Sem poder ser vitrine eleitoral, Linha 5-Lilás vira problema em vez de solução

Falhas seguidas, obras lentas e falta de transparência dos responsáveis complicam a vida dos usuários enquanto previsão de abertura de Santa Cruz e Chácara Klabin causa desconfiança
Trem da Via Mobilidade: para o Ministério Público, concessionária tem sócios que não poderiam fazer negócios com o governo

Divulgar previsões de inauguração das estações Santa Cruz e Chácara Klabin da Linha 5-Lilás já se tornou um ato desacreditado perante a população. As duas paradas que irão conectar de forma mais eficiente a linha à rede metroferroviária – e reduzir o tempo de viagem de milhares de pessoas sem falar no potencial de equilibrar a demanda – já são prometidas há anos, mas até hoje não se pode afirmar com certeza quando isso irá acontecer.

A mais recente data divulgada pelo governo é que as quatro estações após Moema (AACD-Servidor, Hospital São Paulo, Santa Cruz e Chácara Klabin) serão abertas neste mês, mas o site apurou que a chance de a linha ser ampliada dessa forma é mínima . O mais provável, segundo uma fonte, é que o Metrô libere as duas primeiras (AACD e Hospital SP) no final deste mês para a concessionária Via Mobilidade, que assumiu a operação no último dia 4. Ou seja, a ligação ficaria para setembro na melhor das hipóteses, mas a falta de informações confiáveis faz com que seja difícil acreditar em qualquer coisa.

Enquanto isso, a Linha 5 sofre com um serviço irregular e que culminou com uma semana de falhas quase diárias justamente quando a concessionária esteve à frente da operação e sem o apoio oficial do Metrô.

Um cenário bem diferente do que prevaleceu até abril quando o então governador Geraldo Alckmin pressionava para que as obras fossem entregues e ele pudesse participar das inaugurações – naquele mês ele precisou se afastar do cargo para concorrer à presidência da República em outubro. Num período de pouco mais de seis meses foram abertas cinco estações na Linha 5 levando sua extensão até Moema. Já na gestão de Márcio França, o ritmo frenético cessou e as obras passaram a se arrastar, apesar das promessas de ampliar o ramal em junho, depois julho e agora agosto.

Mapa de estações da Linha 5: de sonho para pesadelo

Cenário ideal em 2019?

Mas, afinal de contas, o que acontece com a Linha Lilás? Se depender dos responsáveis nunca saberemos exatamente. Vigora uma espécie de “pacto de silêncio” entre eles, que apenas emitem comunicados genéricos e pouco elucidadores.

A Via Mobilidade, por exemplo, não justificou a razão de tantos problemas nesta semana, apenas citando se tratar de episódios relacionados ao sistema de sinalização CBTC em geral. Em funcionamento desde março do ano passado, o CBTC é fornecido pela Bombardier, empresa também responsável pelas portas de plataforma que não foram instaladas ou não funcionam na linha – com exceção de Adolfo Pinheiro. Ou seja, já são 18 meses em que ela não consegue garantir um funcionamento adequado e constante.

Se a concessionária não entra em detalhes sobre o que acontece, o governo do estado, que responde pela expansão da linha, também não chega a ser muito claro. Geralmente a Secretaria dos Transportes Metropolitanos diz cobrar a Bombardier e que está a multando mas isso não parece motivá-la a acabar com as falhas. A empresa canadense, por sua vez, evita falar em público. Este jornalista chegou a interpelar pessoalmente a presidente da fabricante no Brasil durante a inauguração das estações da Linha 15-Prata, mas ela se negou a falar. O secretário dos Transportes Metropolitanos, Clodoaldo Pelissioni, revelou recentemente que visitou a sede da divisão da empresa nos Estados Unidos para cobrar uma solução para o problema.

As informações que circulam nos bastidores citam que o novo sistema CBTC, embora mais capaz por permitir intervalos menores e uma velocidade média maior nas viagens, sofre com seguidas panes no trecho subterrâneo. O sistema de comunicação, também associado a ele, não funcionaria em algumas regiões do novo trecho. De quebra, a fabricante canadense teria reclamado de precisar de criar versões do software de controle para trechos provisórios como o atual que vai até Eucaliptos mas usando uma manobra complicada que coloca os trens em vias inversas no horário de pico. Todo esse trabalho será desnecessário assim que os trens seguirem até Klabin.

A informação coincide com a resposta mais recente do Metrô, de que o software já estaria pronto para ser usado em todo o trecho da linha: “Os testes necessários para a movimentação dos trens foram finalizados na via” disse a companhia no dia 3 de agosto. Ou seja, o sistema já seria capaz de fazer os trens circularem até Chácara Klabin, futura estação terminal da linha, o que deverá resolver algumas inconsistências verificadas hoje.

Nas mãos da Via Mobilidade desde 4 de agosto, Linha 5 tem falhas seguidas

No entanto, esse cenário de solução parece distante no horizonte. Isso porque a Via Mobilidade declarou ao site que a estação Moema, em operação assistida há quatro meses, só passará a operar comercialmente quando o restante das estações faltantes (com exceção de Campo Belo) estiver nas mesmas condições: “ela passará a operar comercialmente, em horário integral e com cobrança de tarifa, imediatamente após ao período de visita assistida das demais estações da expansão da Linha 5-Lilás – AACD-Servidor, Hospital São Paulo, Santa Cruz e Chácara Klabin”, diz a nota.

