Metrô de SP será empresa de engenharia e consultoria, diz presidente da companhia

Julio Castiglioni condicionou mudança do foco à confirmação da concessão das suas quatro linhas. Governo, no entanto, repassou estudos da Linha 16 à empresa privada
Trem do Metrô (Jean Carlos)
Trem do Metrô (Jean Carlos)

Julio Castiglioni assumiu o cargo de presidente do Metrô de São Paulo em abril de 2023 com uma dura missão: fazer a empresa voltar a operar no azul após anos de prejuízos anuais bilionários.

Segundo dados preliminares, a companhia que opera quatro das linhas metroviárias da cidade conseguiu sair de um Ebtida negativo para positivo no ano passado.

Na prática, isso significa que a operação da empresa foi lucrativa antes de serem considerados juros, impostos, depreciação e amortização – nesse caso, o resultado deverá ser negativo já que até o terceiro trimestre havia um prejuízo de R$ 735 milhões.

No entanto, o ex-presidente da Codesa (Vports), do Espírito Santo, que foi trazido pelo governador Tarcísio de Freitas, vive em meio a um dilema: como cortar custos enquanto o futuro do Metrô é colocado em dúvida?

Presidente do Metrô, Júlio Castiglioni (Jean Carlos)
Presidente do Metrô, Júlio Castiglioni (Jean Carlos)

Desde que assumiu o cargo, o atual governador fala em conceder as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata à iniciativa privada.

Em recente declaração, o vice-governador, Felício Ramuth, confirmou que esse plano não será possível neste mandato, mas que o projeto está sendo preparado para sair do papel nos próximos anos, em concessões casadas com novos ramais.

Castiglioni, porém, colocou a concessão como uma hipótese, em entrevista ao Valor Econômico. Segundo declaração dada ao jornal, caso as quatro linhas sejam concedidas, “o Metrô será uma empresa de engenharia e consultoria em estratégia de mobilidade urbana”.

Estudos da Linha 16 terceirizados

A previsão, entretanto, se choca com a realidade. Em janeiro, a Secretaria de Parcerias em Investimentos (SPI), que é responsável pela viabilização de novas concessões no governo, contratou a Acciona para levar adiante estudos mais aprofundados sobre a Linha 16-Violeta.

O ramal foi idealizado pelo time do Metrô no final da década passada, porém, em agosto de 2024, a construtora espanhola apresentou uma manifestação de interesse pelo projeto.

Traçado da Linha 16-Violeta sugerido pela Acciona (Jean Carlos)
Traçado da Linha 16-Violeta sugerido pela Acciona (Jean Carlos)

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Antes disso, o próprio Metrô havia postergado a licitação de projeto da Linha 16, que no fim se mostraria inócua diante do interesse da Acciona.

Única empresa a se apresentar para o convite do governo do estado para estudar o ramal, a Acciona receberá pouco mais de R$ 42 milhões pelo serviço, que foi iniciado antes mesmo da aprovação pela SPI – sondagens de solo dos prováveis locais das estações já eram realizados desde meados do ano passado.

O desembolso do valor gerou críticas da AEMESP, a associação de engenheiros e arquitetos de metrô. A entidade alegou que o Metrô de São Paulo tem expertise e equipes para realizar esse serviço sem que fosse necessário pagar a terceiros por ele.

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Linha 15-Prata (iTechdrones)

Vale observar que sondagens do subsolo, que representam grande parte do valor dos estudo, também teriam de ser contratadas pela companhia de estado e gerariam custo.

O cenário, portanto, segue nebuloso. O Metrô paulista é o mais experiente e capaz no continente e tem norteado quase todo o desenvolvimento da malha sobre trilhos na região.

Resta saber se esse ativo será de fato valorizado no futuro.

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  1. É sempre necessário reforçar que o déficit do Metrô é causado pela maneira desigual de como é feita a distribuição das receitas auferidas na operação. É o Governo que ativamente provoca o deficit do Metrô, ou seja, esse cidadão indicado pelo governador apenas faz jogo de cena ao dizer que precisa cortar custos.

