Pesquisa sobre preferência de transporte no ABC mais confunde do que esclarece

Para pesquisa, monotrilho não é “metrô”

Em um momento em que seria necessário esclarecer as opções estudadas pelo governo do estado para a implantação de um sistema de transporte de média capacidade no ABC Paulista, uma pesquisa realizada pelo Instituto ABC Dados com moradores de Santo André trouxe mais confusão ao assunto. O levantamento ouviu 500 pessoas na região que apontaram o “Metrô” como modal preferido com 64% da preferência.

No entanto, a pesquisa misturou “alhos com bugalhos” ao oferecer três opções ao entrevistado, “Metrô”, “BRT” e “Monotrilho”, errando ao desconsiderar este último como um metrô de fato. Afinal, não se diferencia um “metrô” pelo tipo de trilho ou capacidade, fosse assim parte da rede de Paris deveria ser suprimida dos mapas do metrô já que roda com pneus assim como a cidade chinesa de Chongqing, onde não há separação do que é convencional de monotrilho.

Com isso o resultado acabou sendo inconclusivo e suscetível à interpretações contrárias. É o que ocorreu inclusive com as abordagens do Diário do Grande ABC, que considerou a preferência pelo “Metrô” como um indício claro de que a Linha 18-Bronze deve seguir como está, e do Diário do Transporte, que evidenciou a rejeição ao “monotrilho”, com apenas 14% da preferência, atrás do BRT com 20%.

Se ambos estão corretos nas afirmações então há algo de errado com a pesquisa. Obviamente, o público de Santo André quer metrô e não monotrilho ou corredor de ônibus. Até aí é uma constatação natural em relação ao “metrô”, termo que as pessoas associam com trens subterrâneos. Não é a realidade da Linha 18-Bronze, que tem demanda média, projetada entre 340 mil e 400 mil pessoas, aproximadamente, e implantação na superfície.

Falta, no entanto, como dissemos, esclarecimento à população sobre as diferenças de um sistema sobre trilhos de média capacidade e um corredor de ônibus – e que ganhou a alcunha de BRT, sua sigla em inglês. Ao optarem por “metrô” na pesquisa, os habitantes de Santo André também se referem a anseios que o monotrilho contempla como velocidade, regularidade, segurança e integração gratuita com outras linhas do metrô e de trens metropolitanos.

Linha 6 do metrô de Paris: trem passa em trechos elevados, leva 300 mil pessoas por dia e usa pneus (Pline)

“Monotrilho da CPTM”

Ao mesmo tempo é esperado que o termo “monotrilho” tenha baixa aceitação por conta da exposição negativa que sofre há anos graças aos sucessivos atrasos na sua implantação. Mesmo hoje, com a Linha 15-Prata em operação comercial, o ramal ainda está distante de oferecer o prometido. Para completar o quadro, existe também uma rejeição a trechos elevados de trens pela concepção de que eles degradam o entorno. Tanto assim que muitas pessoas até hoje confundem a Linha 13-Jade (CPTM) com um monotrilho quando se trata na verdade de uma linha convencional de trem.

São factóides como esses que acabam dando gás aos defensores do corredor de ônibus no ABC que, além de não ter capacidade para suprir a necessidade da região sem que isso não transforme o entorno num caos, ainda teria de ser lançado da estaca zero.

Sim, o ABC merece um linha de metrô de alta capacidade como a Linha 20-Rosa, prevista para ligar a região à Zona Sul de São Paulo. Em outro cenário em que existisse recursos financeiros, ela teria um impacto muito mais significativo na mobilidade, porém, como diz o ditado “uma andorinha não faz verão”, também uma linha de trem não faz milagres – está aí a Linha 3-Vermelha para corroborar essa tese.

A escolha pelo monotrilho é a mais racional: são anos de estudos e projetos avançados, uma parceria público-privada assinada e um potencial de readequar e valorizar a região por onde passará. Qualquer outra hipótese, até mesmo um eventual metrô pesado, faria o ABC continuar sem novos trilhos por pelo menos uma década, quanto mais ver suas vias cortadas por mais um corredor de ônibus. Essas consequências, infelizmente, não aparecem em pesquisas com a população.

Traçado da Linha 20-Rosa (em destaque): linha subterrânea seria o ideal mas está fora de cogitação (GESP)
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