Em outras palavras, a Linha 5 só deverá operar de forma plena a partir de Moema em 2019 ou, quem sabe, no final deste ano caso o período de operação assistida do novo trecho seja curto, o que é pouco provável diante dos desafios de lidar com um imenso fluxo de passageiros quando ela chegar à região da Vila Mariana.

Enquanto isso, será preciso ter paciência não só com a demora para concluir sua ampliação como também para esperar que a Via Mobilidade possa corrigir as falhas e pelo menos oferecer um serviço confiável no trecho em operação atualmente.

Veja também: Veja como será a estação Chácara Klabin da Linha 5

Estação Chácara Klabin em obras: quando enfim o trem chegará?

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28 comments
  1. parabéns pela matéria.
    Gosto quando o que é escrito diz a realidade, vai de encontro com o que vemos no dia-a-dia…
    Atrasos, incompetência, corrupção, desgoverno, e sei lá mais o que, todo brasileiro que seja minimamente alfabetizado sabe, ou deveria saber, que é o que se espera – e se vê – dos nossos “políticos”, com suas obras “faraônicas” públicas, muitas das quais inúteis, na minha mais modesta opinião.
    Transporte, como educação, saúde, segurança – deveria ser básico e sacrossanto (sagrado e santo…) no brasil de hoje, e assim deveriam os políticos tratar desses e outros assuntos importantíssimos para o povo. Mas, ao que parece, se a “obra” não servir de vitrine para o político X ou Y se (re)eleger, esses são detalhes…o povo vota em qualquer lixo mesmo.
    Não é revolta. Apenas constatação…e continua a maior cidade do país chamado brasil, com apenas 74 km de metrô…

  2. O site é muito bom, mas meu Deus, que matéria dramática! A ViaMobilidade não tem culpa se as obras são tocadas de forma rastejante, e recebe do Metrô uma linha com falhas que já deveriam ter sido sanadas. Nem a lavagem dos trens o Metrô chegou a fazer para entregá-los à empresa que pagou pela outorga; alguns trens estão pretos de tanta sujeita na parte externa. A forma que foi exposta na matéria dá entender que os problemas foram criados pela empresa nem tem uma semana de operação.

    1. Caro Silva, a Via Mobilidade de fato não tem culpa quanto às obras mas agora ela é responsável pela operação da linha. E mais: ela já acompanha o serviço há meses e certamente está ciente das dificuldades do sistema fornecido pela Bombardier. Só que na hora de esclarecer o que ocorre nos bastidores nem ela, nem o Metrô, STM e Bombardier explicam de fato o problema. É um serviço público que deveria ter transparência.

    2. Para piorar os atrasos, os funcionários responsáveis pela condução dos trens não tem treinamento para atuar nas falhas, diferente dos funcionários do metrô estatal. Caso atuar nas falhas estivesse nas atribuições deles, a concecionaria seria obrigada a pagar adicional de periculosidade o que não é interessante para a empresa privada. Só não espere que essa redução de custo com mão de obra reflita em diminuição da passagem, pq isso não vai acontecer. Se já tem tanta falha agora, imagina quando interligar com a estação chácara klabin e Santa Cruz. Tvz percebam a porcaria que foi essa privatização. Sem contar o problema da corrupção. Uma busca rápida no Google revela quem são as empresas por trás de CCR e via Mobilidade, as mesmíssimas envolvidas na lava jato.

      1. Vou reproduzir uma resposta de um forista do forum SSC:

        A Via Mobilidade tem obrigação contratual de operar e manter a linha, assim que for completamente entregue pelo Metrô-SP.

        Os problemas de sinalização são de responsabilidade da Bombardier e do Metrô-SP, que possuem contrato vigente. Cabem a esses atores a resolução dos problemas, a Via Mobilidade não tem como fazer nada, no máximo cobrar financeiramente o Metrô-SP pelos prejuízos gerados por conta da sinalização implantada de forma deficiente.

        A Via Mobilidade só pode agir diretamente quando a Bombardier concluir seu contrato com o Metrô e entregar o sistema o CBTC. E isso vale para tudo o que está incompleto/contrato vigente (portas de plataforma, bilhetagem, CFTV, etc).

        O contrato de sinalização da Linha 5 foi vencido pela Bombardier e assinado em setembro de 2011, a um custo inicial de R$ 171 milhões e prazo inicial de conclusão em meados de 2015. Estamos em 2018, a sinalização não foi concluída e o Metrô alega ter multado a Bombardier em R$ 12 milhões e ter outros processos de multas que somam R$ 46 milhões.

        Na atualidade, a responsabilidade por esses problemas de sinalização na Linha 5 é da Gerência de Implantação de Sistemas do Metrô-SP, comandada por Roberto Torres Rodrigues.

        E nada muda como um passe de mágica.

