras, é bem possível que isso tenha influenciado a previsão.

Nesse sentido, a Linha 4-Amarela aparece com fim em Taboão da Serra enquanto a Linha 5-Lilás iria de Jardim Ângela a Ipiranga, ambas até 2030. Esses projetos estão de fato ao alcance da ViaQuatro e ViaMobilidade.

Os cenários compartilhados pelo governo no projeto do Trem Intercidades

Linha 20-Rosa pronta até 2035

As informações que constam a respeito da Linha 13-Jade, da CPTM, causam confusão. Nela fala-se em chegar à Brás até 2025. No entanto, o projeto de expansão em direção ao centro prevê levá-la até Barra Funda e em 2024.

Na outra ponta, a chegada em Bonsucesso, após o Aeroporto de Guarulhos, se dará ainda nesta década enquanto a estação Tiquatira, vital para conectá-la futuramente à Linha 2-Verde, só aparece no cenário pós-2030.

A Linha 19-Celeste, que ligará o centro da capital a Guarulhos, é mostrada como um projeto concluído até 2030. Cinco anos depois, ela aparece do mesmo jeito, ou seja, o trecho até a Zona Sul de São Paulo é considerado ali como não prioritário nos planos.

Já a Linha 20-Rosa, cujo projeto está sendo estudado como uma concessão sem precedentes no setor, é considerada como operacional até 2030, uma previsão bastante otimista. A chegada ao ABC se daria até 2035, mas com estação terminal em Prefeito Saladino, ideia que já foi substituída por um traçado até a estação Santo André.

Linha 6-Laranja a caminho da Zona Leste? (iTechdrones)

Monotrilho em Cidade Tiradentes levará tempo

A projeção da Linha 15-Prata soa viável até 2025: ela conta com a chegada à Ipiranga numa ponta e Jacu Pêssego na outra. Os projetos de expansão estão dentro desse cronograma caso não hajam atrasos nas licitações.

Já a esperada ampliação até Hospital Cidade Tiradentes é algo só cogitado após 2030, algo frustrante para milhares de potenciais usuários.

O outro monotrilho, da Linha 17-Ouro, deixa no ar a dúvida sobre se será de fato concluído em sua etapa prioritária. O relatório conta com ele em 2025, três anos após a prometida inauguração pelo governo. Mesmo com os atrasos existentes, é bastante crível que o ramal estará funcionando dentro de quatro anos.

Mas a previsão de 2025 traz um cenário surpreendente, a entrega da fase 2 até Jabaquara. O trecho, que passa por um região de córrego, precisará desalojar centenas de famílias, que terão de ser acomodadas em unidades habitacionais antes que as obras ocorram. Parece otimista pensar que a situação ali se resolva até lá.

Projeto da futura estação Ipiranga da Linha 15-Prata (GPO/Sistran)

Ao sabor dos ventos eleitorais

A despeito de ser um documento oficial, que serve para consultas importantes, a tabela não pode ser levada ao pé da letra. A razão é simples: projetos metroferroviários evoluem a cada dia, seja por influência de mudanças comportamentais da população, seja por fatores econômicos ou, sobretudo, políticos.

Como se sabe, a cada mudança de mandato no governo estadual, projetos são alterados, cancelados (vide a Linha 18) e lançados, dependendo da visão do eleito. Alguns empreendimentos sobrevivem porque já atingiram etapas em que não é possível voltar atrás.

Portanto, quando vemos previsões é melhor ficar com os dois pés atrás.

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