    1. não vejo a necessidade de uma empresa de engenharia, pelo contrario, isso vai gerar um custo de bilhões sem um pingo de serventia, a milhares de empresas que podem muito bem cumprir esse papel, todos os projetos foram tocados por exemplo pela CCR, OAS, Bombardier ou Alstom, sem a necessidade de chupins, manter qualquer resquício do METRO é andar de braços dados ao pior e mais podre tipo de CORRUPÇÃO desse planeta, esse projeto de METRO Engenharia tem que ser enterrado juntamente com os fanáticos de colarinho branco que vendem o peixe achando que não fazem parte da mesma sujeira

  2. Não vejo como incoerente o governo permitir o projeto da linha 16 por uma empresa interessada no projeto. Ela só está acelerando o processo pois lá na frente a linha já estará concedida e o metro poderá focar nos novos projetos. São muitos projetos e dividir a responsabilidade é sensato. SP urge por melhorias na mobilidade.
    Todo mundo reclama da CCR, mas quando aparece outra empresa com vontade de trabalhar a galera também reclama…

    1. Se for assim, que o governo pare de privatizar o Metrô e deixe ele seguir seus projetos, e as demais empresas que construam seus próprios projetos… Que as “demais empresas” disputem mercado com o Metrô Estatal, que tal isso Ivo ?? Você quer que o Metrô dispute com as demais empresas, mas como ele vai fazer isso se o Governo está tentando acabar com o Metrô ??

      1. O metrô quer ser uma empresa de engenharia consultiva mas não quer disputar mercado de projetos de transporte com as demais, quer reserva de mercado. Isso é inadmissível.

        E nenhuma linha do metrô foi privatizada até hoje, cuidado para não confundir concessão (onde o estado tem a palavra final sobre tudo) e privatização (algo que não no transporte público do Brasil).

  3. Pra mim faz muito sentido deixar empresas privadas estudarem suas próprias futuras linhas e o Metrô cuidar de apenas ficar em cima, observando, para que não haja corrupção ou desvio de verbas e principalmente, que seja feita uma engenharia de qualidade e segura.

    É uma forma de economia de dinheiro.

    “Mas se o Metrô não vai projetar, qual a função dele?”

    E quem disse que o Metrô deixará de projetar? Casos como o da Linha 16 serão exceções. Uma vez que as linhas 16; 19 e 20 estejam prontas, sobrarão bem poucos espaços para novas linhas de grande impacto na mobilidade, pois a zona central de São Paulo estará sem local (ou mesmo
    necessidade) para novas expansões.

    É aí que o Metrô entra, pois nenhuma empresa privada vai querer projetar as linhas perimetrais da Grande São Paulo. Basta ver que transformaram uma linha de monotrilho (18) em BRT ou uma linha de trem pesado (14) em VLT.

    Não podemos aceitar isso.

    Enquanto o centro da cidade já está no seu ápice (ou próximo) de opções de linha ( 1/2/3/4/6/7/8/10/11/12/19), o meio e o extremos ainda precisarão de muito transporte sobre trilhos e o Metrô deve assumir essa responsabilidade de projetar essas linhas do jeito que elas precisam ser, não do jeito mais barato ou populista, como tem sido.

    E a CPTM infelizmente já era, é melhor o Metrô absorver ela e colocar os projetos deles debaixo da mesma asa.

  4. o Tarcísio está entregando o patrimônio público para os financiadores de sua campanha política. Cortou investimentos no Metrô para prejudicar a empresa, com a privatização ocorre o aumento da tarifa, a precarização da mão de obra.

  5. um comentário pior que o outro.

    tanto CPTM quanto metrô, se for colocado em prática o plano de Tarcísio, vai ser uma mera gestora de contratos para manter um pequeno grupo de funcionários de alto escalão e indicados pelo governo.

    o que faz o metrô e a CPTM ser diferenciada e funcionar são os funcionários da base. mas esse know-how será perdido com as concessoes. Tarcísio e sua trupe do mercado financeiro não fazem a menor ideia de como funciona. há setores que são estratégicos e necessitam de mão de obra especializada, mas quem se importa com isso?

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