        1. Muito bem colocado pelo forista, Renata. Só acho que a Via Mobilidade, como parte interessada, poderia externar os problemas e as promessas do governo e Bombardier para a solução disso. O público só tem acesso a uma posição genérica de que o sistema CBTC não está maduro o suficiente. Por qual razão? Quais as perspectivas de solução? Ninguém quer explicar direito.

  3. Não sou nenhum militante político, estou longe disto. Mas não entendo como pessoas que vivem em SP votam em Geraldo Alkmin… são 24 anos de PSDB em SP, Desde meados do ano passado postergando a entrega da linha Lilás mês a mês… Não houve estudo preliminar do projeto? Não há cronograma? Esta sendo assim também no Rodoanel… Não é possível que o Paulistano tenha perdido a vergonha na cara em votar em PSDB novamente! Qualquer um, menos PSDB!

    1. Porém esses últimos atrasos não relação com o PSDB que alás nem no governo mais está desde abril. A competencia de entregar é do atual governador Márcio França do PSB que se demonstrou incapaz de fazer isso.

    2. Concordo. Fico espantado como o povo de SP vota no Geraldo Alckmim. Que administrador é esse que atrasa tudo? A linha lilás hoje reflete a situação atual do Brasil, um descaso total onde ninguém sabe de nada etc etc…

      Acho muito estranho a mídia não cobrir com a devida atenção que lhe é devida, este caso da linha Lilás.

    3. Nós que votamos PSDB (E não somos poucos) acreditamos que sem ele seria pior.
      SP está em melhor situação que outros estados.

      1. Bolsonaro, 30 anos na vida pública com desempenho pífio, não é velha guarda? Se fôssemos votar em gente nova teríamos apenas o João Amoedo (Boulos, quem sabe, daqui uns anos, quando deixar de ser radical).

      2. Incrível como tem gente que defende o acéfalo do Bolsonaro. O candidato nem sabe que Portugal colonizou vários países da Africa HAHAHA Grande Mito o de Vocês! Enfim… muito cedo para falar da concessão da Linha 5-Lilás. Sabemos que ela só estará plena quanto toda a linha for inaugurada e testada de ponta a ponta.

        1. Votam no PT, PSDB e PMDB então, se gostam das mesmas politicas dessas partidos…..

          Eu voto pela renovação…se não for Bolsonaro, será Marina, será outro.

          É isso ou votar nulo, qual é a solução ?

      3. Bolsoaro é velha guarda blz? Ele defende o estado mínimo mas a Família toda é sustentada pelo Estado, ué!? Quanta contradição! Essas Bolsonetes Fanáticas…

  4. Gostei dos esclarecimentos e constatações do post.
    Vejo ambas as estações, AACD e Hospital São Paulo, praticamente prontas, sem funcionar e já perdi a quantidade de adiamentos, atrasos e desculpas para ativação da Linha Lilás.
    Dá um desânimo imaginar que talvez só em 2019 teremos a linha toda funcionando. Ressalto o “talvez”…

  5. Má gestão, falta de planejamento,organização e competência geram esse tipo de situação.

    Ai junta gestores conservadores e limitados…..

    Fingem que fazem, e eu finjo que voto neles!
    Se o Doria ganhar, o paulista e paulistano estará assinando seu atestado de burrice.
    Temos ai cerca de 10 candidatos ao governo do Estado. Então não é só PT e PSDB.

  6. Somos 03. Também vou votar no Bolsonaro para presidente. Mad nem pensar em João Dória PSDB para governador. Cansei de tudo isso que foi descrito acima . Como diz a matéria falta transparência. Trata-se de concessão pública, portanto as respostas deveriam ser dadas ao site pelas empresas Via Mobilidade e Bombardier. Já que o governo quando responde nunca cumpre prazos.

  7. Ueh, vcs NAO sao os mesmos q na materia anterior sobre os 74 k d metro estavam se gabando e vangloriando sobre a ENORME quantidade d kilometros dos trens e metros d Sao Paulo e depreciando exaustivamente metro em London, Paris, inclusive houve ate um individuo q disse: ” Metro d New York decadente e sujo”, inclusive o redator do site ???? Pessoal parem d dar uma d galvao Bueno e aceitem nossas ENORMES deficiencias. Outra coisa: Parem d utilizar o termo COMPLEXO D VIRALATA, pois esta expressao eh por d + ofensiva aos nossos animais d estimacao.

  8. Ricardo, bom dia.

    Sexta feira dia 10/08 estive em Santa Cruz, e nem o Totem da linha esta instalado, então apenas com milagre divino será aberta em Agosto, duvido muito…
    Fiquei com uma dúvida, na estação Santa Cruz da linha Azul, onde será o acesso a nova estação da Santa Cruz na linha Lilás, não sei se não observei direito, mas não vi nenhum acesso ou algo parecido para a linha Lilás de forma subterrânea, poderia esclarecer.

    Muito obrigado.

    1. O acesso para a linha lilas na estação Santa Cruz ficará na extremidade da estação atual(primeiros vagões sentido Tucuruvi / últimos sentido Jabaquara). Hoje existe uma parede com o informativo “Obras linhas Lilas”.

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