
Era uma frase repetida várias vezes por Geraldo Alckmin: “Será a primeira vez que o Metrô sai da capital”, prometeu o governador do estado em várias ocasiões, mas até agora esse objetivo está longe de virar realidade. E pior: com a grave crise financeira pela qual passa o país, os planos para que o metrô de São Paulo atinja alguma cidade da região metropolitana parecem ameaçados a médio prazo.
Se as linhas da CPTM atingem diversas cidades da Grande São Paulo e até fora dela (como Jundiaí), o Metrô mal beira a divisa da capital. A Linha 1 está próxima de Diadema assim como as estações Tamanduateí e Sacomã da Linha 2 ficam localizadas não muitos distantes de São Caetano do Sul e São Bernardo do Campo, mas para utilizá-las os passageiros precisam atingi-la por outros meios de transporte.
E não faltam projetos para que Alckmin prometa a extensão do Metrô para fora dos limites da capital paulista. No entanto, nenhum deles têm chance de virar realidade nos próximos anos e sobretudo em sua gestão que se encerra em 2018. Confira a seguir as linhas que poderão ter estações em outras cidades e quais as chances atuais de tornarem-se realidade:
Linha 2-Verde em Guarulhos – Chance de virar realidade: razoável
A extensão da Linha 2 está licitada, porém, suspensa por falta de recursos. Ela deverá prolongar o ramal em mais 14 km e transformá-lo na maior linha do metrô paulista. O projeto prevê seguir após Vila Prudente, percorrendo parte da Zona Leste e cruzando os limites de Guarulhos, onde terminará onde hoje existe o Shopping Internacional, às margens da Via Dutra. Por ser uma obra complexa e nos moldes da extensão da Linha 5-Lilás, não há como vê-la sair do papel em menos de cinco anos. E há o risco de atual licitação ser cancelada devido ao prazo de prorrogação ter extrapolado os limites legais.
Linha 4-Amarela em Taboão da Serra – Chance de virar realidade: razoável
A extensão da Linha 4 até o município de Taboão da Serra é promessa antiga da gestão Alckmin. Em 2012, logo no início do atual mandato, o governador prometeu a entrega da terceira fase da linha para este ano. Como se sabe, nem a maior parte das estações da segunda fase foi concluída e o sonho de chegar a Taboão certamente ficou para a próxima década. Já foram contratados projetos para isso, porém, nada deve acontecer enquanto a atual fase está em obras, com previsão de conclusão em 2020.
Linha 17-Ouro em Diadema – Chance de virar realidade: pequena
Ainda quando era uma obra “vitrine” da gestão, a Linha 17 foi cogitada além da parada final no Jabaquara. A ideia era levá-la até o Parque do Estado e, de lá, até Diadema. No início de 2014, o governador já dava o trecho como certo: “nova licitação deve ser lançada da linha 17. Demos ordem para que seja feito o projeto básico e funcional”, confirmou Alckmin ao jornal Diário Regional. Quase três anos depois, não só esse projeto não saiu do papel, como a linha teve duas fases suspensas por falta de recursos. Com os problemas acumulados nos últimos meses, parece pouco provável que o monotrilho seja prolongado.
Linha 18-Bronze no ABC Paulista – Chance de virar realidade: grande
Apesar de sofrer com vários problemas desde o início, a PPP da Linha 18-Bronze talvez seja a que mais tem chances de tirar o Metrô de São Paulo da capital. A obra está atrasada, mas por conta da falta de recursos para desapropriações, que são de responsabilidade do governo. O dinheiro viria do PAC ainda no gestão de Dilma Rousseff, mas nenhum centavo foi repassado. Quando o governo do estado notou que não haveria ajuda da União, pediu autorização para um empréstimo no exterior. Desta vez, o governo federal bloqueou o pedido, alegando falta de capacidade de pagamento. A situação tende a ser contornada pela gestão Temer, interessada em destravar investimentos. Se isso de fato ocorrer, a Linha 18 poderá sair do papel e, espera-se, com rapidez já que o consórcio VEM ABC parece não ter problemas de financiamento como ocorreu com o Move São Paulo na Linha 6.

Linha 19-Celeste em Guarulhos – Chance de virar realidade: muito pequena
No início de 2015, a Linha 19 era a mais cotada para ser a próxima a ser licitada. O então novo secretário de Transporte Metropolitanos Clodoaldo Pelissioni declarou em janeiro daquele ano que havia recebido uma MIP (Manifestação de Interesse Privado) de um grupo empresarial e que o projeto funcional da linha, que ligará Guarulhos a região do Brooklin, na Zona Sul de São Paulo, seria autorizado. Será uma linha mais direta até a capital, ao contrário da Linha 2, que contornará vários bairros, mas desde então o projeto ficou esquecido e tem pouquíssimas chances de virar realidade nos próximos anos.
Linha 20-Rosa em São Bernado do Campo – Chance de virar realidade: muito pequena
Outra linha que chegou a ser considerada como muito perto de ser licitada, a Linha 20-Rosa terá um papel vital na distribuição de várias da linhas do metrô. A primeira fase ligará a região da Lapa a Moema, passando por vários locais de atração de emprego, mas é a segunda fase que poderá criar uma conexão rápida e efetiva com o ABC Paulista, até mais que o monotrilho da Linha Bronze. Partindo de São Judas, na Linha 1, a segunda fase cruzaria a região da Avenida Cursino, passando pelo bairro do Taboão e terminando em Rudge Ramos, em São Bernardo, onde se conectará à Linha 18. No entanto, como nem a primeira fase está garantida diante do alto custo de desapropriação, a segunda é praticamente um exercício de imaginação. Há de se acrescentar que linhas num horizonte tão distante acabam passando por mudanças em seus traçados que muitas vezes alteram quase que completamente sua concepção original.
Linha 22-Bordô em Cotia e Osasco – Chance de virar realidade: pequena
A Linha 22-Bordô, que promete aliviar o movimento de carros na Rodovia Raposo Tavares, já recebeu várias mudanças. Na ideia mais recente conhecida, o ramal pretende partir da região da avenida Faria Lima, onde se conectará à futura Linha 20, passará pela Linha 9 na estação Rebouças, cruzará com a Linha 4-Amarela em São Paulo-Morumbi e, então, seguirá para Cotia, com uma estação localizada em Osasco. Se um dia virar realidade, será a linha com a estação mais distante do centro de São Paulo, mas, como outras linhas, segue no papel sem perspectivas de construção a médio prazo.
Para que São Paulo realmente veja sua malha metroferroviária crescer em ritmo chinês será preciso superar alguns conceitos datados, como o que impede a exploração comercial dos terrenos desapropriados, a forma como hoje é feita a desapropriação, em que o proprietário é a parte mais prejudicada, a concessão das licenças ambientais, a exigência de projetos executivos nas licitações, seguro contra atrasos na execução e garantias financeiras reais que impeçam que construtoras abandonem as obras alegando dificuldades financeiras. Isso sem falar na transparência nas licitações. Não é um caminho fácil, mas obrigatório se queremos ver uma gestão pública realmente séria.